08 janeiro 2008

Livro de bolso avança no mercado (2)

A segunda maior coleção de livros de bolso, a Leitura, da Paz & Terra, com mais de 50 títulos, tem como best-seller uma obra que paga direitos autorais, "Pedagogia da Autonomia", de Paulo Freire, que já vendeu mais de 500 mil exemplares. É de títulos exclusivos também a nova série "Aplauso", da Imprensa Oficial. Assim, no Brasil, esse formato de livro demorou a emplacar, mas chegou a sua hora. A Companhia das Letras, a exemplo da L&PM Pocket (uma ramificação da L&PM), segue na mesma direção, está investindo em colocar no bolso do leitor uma literatura mais densa – mas, assim mesmo, barata. Obras de autores como Vinicius de Moraes, Drauzio Varella, Friedrich Nietzsche e Carl Sagan (selo Companhia de Bolso) saem por preços que variam entre R$ 14 e R$ 22. O selo é hoje a “nave-mãe da empresa”, com 65% dos lançamentos e seis milhões de exemplares vendidos nos últimos seis anos.

A Sextante reúne clássicos em versões resumidas a preços em torno de R$ 9,90 e tiragem de 12 mil exemplares. A Jorge Zahar aposta que a consolidação desse segmento atrairá novos leitores. E lançou livros de bolso de arte, que custam R$ 19,50. Também nessa linha segue a editora Cosacnaify com a coleção FotoPortátil, que a preços populares democratiza a rica e belíssima produção fotográfica nacional. Outras editoras estão seguindo esse rico filão do mercado. E pensar que tudo isso começou séculos atrás...

Desde os finais do século XVIII até ao século XX foram-se desenvolvendo vários métodos de impressão, tanto de texto como de imagem, como por exemplo: a introdução da prensa mecanizada, a invenção da fotografia que permitiu o desenvolvimento da fotogravura, a litografia e a fotolitografia, a fotocomposição, entre outros. Estas novas tecnologias, necessárias para responder de forma eficaz ao aumento de consumo de material impresso, vão provocar alterações profundas ao nível da produção, distribuição, comercialização e recepção dos livros. Ao possibilitarem a reprodução mais rápida e em grandes quantidades, facilmente as relacionamos com o aparecimento do livro de bolso (“modern paperback”) que, na primeira metade do século XX, revolucionou o mercado literário.

É no século XX, principalmente nos anos 30, que este novo formato se impõe no mercado literário britânico e altera a sua organização econômica, tendo como consequências a separação dos vários agentes do mercado, o aumento das edições e das tiragens, o aumento da dimensão das empresas tipográficas e das editoras, o crescimento do público de leitores, o crescimento da imprensa periódica, do romance e dos textos escolares (três das áreas mais rentáveis do mercado), o desenvolvimento de organismos de auto-regulação num contexto de grande concorrência, entre outras.

O sucesso e a importância econômica que este novo formato conseguiu adquirir é de certa forma curioso se tivermos em consideração a crise generalizada, marcada pela elevada taxa de desemprego, que caracterizou o período entre as duas Grandes Guerras. Esta situação talvez se explique pelo acentuado aumento da alfabetização e pelo surgimento de novas ideologias (comunismo, fascismo, nacional socialismo) que, para se afirmarem, recorreram à propaganda política, facilmente conseguida através da imprensa, onde destacamos o livro de bolso pelo seu custo, portabilidade e leitura mais fáceis. Novamente se comprova a capacidade de conduzir e manipular as massas não só por parte da imprensa como dos outros media no geral; na verdade, estas instituições de comunicação “licenciam” a nossa liberdade de opinião.

Tradicionalmente, os livros de bolso eram livros de literatura popular, também conhecida como literatura de cordel (designação que provém da forma como os livros eram vendidos - estavam pendurados num cordel). A partir dos finais do século XIX, os editores deste novo formato começaram a negociar o copyright de alguns clássicos da literatura ou, mais frequentemente, a editar clássicos que estavam no domínio publico, cuja viabilidade econômica estava garantida, dadas as vendas em grandes quantidades dos exemplares em formato tradicional, e dedicaram-se à sua publicação em “paperback”. Exemplo típico é a publicação de Ulysses, de Joyce pela Penguin. Desta forma, foi aberto às camadas da população com menos possibilidades econômicas um universo literário até então “desconhecido”.

O alargamento do ensino obrigatório para 15 anos em 1947 - integrado no conjunto de medidas levadas a cabo pelo Estado Providência (“Welfare State”) - contribuiu para o desenvolvimento acelerado dos livros de bolso, instrumento de fácil acessibilidade para os estudantes. Assim, o livro de bolso representou uma revolução não só a nível econômico como também a nível social - verifica-se um aumento da circulação do livro dentro de um público cada vez mais diversificado.






Fe licidade
O cartunista Nildão aperfeiçoando cada vez mais o jogo de palavras com imagens, criou uma poética específica. Do belo álbum "Bahia, Odara ou Desce", passando por "Quem não Risca não Petisca", "Ivo viu o òbvio", "ABC Cara de Quê" e muitos outros, ele lança agora, no próximo dia 22 de janeiro, no Rio Vermelho, "Fe licidade". A logomarca da energia do livro está ao lado. Confira e vamos lá conhecer seus novos traços porque ninguém segura Nildão, é bom demais!

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