A literatura além de ser transmissora de informações, cria em cada leitor aquilo que os sentidos o levam a interpretar. Através da leitura podemos vivenciar aquilo que lemos e criar dentro de nós a imagem proposta pelo texto. Tanto pode ser verídica como pode ser ficção. Muitas vezes a literatura nos ajuda a interpretar a realidade. Certos escritores têm o poder de colocar um instrumento para se ver alguns aspectos do real e do simbólico. Quando a situação é estranha, absurda ou labiríntica, por exemplo, pensamos numa realidade kafkiana. Se você revisitar o passado motivado por uma fotografia, palavra ou mesmo perfume, a situação é proustiana. E quando se mistura ficção e realidade a situação é borgeana. Outros exemplos: Quando o patético e o cômico se fundem cruelmente e tipicamente grotesco reconhecemos uma atmosfera rodrigueana. Se a cena é infernal, mórbida e torturante classificamos de dantesca. E se a situação é de angústia e ansiedade é bem típica de Clarice Lispector.
Esses autores, Franz Kafka, Marcel Proust, Jorge Luis Borges, Nelson Rodrigues, Dante, Clarice Lispector e muitos outros inventaram um modo de ver e interpretar a realidade, organizaram o sentido disperso em nossa angústia e ansiedade diante do caos. Mapearam algo novo em nossa mente. Depois que eles viram as coisas daquele jeito passamos a vê-las com facilidade como se sempre tivesse existido.
O termo kafkiano está associado à burocracia estatal, à condenação do indivíduo, à melancolia e a ironia judaica presente no escritor. Tudo isto está reproduzido em detalhes no absurdo mundo criado e vivenciado por Kafka com suas tramas labirínticas e seu estilo único. Já o élan vital da obra proustiana revigora não apenas a memória da sociedade francesa do fin de siècle, tal como a narrativa de “O Caminho de Guermantes”, mas, sobretudo, revive o microcosmo subjetivo do narrador. A memória proustiana estende-se como com fio entre passado e presente, definindo na analogia e nas associações múltiplas entre percepção, representação e memórias, o princípio condutor da narrativa. Proust não opera com a memória voluntária, mas sim com a involuntária, que independe do esforço consciente da lembrança e traz à tona, através de uma canção ou um odor, por exemplo, recordações de um tempo pretérito, uma cidade ou um amor perdido. O gosto do biscoito Madeleine molhado ao chá faz aflorar involuntariamente a lembrança de Combray, onde passava férias quando criança. A partir daí o autor revive um tempo perdido da infância. O personagem proustiano não é real, real é o que sentimos, o que experimentamos, mentalmente, desse personagem. É a coisa exterior que faz a ligação entre o percebido presente (o biscoito no chá) e aquele percebido esquecido por vivências mais fortes e presentes. Assim a totalidade perdida é restaurada.
O labiríntico, plural e complexo universo borgeano é o de um escritor de fértil inteligência, mistérios e saberes, contraditório manipulador de palavras que faz coexistirem idéias, submetidas a um tratamento estético, à ordem do imaginário, em uma combinação prodigiosa. Em sua riqueza de linguagem e capacidade inventiva ele abre as portas do universo e revela os múltiplos aspectos do ser humano. A busca incessante no labirinto é uma imagem muito borgeana. É a busca pelo conhecimento, pelo saber, a busca do homem por saber quem é. Só eu, para isso, ele depende da morte. A biblioteca (raiz de sua infância) também é uma figura recorrente em sua obra. O fantástico também é um dos pilares em suas narrativas. Ele dedicou sua vida toda a compor enigmas para o leitor decifrar e a engendrar charadas de fino gosto literário cujas soluções são sempre inesperadas. Inventou uma forma de narrar e a ela subordinou seu próprio convívio com familiares e amigos, quando não sua própria. Em geral se valoriza mais em Borges a figura do ensaísta e do contista que a do poeta. Mas ele é um dos poetas fundamentais da língua espanhola no século 20, um dos inventores da poesia moderna em língua espanhola.
Esses autores, Franz Kafka, Marcel Proust, Jorge Luis Borges, Nelson Rodrigues, Dante, Clarice Lispector e muitos outros inventaram um modo de ver e interpretar a realidade, organizaram o sentido disperso em nossa angústia e ansiedade diante do caos. Mapearam algo novo em nossa mente. Depois que eles viram as coisas daquele jeito passamos a vê-las com facilidade como se sempre tivesse existido.
O termo kafkiano está associado à burocracia estatal, à condenação do indivíduo, à melancolia e a ironia judaica presente no escritor. Tudo isto está reproduzido em detalhes no absurdo mundo criado e vivenciado por Kafka com suas tramas labirínticas e seu estilo único. Já o élan vital da obra proustiana revigora não apenas a memória da sociedade francesa do fin de siècle, tal como a narrativa de “O Caminho de Guermantes”, mas, sobretudo, revive o microcosmo subjetivo do narrador. A memória proustiana estende-se como com fio entre passado e presente, definindo na analogia e nas associações múltiplas entre percepção, representação e memórias, o princípio condutor da narrativa. Proust não opera com a memória voluntária, mas sim com a involuntária, que independe do esforço consciente da lembrança e traz à tona, através de uma canção ou um odor, por exemplo, recordações de um tempo pretérito, uma cidade ou um amor perdido. O gosto do biscoito Madeleine molhado ao chá faz aflorar involuntariamente a lembrança de Combray, onde passava férias quando criança. A partir daí o autor revive um tempo perdido da infância. O personagem proustiano não é real, real é o que sentimos, o que experimentamos, mentalmente, desse personagem. É a coisa exterior que faz a ligação entre o percebido presente (o biscoito no chá) e aquele percebido esquecido por vivências mais fortes e presentes. Assim a totalidade perdida é restaurada.
O labiríntico, plural e complexo universo borgeano é o de um escritor de fértil inteligência, mistérios e saberes, contraditório manipulador de palavras que faz coexistirem idéias, submetidas a um tratamento estético, à ordem do imaginário, em uma combinação prodigiosa. Em sua riqueza de linguagem e capacidade inventiva ele abre as portas do universo e revela os múltiplos aspectos do ser humano. A busca incessante no labirinto é uma imagem muito borgeana. É a busca pelo conhecimento, pelo saber, a busca do homem por saber quem é. Só eu, para isso, ele depende da morte. A biblioteca (raiz de sua infância) também é uma figura recorrente em sua obra. O fantástico também é um dos pilares em suas narrativas. Ele dedicou sua vida toda a compor enigmas para o leitor decifrar e a engendrar charadas de fino gosto literário cujas soluções são sempre inesperadas. Inventou uma forma de narrar e a ela subordinou seu próprio convívio com familiares e amigos, quando não sua própria. Em geral se valoriza mais em Borges a figura do ensaísta e do contista que a do poeta. Mas ele é um dos poetas fundamentais da língua espanhola no século 20, um dos inventores da poesia moderna em língua espanhola.
A Divina Comédia descreve uma viagem de Dante através do inferno, purgatório e paraíso. Já o trabalho de Nélson Rodrigues mostra que em todas as tragédias da vida ele transformou em peças de teatro, contos, crônicas e romances. O pai da moderna dramaturgia brasileira abriu caminho para o uso coloquial da língua e inovações na temática dos textos teatrais. Ele transformou as páginas futebolísticas em verdadeiro épico nacional, as crônicas diárias em manifestações do ser de temperamento do povo brasileiro e suas próprias memórias em um drama envolvente e desconcertante, causou a maior revolução no teatro nacional, levando-o, pela primeira vez, a uma dimensão a um só tempo cosmopolita, universal e contemporâneo. O mítico, o psicológico e as tragédias cariocas estão na sua dramaturgia. Por entre peças, contos-romances e crônicas, o escritor nos legou um elenco de frases e personagens cravados na memória brasileira como arquétipos dos abismos da condição humana.
A grande preocupação de Clarice Lispector em seus livros sempre foi a linguagem. Em todos os seus contos e romances, há essa permanente busca pela linguagem, nesse trato da linguagem sempre renovadora, ela experimentou o seu modo de narrar e estruturar seus livros, criando uma das obras mais singulares da nossa literatura. Outro escritor que não se pode esquecer é Guimarães Rosa. O valor da linguagem particular de Rosa não está no rebuscamento das palavras no uso de arcaísmos, mas sim nos neologismos, na recriação, na invenção das palavras, sempre tendo como ponto de partida a fala dos sertanejos, suas expressões, suas particularidades. Com isso, as palavras recriadas ganham força e significados novos.
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