13 março 2007

Do poema processo ao experimentalismo na linguagem (2)

No setor gráfico o grupo de estudos de linguagem da Bahia editou em 1974 a revista Semiótica com trabalhos de Júlio César Lobo, Haroldo Cajazeira, Almandrade e outros. Sintetizando o problema desta leitura que o poeta novo enfrenta dizia na apresentação: “Não é fazer média, não é querer aperto de mãos, o que nos interessa são as diferenças”. “O que me interessa em arte – dizia Almandrade em sua I Exposição de Poemas Visuais, em abril de 1975 no ICBA (Instituto Cultural Brasil Alemanha) – é criar linguagens ou propor novos sistemas de codificação. A linguagem nunca foi fixa, está sempre em mudança, quando a tecnologia avança surgem novas linguagens, novas formas de arte, novas atitudes, novos comportamentos”. Almandrade estava propondo nova situação para linguagem.

Depois começou a entrar em contato com artistas de outros países participando em exposições de meia/arte ou correspondence art na Argentina, Canadá, Alemanha e outros pises. Em março de 1976 realizou sua segunda exposição. “Eu me preocupo em criar novos códigos, novas linguagens. Criar uma espécie de matriz para outros usos, outras artes”.

Em dezembro de 1972, o movimento poema/processo foi dado por encerrado. Mesmo assim “continua e continuará o poema (/processo) até que seja superado dialeticamente por uma nova forma poética: por um novo processo, que não será neo-processo, assim como houve um neoconcretismo” (Cirne). E hoje, o que estamos vendo é uma literatura de lixo (de 1968 para cá), numa crítica à poluição cultural, social, etc. É a lixeratura, uma espécie de underground brasileiro. E, mesmo sendo difícil trabalhar experimentalmente a linguagem, as experiências, apesar de tudo, continuarão.

Sempre em busca de novas formas de linguagem, o poeta experimental vem pesquisando, ensaiando, verificado, conhecendo e avaliando pela experiência o resultado de suas pesquisas. Desde o cinema até o som, os quadrinhos (1), a semiótica, a fotografia, os ambientais e a semiologia, tudo o que se pratica é como o sentido de obter não um resultado definitivo, mas sim, resultados que possam estar sempre abertos a outras experiências nas diversas dimensões da linguagem.

Notas:
(1) No caso de aproximação do poema à técnica do quadrinho, vale lembrar os exemplos dos poetas concretos (o poema Life ou O Organismo quer Perdurar, de Décio Pignatari). O poema Desintegration, de R. Kostelanetz, é outro bom exemplo: a palavra desintegration vai sucessivamente se desintegrando até desaparecer. Cada frase do poema equivale a um quadrinho. Entre os poetas/processo o que mais se aprofundou na problemática formal dos quadrinhos foi Álvaro de Sá. O seu livro 12 X 9, no dizer de Wlademir Dias Pino, “é uma verdadeira radiografia da estrutura das histórias em quadrinhos”. Na Bahia, Almandrade desenvolve trabalhos extraindo elementos contextuais dos quadrinhos. “Quadrinhos: Parecem cartas de cartomantes arrumadas sobre a mesa. A memória visual do jogo de xadrez, as diversões são indicação de continuidade” (wdp).


“No mundo dos signos o artista é um operário ou guerrilheiro da linguagem armado com a teoria da informação e a semiótica, a todo momento ele está preparado para lutar contra as linguagens acadêmicas propondo novas codificações e envolvendo o público no processo criativo” (Almandrade, 1976)

Este artigo foi publicado no jornal Coisa Nostra (02/07/1976). O Poema/Processo foi um movimento fundado em 1967, aconteceu simultaneamente em vários pontos do Brasil, inclusive na Bahia. Este ano comemora 40 anos de existência. Vamos relembrá-lo em outros momentos. (Gutemberg Cruz)

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