11 dezembro 2006

Ciência da rede avança cada vez mais


Um bom exemplo de que nossa vida está conectada a uma série de redes. No século 13, os inquisidores católicos perseguiam os heréticos medievais, pessoas que rejeitavam, entre outras coisas, a autoridade do papa. A Igreja Católica instruía os cruzados a matar todos os que viviam em vilas e cidades suspeitas de abrigar dissidentes. Esse foi só o começo e a igreja não conseguia destruir a rede de heréticos com destruição indiscriminada. Os massacres aleatórios conseguiram um alívio temporário, mas a heresia sempre ressurge.

Como a heresia se espalhava, os inquisidores decidiram encontrar uma maneira melhor de extirpar a epidemia herética. Escreveram manuais para inquisidores detalhando a melhor maneira de derrubar uma rede sem escala. O esforço deveria se dirigir a identificar os heréticos que visitaram o suspeito em sua casa, bem como os guias que os conduziam até lá. O importante são as conexões, não os nódulos. Assim mudaram seu estilo de punição com a doutrina de isolamento. Aqueles que tivessem contato com heréticos eram forçados a usar uma cruz amarela na frente e nas costas de toda vestimenta visível. Quem era visto com um portador dessas cruzes corria o risco de ser acusado de simpatizante pela heresia. Essa medida funcionou mas não deteve a disseminação da heresia.

Os inquisidores perceberam a importância das conexões da rede. Como a Internet, por exemplo que tem Yahoo e Napster funcionando como atalhos para conectar muitas pessoas por meio de poucos links. Assim, a heresia dependia das atividades de umas poucas pessoas influentes. E os inquisidores enviaram um espião para descobrir onde eles se escondiam. Vários frades dominicanos foram treinados na caça a heréticos para capturá-los. A operação custou muito para o Vaticano. Era a fórmula ideal que a Inquisição adotou para lidar com as redes sem escalas. Os inquisidores envolvidos eram conhecidos como pessoas que pensavam cientificamente. Afinal, os frades dominicanos era uma das ordens mais cultas. Diferente da Idade Média, as aplicações modernas da teoria das redes sem escala estão salvando vidas, tal como o controle de doenças.

Os sistemas complexos da natureza funcionam de forma similar a proliferação de heresias. A todo momento, centenas de moléculas do corpo ficam loucas e deixam de cumprir sua função original. O motivo de continuarem vivos por anos e anos é que a rede dentro da célula é dominada por “centros de distribuição” – as falhas aleatórias têm pouco efeito. Se alguém distribuísse as moléculas que servem de centros de distribuição, o resultado seria mortal. Bem no estilo do adolescente canadense que conseguiu paralisar algum dos maiores sites da Internet (incluindo Yahoo, Amazon e eBay) com seu computador ligado à rede. Graças ao avanço no entendimento das redes que está havendo uma revolução na biologia. Graças a ela temos hoje a lista dos genes humanos. A ciência das redes está mapeando as interações entre as moléculas dentro da célula e vai ajudar a desvendar, por exemplo, o que são as doenças.

A sociedade em rede tem cinco séculos de existência. Basta lembrar da Renascença onde os banqueiros já teciam sua rede financeira florescente. Os artistas, nesse período, armaram outra rede, sólida e influente, por meio do barroco, primeiro estilo internacional. Outra rede de sucesso: a ferroviária da Europa, iniciada no século 19 e teve vasta repercussão social. Dessa forma, a rede existiu em outros tempos e espaço. Agora a tecnologia da informação é a base para uma rede que tudo alcança no mundo todo. Milhões de pessoas estão unidas pelo e-mail, na Web. É a comunidade virtual. Baudelaire escreveu sobre o sentimento de se sentir sozinho no meio da multidão e ao mesmo tempo, e por isso mesmo, com ele virtualmente “linkado” na cidade moderna. Vivemos virtualmente, sempre fomos virtuais – o que nunca nos impediu de sermos reais.

A nova ciência pode ser aplicada a virtualmente todas as áreas do conhecimento. Todas as redes – sejam elas de computadores, pessoas, empresas ou moléculas – são frutos de uma rede intricada de ligações. A vida é fruto da interação de uma complexa rede de moléculas dentro das células. A economia é uma rede complexa de empresas e consumidores. A sociedade é uma rede complexa de pessoas conectada por laços de família, amizade e trabalho. A Internet é uma teia complexa de computadores conectados por fios. Todos fazemos parte, queiramos ou não, de várias redes.

Em seu livro “Seis Graus de Separação”, o dramaturgo John Guare apresentou a idéia de que cada um de nós está a somente seis apertos de mão de qualquer um dos seis bilhões de habitantes da Terra. O sociólogo americano Duncan Watts testou se isso seria verdade também em outras redes. Ele e colegas descobriram que redes tão diversas como a World Wide Web (ou WWW), os neurônios do organismo e os atores de Hollywood têm a mesma propriedade da rede social que nos une. Todos fazem parte do fenômeno conhecido como “mundo pequeno”. Nele, estamos todos a uma pequena distância de nossos pares de rede. Pouco importa se a rede é o bilhão de páginas da WWW ou 500 mil atores de Hollywood. Uma página de WWW está a somente 19 cliques de qualquer outra e um ator está a três apertos de mão de seus colegas. Todos fazem parte de várias redes. Até mesmo você caro leitor.

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