19 outubro 2006

Rubem Valentim

Artista plástico. Nasceu em Salvador simultaneamente na Semana de Arte Moderna, no dia 09 de novembro de 1922. Autodidata em pintura. Começou a pintar ainda criança, fazendo figuras e paisagens para presépios de Natal. Em 1946 formou-se em Odontologia, tendo exercido por pouco tempo a clínica sem entretanto deixar de pintar. Pintor autodidata, influenciado por Torres Garcia, experimentando uma aproximação com o concretismo nos anos 60 e voltando, no final da vida, às formas circulares. Essas “mandalas”, não são referenciais. Elas têm um sentido universal, ecumênico. Participou do movimento renovador das artes iniciado na Bahia em 1946/47. Em 1948 passou a dedicar-se exclusivamente às artes plásticas. Bacharelou-se em Jornalismo no ano de 1953. Em 1957 transfere-se para o Rio. Ganha, em 1962, o prêmio de viagem ao estrangeiro no XI Salão Nacional de Arte Moderna.

Viaja para a Europa onde permanece três anos e meio visitando museus, exposições e galerias de arte, interessando-se principalmente pela arte negra e dos povos primitivos e informando-se na época sobre o que havia da chamada vanguarda nos países ditos desenvolvidos/industrializados. Viaja pela Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal e Itália. Fixa-se em Roma, aí trabalha e expõe. Percorre toda a Itália. Visita as Bienais de Veneza de 1964 e 1966. Vai à África participando da Exposição de Arte Contemporânea do I Festival Mundial de Arte Negra, 1966, Dacar, Senegal. Retorna a Roma. Volta para o Brasil em setembro de 1966, atendendo convite do então Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília. De 1949 a 1955 participou do Salão Baiano de Belas Artes. Em 1950, dos Novos Artistas Baianos. Em 1955, da III Bienal de São Paulo. Em 1966, a convite, da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, em Salvador, com Sala Especial, obteve Prêmio Especial pela Contribuição à Pintura Brasileira. Nesse mesmo ano participa de uma mostra coletiva contemporânea em Roma. Com seis grandes relevos denominados Emblemas, participou como artista convidado da I Bienal Internacional de Arte Construtivista Nuremberg, Alemanha, em 1969; do Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e da X Bienal de SP. Nos anos 70 participou da II Bienal de Artes Plásticas Coltejer, em Medellin, Colombia; II Festival de Arte Negra, em Lagos, na Nigéria; Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu Nacional de Belas Artes, em Santiago, Chile; Japão, entre outras.

Seu primeiro prêmio foi em 1955, Universidade da Bahia, no Salão Baiano de Belas Artes. A partir daí não parou mais com muitas exposições individuais, centenas de mostras coletivas e inúmeros prêmios. Em 1974 o cineasta Aécio Andrade dirigiu um curta metragem em cores: Rubem Valentim e sua Obra Semiológica. André Paluch dirigiu nesse mesmo ano o curta em cores Artistas Brasileiros no Museu de Ontário, Canadá, e o crítico de arte Frederico Morais produziu o audio-visual A Arte de Rubem Valentim. Suas obras estão espalhadas por diversos museus, galerias, nas ruas, além de várias coleções importantes particulares no Brasil e no estrangeiro. Um bom exemplo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de SP, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes do RJ, Galeria Nazionale d’Arte Moderna de Roma, Itália; Museu de Ontário, Canadá; Palácio Residencial do Governo da Bahia, Ondina, Salvador; Palácio do Governo do Zaire, Kinsasha, África; Embaixada do Brasil em Roma e Bogotá; Museu de Arte e História de Genebra, Suiça; Museu de Arte Moderna de Paris, França; Museu de Lagos, Nigéria, entre outros.

Valentim é um dos mais originais e autênticos construtivistas brasileiros. “Minha linguagem plástico-visual-signográfica está ligada aos valores míticos profundos de uma cultura afro-brasileira (mestiça-animista-fetichista). Com o peso da Bahia sobre mim - a cultura vivenciada; com o sangue negro nas veias - o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo - a contemporaneidade; criando os meus signos-símbolos procuro transformar em linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico ao que flui continuamente dentro de mim”, disse em uma de suas entrevistas. “A estilização de seus signos-fetiche do candomblé abriu seu espaço, que, se a princípio era bidimensional foi-se a terceira dimensão, como querendo respirar a sacralidade de um rito, a um só tempo poético, sacro e agnóstico. Os deuses da mitologia afro-baiana - Oxossi, Ogun, Xangô, Iansã, Iemanjá e Oxalá - ofereceram-lhe a motivação para criar uma obra intuitivamente construtivista e aparentente abstrata, mas na verdade de fundo místico/mítico/religioso, portanto sensorial e sensitiva. A memória cultural de sua raça, por isso mesmo, está tatuada na heráldica de seus deuses plásticos, como foram marcados, no passado, a ferro em brasa, seus irmãos negros nas senzalas”, escreveu o crítico de arte, Alberto Beuttenmuller, em 1977. Para o crítico Frederico Morais, “às vezes é preciso calar: usar um silêncio artifício, para dizer melhor e mais alto. Calar para que o silêncio cante toda a extraordinária beleza da vida, para que se possa ouvir este fio de água cantando, que vem das fontes primitivas. Sabedoria. Às vezes é preciso eliminar a cor, como se elimina o ruído, e chegar à dura pureza do branco. Luz. Contra o caos, Rubem Valentim propõe o cosmos”.

Ele morreu no dia 30 de dezembro de 1991, vítima de câncer, e os museus prestaram homenagens a um dos principais nomes do construtivismo brasileiro. Valentim morreu aos 69 anos sem concretizar seu projeto maior, o de criar uma fundação - em Brasília ou São Paulo - para abrigar sua obra, uma das raras no Brasil a merecer a atenção do crítico italiano Giulio Carlo Argan. O ensaista foi um dos primeiros a observar que o uso dos negros do candomblé por Rubem Valentim nada tinha de folclórico.



2 comentários:

Anônimo disse...

Sr. Gutemberg, parabéns pelo artigo. A propósito, tem contato com algum familiar de Rubem Valentim que esteja emitindo certificado das obras?
mrouse@ig.com.br
Obrigada
Rosângela

Anônimo disse...

Olá estou fazendo uma pesquisa sobre a vida e obras de Rubem Valentim, que é o tema de minha monografia de pós-graduação em História e cultura Africana. Preciso de mais informações a respeito dele e de referencias teóricas.
Li o seu texto que está muito bom, mas não tem referencias. Você poderia me ajudar, meu e-mail é camaravieira@ig.com.br . Obrigada.