05 outubro 2006

Manuel Vitorino


Médico e político. Manuel Vitorino Pereira nasceu em Salvador no dia 30 de janeiro de 1853. Até os 14 anos, ele só havia recebido instruções elementar e profissional indispensáveis ao desempenho da arte de marcenaria a que se dedicara seu pai. Entretanto, aspirava muito mais. Desejava seguir a carreira literária, no que foi atendido pelos seus familiares. Em dois anos, apenas, cursou os preparatórios, matriculando-se em 1871 na Faculdade de Medicina da Bahia, onde obteve o grau de doutor em 1876, tendo sido aprovado com distinção em quase todos os anos do curso médico. Atuou no jornalismo acadêmico, no qual patrocinava as idéias mais adiantadas e liberais. Defendeu tese inaugural sobre as moléstias parasitárias intertropicais, em cujo trabalho fez eloqüente protesto contra a escravidão. Seis meses após ter se diplomado, disputou concurso tendo sido aprovado em primeiro lugar. Em seguida foi nomeado professor substituto da seção ciências acessórias da Academia de Medicina da Bahia (1877). Pouco tempo depois, em 1879, seguiu para a Europa, tendo visitado os principais centros médicos daquele continente, especialmente os alemães. Naquele local dedicou-se à cirurgia, de lá trazendo moderna orientação dos estudos médicos e a consciência da importância do método experimental. Discípulo de Joseph Lister, introduziria o método anti-séptico no Brasil.

Ao regressar a Salvador, 1881, rege gratuitamente e interinamente a cadeira de Anatomia Patológica, então criada, iniciando o estudo desta disciplina com a organização de um gabinete e de um serviço de autópsias regulares. Colaborador das revistas acadêmicas e dos jornais baianos, tomou parte em numerosas assembléias científicas, literárias e políticas. Em 1883 disputou o concurso para a Clínica Cirúrgica. Aprovado, por unanimidade, com distinção, obteve pela primeira vez, na sua época, um voto de louvor. Tomou posse como catedrático em agosto de 1883. Foi insigne Mestre de Cirurgia da Faculdade de Medicina. A partir de 1885 teve início a sua vida política. Em oposição aos gabinetes Saraiva e Cotegipe, defende novas reformas para a extinção do trabalho escravo e revisão da Constituição de 1824, para que a Monarquia Unitária se transforme em Monarquia Federativa. Nessa posição política é companheiro de Ruy Barbosa. Envolveu-se nas questões que agitavam o País, destacando-se na campanha abolicionista, tendo se tornado um dos sustentáculo do ministério Dantas. Em 1888 idealizou e participou da criação da Sociedade Médica da Bahia.

Quando em abril de 1889 o Partido Liberal reuniu os delegados das províncias do Rio de Janeiro, foi Manuel Vitorino, ao lado de Ruy Barbosa, representante da Bahia. Regressou ao Rio como representante de sua classe no congresso médico, em setembro de 1889, em cuja ocasião destacou-se pela atividade nos seus trabalhos. Republicano convicto, não aceitou a vice-presidência da Bahia, que lhe fora oferecida pelo Gabinete Ouro Preto, de cuja orientação discordava. Proclamada a República foi imediatamente nomeado governador da Bahia, por solicitação do conselheiro Ruy Barbosa, do qual era senador. Foi exonerado desse cargo que exerceu de 23 de novembro de 1889 a 25 de abril do ano seguinte. No seu governo a Bahia passou de Província Unitária a Estado Federativo. Procurou promover a conciliação política e dissolveu os partidos Conservador e Liberal, remanescentes do Império. Incentivou a difusão do ensino popular e criou a Milícia Civil (Guarda Cívica), organizou também uma comissão para estudar e elaborar a constituição estadual. Ainda em seu governo foi fundado o Arquivo Público, depositário legal dos documentos da história da Bahia. A 26 de abril de 1890, em virtude de divergência com o Governo Federal, deixa o Governo do Estado (foi o segundo governador do estado da Bahia), transmitindo o cargo ao Marechal Hermes da Fonseca. Participa do III Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, reunido em Salvador, e apresenta o trabalho Tuberculose Óssea. Escreve a Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia para o ano de 1890. Quando da convocação da Constituinte do Estado, aceitou o lugar de senador, contribuindo com o seu talento e discernimento para a elaboração das leis orgânicas. No senado, foi membro da comissão de finanças. Sucedeu, no Senado Federal, o Cons. José Antonio Saraiva, em cuja função teve oportunidade de prestar relevantes serviços ao País, creditando-o a exercer a vice-presidência da República de 1894 a 1898. Coube-lhe, no exercício das funções públicas federais, fundar a Biblioteca Parlamentar do Senado.

Presidia o senado quando, em 1896, durante a enfermidade do presidente Prudente de Moraes, exerceu a Presidência da República no período de 11 de novembro de 1896 a 04 de março de 1897. Durante a sua administração foi substituído o ministério e iniciaram-se reformas em diversos departamentos do governo, criando atritos políticos com o presidente. Após o término de seu mandato, não pleiteou mais cargos políticos. Dedicou-se de novo à clínica cirúrgica. Em 1899 foi membro honorário da Academia Nacional de Medicina. Mais tarde, seguiu para a Europa trazendo de sua viagem, novo material cirúrgico, o que faz crer na sua disposição de dedicar-se à clínica. Em pouco tempo começou a escrever para a imprensa diária, discutindo quase todos os assuntos políticos e sociais que interessavam à nação.

Começou a colaborar ativamente nos jornais do Rio de Janeiro (Paiz, República, Dia e Correio da Manhã), anteriormente, de 1885 a 1886, foi jornalista do Diário da Bahia e Jornal de Notícias. Representou o Brasil no Congresso Científico Latino-Americano, em Buenos Aires. Faleceu no dia 09 de novembro de 1902, aos 49 anos, no Rio de Janeiro. Seu corpo foi transportado para a Bahia, onde foi enterrado. E deixou uma série de trabalhos publicados sobre Medicina e Política. Pela contribuição trazida ao engrandecimento de nossa cidade, uma das ruas do Comércio foi intitulada Manuel Vitorino, além do Hospital Manuel Vitorino no bairro de Nazaré, Salvador. E no dia 30 de julho de 1962 foi criado o município de Manuel Vitorino, na região sudoeste.

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