O funeral da princesa Diana exibido na TV foi um dos primeiros fenômenos de massa ligados à TV detectados pelos antropólogos e sociólogos. Em 1999 uma pequena produtora, Endemol, de Holanda, inventou a primeira versão do “reality show”, Big Brother. O formato foi exportado para a Inglaterra, Alemanha, Espanha e Estados Unidos. E o número de países cresceu até chegar ao Brasil. Em cada país os limites de permissividade variam. Um casal transou ao vivo em Portugal, na Holanda as câmaras registraram detalhes escatológicos, na Alemanha houve protesto geral de líderes políticos e religiosos.
Muitos estudiosos arriscaram afirmar que a onda da TV realidade já passou. E esses formatos meio novela sem roteiro, calcados no sensacionalismo têm vida curta. Mesmo assim esses programas introduziram novas demandas na “sociedade em rede”. A quebra do monopólio estatal da tevê foi um desses fenômenos. A introdução de canais privados na França gerou uma mudança nos padrões de programação. Dessa forma os “reality shows” emergem como agentes sobre noções de público e privado, cidadão e indivíduo no contexto de declínio dos movimentos sociais que marcaram a cena política francesa nas décadas anteriores. Esses programas diluem a fronteira entre os gêneros da ficção e do documentário, aumentando o índice de participação do público na programação, substituindo programas políticos.
Assim a TV deixa de ser uma vitrine para voyeurs e os telespectadores passam a interagir deixando de ser apenas receptores passivos. E as possibilidades aberta pela Internet migram para o meio de comunicação mais tradicional. O que começou como experimentos isolados em “webcams” foi discutido em filmes como Truman Show (1998), de Peter Weir, e Ed TV (1999), de Ron Howard, e se realiza de maneira coletiva e compartilhada no reality show. Longe do projeto ilusionista do cinema hollywoodiano, os participantes do jogo no reality show sabem da existência de dezenas de câmeras e do universo presente que inclui o público. Assim, os interesses pessoais de cada um aparecem de maneira explícita. Seja um empurrãozinho na carreira profissional, um novo emprego, ou mesmo a fama de muito mais dos 15 minutos badalados pelo artista Andy Warhol.
O fascínio do reality show está nessa sensação do público de casa em interagir, saber o que se passa no jogo, opinar, votar, conectar com o que está distante, atuar. Os rumos da trama podem mudar a cada semana, dependendo do público (ou da rede de interação e/ou manipulação). Será uma nova dramaturgia contemporânea dessa realidade virtual onde as pessoas entram no jogo para se tornarem famosas, poderosas instantaneamente. Não importa o que se diga ou o que se fale ou apresente, o importante é vencer, mesmo passando por cima de todas as regras feito um rolo compressor. Esses programas deixam o público fascinado com a promessa de um “futuro melhor”.
Esse novo modelo de programa valoriza a imagem, o instante e a emoção, em detrimento do sentido, da continuidade e da razão. A TV não tem tempo (lei do lucro) nem interesse em valorizar o esforço (lei da oferta). O formato (com poucos segundos para um comercial, 25 minutos para um sitcom, 50 minutos para um seriado, 90 para um filme) exige soluções rápidas e, no final, alguém vence e os problemas todos são resolvidos. Não se deve pensar muito, o ritmo é acelerado. A vida é uma corrida com muitos barulhos, nada de fazer silencio e escutar a consciência, o importante é participar. É o esforço dos tempos modernos.
Em nossa sociedade cada vez menos solidária, transformada em república da solidão, assistir à fama sendo construída sob seus olhos (com uma facilidade aparentemente tão grande) fascina (ou escandaliza) o público. Assim, a televisão serve de mídia para, não só glorificar o dinheiro e o poder, como transformá-los nas condições necessárias de alcance do sucesso. Para o telespectador comum, a percepção nessa dinâmica fica aprisionada em outra lógica. É preciso pegar carona no sucesso dos vitoriosos. Nessa sociedade de espetáculo, a concorrência de mercado e de capital produziu um grupo de pessoas voltadas para a economia. A busca do ter, possuir e depois fazer aparecer.
A mídia está totalmente atrelado a esse lado mercadológico, corruptível pelo fator capital, vivendo da guerra pelas largas fatias de audiência. Assim, ela utiliza a reificação (coisificação) e a alienação do povo para comandar as suas vidas conforme os interesses comerciais. O povo é bombardeado pelo excesso de informações vazias e acredita estar vem informado.Vivendo em função das audiências, da concorrência e da máscara da democracia, ela empurra notícias vazias e extrai de nossa cultura toda a criatividade. O que falta a essa sociedade de espetáculo é conscientização e conveniência social. “A ficção, principalmente a da TV, recorre cada vez mais ao formato e aos efeitos do documentário. Isso revela um esgotamento da capacidade da TV de falar do mundo tal qual ele é. Colocar pessoas reais numa situação artificial é uma experiência que faz apelo ao gênero documentário, mas que se distingue dele na essência. Supõe-se que o espectador no cinema percorre todo o filme para sair modificado no final, é o sujeito da experiência. Num reality show, o sujeito da experiência são as pessoas que estão sendo filmadas. O objetivo é sempre submeter as pessoas a uma experiência cinematográfica que se faz, em parte, contra elas”, informa o cineasta e teórico do cinema Jean-Louis Comolli.
Muitos estudiosos arriscaram afirmar que a onda da TV realidade já passou. E esses formatos meio novela sem roteiro, calcados no sensacionalismo têm vida curta. Mesmo assim esses programas introduziram novas demandas na “sociedade em rede”. A quebra do monopólio estatal da tevê foi um desses fenômenos. A introdução de canais privados na França gerou uma mudança nos padrões de programação. Dessa forma os “reality shows” emergem como agentes sobre noções de público e privado, cidadão e indivíduo no contexto de declínio dos movimentos sociais que marcaram a cena política francesa nas décadas anteriores. Esses programas diluem a fronteira entre os gêneros da ficção e do documentário, aumentando o índice de participação do público na programação, substituindo programas políticos.
Assim a TV deixa de ser uma vitrine para voyeurs e os telespectadores passam a interagir deixando de ser apenas receptores passivos. E as possibilidades aberta pela Internet migram para o meio de comunicação mais tradicional. O que começou como experimentos isolados em “webcams” foi discutido em filmes como Truman Show (1998), de Peter Weir, e Ed TV (1999), de Ron Howard, e se realiza de maneira coletiva e compartilhada no reality show. Longe do projeto ilusionista do cinema hollywoodiano, os participantes do jogo no reality show sabem da existência de dezenas de câmeras e do universo presente que inclui o público. Assim, os interesses pessoais de cada um aparecem de maneira explícita. Seja um empurrãozinho na carreira profissional, um novo emprego, ou mesmo a fama de muito mais dos 15 minutos badalados pelo artista Andy Warhol.
O fascínio do reality show está nessa sensação do público de casa em interagir, saber o que se passa no jogo, opinar, votar, conectar com o que está distante, atuar. Os rumos da trama podem mudar a cada semana, dependendo do público (ou da rede de interação e/ou manipulação). Será uma nova dramaturgia contemporânea dessa realidade virtual onde as pessoas entram no jogo para se tornarem famosas, poderosas instantaneamente. Não importa o que se diga ou o que se fale ou apresente, o importante é vencer, mesmo passando por cima de todas as regras feito um rolo compressor. Esses programas deixam o público fascinado com a promessa de um “futuro melhor”.
Esse novo modelo de programa valoriza a imagem, o instante e a emoção, em detrimento do sentido, da continuidade e da razão. A TV não tem tempo (lei do lucro) nem interesse em valorizar o esforço (lei da oferta). O formato (com poucos segundos para um comercial, 25 minutos para um sitcom, 50 minutos para um seriado, 90 para um filme) exige soluções rápidas e, no final, alguém vence e os problemas todos são resolvidos. Não se deve pensar muito, o ritmo é acelerado. A vida é uma corrida com muitos barulhos, nada de fazer silencio e escutar a consciência, o importante é participar. É o esforço dos tempos modernos.
Em nossa sociedade cada vez menos solidária, transformada em república da solidão, assistir à fama sendo construída sob seus olhos (com uma facilidade aparentemente tão grande) fascina (ou escandaliza) o público. Assim, a televisão serve de mídia para, não só glorificar o dinheiro e o poder, como transformá-los nas condições necessárias de alcance do sucesso. Para o telespectador comum, a percepção nessa dinâmica fica aprisionada em outra lógica. É preciso pegar carona no sucesso dos vitoriosos. Nessa sociedade de espetáculo, a concorrência de mercado e de capital produziu um grupo de pessoas voltadas para a economia. A busca do ter, possuir e depois fazer aparecer.
A mídia está totalmente atrelado a esse lado mercadológico, corruptível pelo fator capital, vivendo da guerra pelas largas fatias de audiência. Assim, ela utiliza a reificação (coisificação) e a alienação do povo para comandar as suas vidas conforme os interesses comerciais. O povo é bombardeado pelo excesso de informações vazias e acredita estar vem informado.Vivendo em função das audiências, da concorrência e da máscara da democracia, ela empurra notícias vazias e extrai de nossa cultura toda a criatividade. O que falta a essa sociedade de espetáculo é conscientização e conveniência social. “A ficção, principalmente a da TV, recorre cada vez mais ao formato e aos efeitos do documentário. Isso revela um esgotamento da capacidade da TV de falar do mundo tal qual ele é. Colocar pessoas reais numa situação artificial é uma experiência que faz apelo ao gênero documentário, mas que se distingue dele na essência. Supõe-se que o espectador no cinema percorre todo o filme para sair modificado no final, é o sujeito da experiência. Num reality show, o sujeito da experiência são as pessoas que estão sendo filmadas. O objetivo é sempre submeter as pessoas a uma experiência cinematográfica que se faz, em parte, contra elas”, informa o cineasta e teórico do cinema Jean-Louis Comolli.
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