21 dezembro 2021

O primeiro encontro

 

O verão estava chegando com toda a sua luz, seu brilho. E foi assim que eu o conheci. O local não era uito de meu agrado. As pessoas dançavam frenéticas, luzes e som no ar. A coragem não me veio logo. Com um pouco de bebida a situação foi logo resolvida. E no salão juntei-me aos outros. Mesmo assim sentia-me só. E embora meu coração ansiasse por amizade, não sabia abrir-me, inibido como sou. Num rápido momento o vi passar. Alto, moreno....uma figura que me impressionou. Ele também notou algo em mim. A partir daí não consegui me controlar, e ficávamos distante, olhos nos  olhos até que ele, mais decidido se aproximou e, bem natural, abraçou-me na dança. Horas depois, cansados, subimos para conversar. Conhecer um pouco mais um do outro.

 


Estava um pouco trêmulo. Sua mão decansava docemente na minha. E ele enlaçou-me levemente. Senti os seus lábios aproximando-se dos meus. Inclinou-se para mim e apertou-me estreitamente nos braços. O contato daquela pele macia incenduou-me. Sentaados ficamos. A cabeça encostada no meu ombro, os dedos alisando os cabelos do peito. Meu coração batia aceleradamente. Em seguida convidei-o para dormir em casa.

 

No caminho, a palavra não era necessária, bastavam os gestos. Em casa ele não largava a minha boca. Seus lábios mordiam os meus lábios, seus dentes batiam nos meus dentes e os nossos hálitos se confundiam inteiramente. No instante seguinte, perdemo-nos um no outro, tornamo-nos um único ser, entrelaçamo-nos em uma unidade amorosa que mergulhava cada vez mais fundo na insondável fonte do amor.  Passamos quase toda a noite aplacando-nos. Exaustos, afinal, adormeceno em estreito abraço. Creio que ao mesmo tempo. Entretanto, não acordamos ao mesmo tempo. Acordei em primeiro lugar, com uma sensação de felicidade, que a princípio não soube explicar. Vi-o deitado ao meu lado, nu, o rosto expressivo, bonito.

 


Corpo anguloso, pele torneada do sol, uma boca bem delineada e o pescoço grossso, mas erguio. Aquilo excitava-me. Ele acordou e murmurou baixinho palavras doces. Beijou-me nos olhos, na boca, no pescoço. Suas mãos tornaram-se ágeis e firmes, deslizando-as por entre minhas pernas. Percorri com meus lábios aqueles contornos tão arredondados, de carnes acetinadas, fina e tão polida. Depois tudo seguiu um ritmo quente e novo, nascido naquele instante. Eu ansiava por que essa operação não terminasse nunca. Houve a agonia dos corpos, a união, o pazer inconcebível

 


No dia seguinte ele apareceu.  Usava uma camisa esporte de cor azul e calça jeans. Parecia mais jovem, barba aparada,  com seus cabelos pretos, seus gestos animados e desinibidos, seu soriso tão franco e inocente quanto o de uma criança.  Era simpático, não  conseguia deixar de fita-lo constantemente.  Era diverso  de todas as pessoas que conhecia. Possuia uma marca pessoal  que fascinava.  Estava de férias e, com um convite meu, resolveu ficar por mais tempo naa cidade.  Ele não  era daqui. Apaixonado pelo mar, frequentava-o todos os dias. Queimadão da praia, ficava com aquele suave e delicado olhar meio vaago,  ligeiramente torturado, despertando incontida carga emotiva.  Era seus dias depressivos. Sentia seus olhos pousar em mim. Aproximava-me dele e ficávamos juntinhos horas a fio....

 


E assim foram os dias, meses. O Natal passou, o Carnaval também. E tudo era alegria ate o  dia em que partiu. Já sabia que um dia ele teria que partir, mas na hora não  aceitava aquilo, estava perdendo aquela felicidade, toda aquela alegria. E ele partiu. Fiquei a escutar os discos e lembrar os momentos que passamos juntos. Impossível libertarmos do  que nos deixaram como marcas, por mais que nos esforcemos, por mais que escandamos, por mais que as disfarçamos, que as mergulhamos no álcool ou enganemos com alegres ou tristes canções, elas estão presentes. Impossível esquecer as noites de conforto, de calor, os dias de sol, de mar, nas festas, nas feiras, em tudo o que fazia....Impossível riscá-los, inútil negá-los, ingênuo tentar esquecer. Alguma coisa parecia ter morrido  em mim. Olho as fotos, das poucas que tirei, e vejo através da janela as estrelas que me parecem incrivelmente distantes. E de repente me dou conta de que estou só. Sentei-me novamente e tive vontade de ficar assim, parado.... Como é difícil ter que aceitar alguém que ama ficar assim distante....Sim,  eu o  amo  e essa é a verdade.  Não poso  esconder. Não sei mais o  que fazer. Os dias parecem longos e as noites mais tristes.  Os meses ficam  tropeçar uns nos outros. O  tempo até paarece que parou...mas na verdade quem está parado  sou eu, triste e só.

 


E quanto mais penso  que seu mundo está lá, sua família e seus amigos, e não  aqui, perto  de mim,  fico mais triste.  As circunstâncias unem e separam as pesssoas. Não sei explicar bem isso, mas não queria que fosse assim. Tudo estava tão belo....Ah! estou lembrando o dia em que passamos na ilha, era seu aniversáario, chovia muito, e nós dentro da barraca, fazia um frio, mas nossos corpos juntos esquentaram um ao outro. E ele era puro sorriso, brilho nos olhos, no corpo. Brilho de sol, pombas no ar. Agora, não posso mais escrever, maeus olhos estão nublados...são lágrimas Odemar, por você, por mim, por nós. Obrigado. (Guto, 30 de março de 1981).

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