06 fevereiro 2019

40 anos do Olodum


Fundado em 1979, há 40 anos, o Olodum estreou no Carnaval de 1980 e gravou seu primeiro Lp Egito, Madagascar em 1987, que incluía a música Faraó divindade do Egito, até hoje uma referência em seu trabalho. O sucesso da turma do Pelô ultrapassou as fronteiras do país levando o grupo a se apresentar na Europa, Japão e Estados Unidos. A batida forte e marcante do samba reggae, criado na época por Neguinho do Samba, chamou a atenção de astros como Wayne Short, Jimmy Cliff, Herbie Hancock e do cineasta Spike Lee. Paul Simon convidou o grupo para gravar a música The Obvious Child, no disco The Rhythm of the Saints. Com Michael Jackson, gravou o clipe da música They Don´t Really Care About Us.



Fonte inesgotável, onde muitos artistas da axe music costumam beber com freqüência, o Olodum possui ainda um arsenal de sucesso respeitáveis: Avisa Lá (Roque Carvalho) também gravada por Cae e Gil no CD Tropicalia 2, Rosa (Pierre Onassis), Berimbau (Pierre Onassis, Germano Meneghel e Marquinhos Marques), I miss her (Lazaro Negrumy), Deusa do amor (Valter Farias e Adailton Poesia), entre muitas outras



Quando foi criado em 1979, o Olodum era para ser só mais um bloco afro no Carnaval de Salvador. Acabou virando um centro de reflexão sobre a cultura negra e uma atração internacional. A partir de 1984 o diretor de bateria Neguinho o Samba começou a pesquisar novas batidas e ritmos com as crianças eu formavam a banda mirim do Olodum. O resultado foi uma mistura irresistível de reggae, samba, lambada, merengue e toques africanos que ajudou a concretizar a explosão de um mercado regional n Bahia. As bandas conhecidas como Mel, Reflexu´s, Chiclete com Banana e Gerônimo, Sarajane e Luis Caldas venderam quase um milhão de cópias. Todos gravaram músicas de compositores dos blocos afros, ou se inspiraram na nova batida durante as gravações.

 


No Olodum, melodias e letras difíceis são aliadas a um trabalho exclusivamente de percussão. Ao contrário dos afoxés, que saem com atabaques de pele de animal, os blocos afros usam instrumentos de percussão pesados. Neguinho do Samba transformou suas pesquisas com as crianças do Pelourinho para o grupo de adultos. As percussões são divididas para soarem como outros instrumentos. Os repiques som como metais. Os antigos 105 (também instrumentos percussivos) garantem a marcação rítmica. A distribuição entre tons graves e agudos impressionou Paul Simon, que disse: “Nunca ouvi nada igual”.



“Faraó, Divindade do Egito”, de Luciano Gomes dos Santos, compositor de 18 anos na época, foi o grane tema do carnaval baiano de 1987. A banda Mel gravou a música, como também uma adaptação de Ladeira do Plô, de Betão, que acompanhou o Olodum desde 1984. A banda preferiu gravar os versos mais does: “Eu vou e vou e eu vou/subir a ladeira do Pelô (...)/balançando a banda pra lá/balançando a banda pra cá”. A letra completa, na versão do bloco afro, demonstra qual o objetivo do Olodum, filho direto do bloco Ilê Aiyê, defensor da negritude formada em 1974: “Aganjou, allujá, muito axé/canta p povo de origem nagô/o seu corpo na fica mais inerte/que o bloco Olodum já pintou/me leva que eu vou, sou/Olodum Deus dos Deuses/vulcão africano do Pelô”.

 


Se os afoxés – alguns muito antigos, como Filhos de Ghandi, que sai no carnaval baiano há 70 anos têm uma nítida coloração religiosa, o bloco afro Olodum preferiu assumir uma iniciação social e política, a partir da mudança da diretoria, entre 1983 e 1984. Até então, Olodum era um bloco de carnaval. E só. Mas a própria origem dos blocos afros nega esta proposta. Eles surgiram como um protesto contra a discriminação aos negros no chamado carnaval internacional de Salvador. Hoje, no Largo do Pelourinho, o Olodum – palavra que significa rei dos orixás, ou rei dos reis – promove atividades culturais. Aulas de dança, música, palestras e seminários que tentam registrar a história da escravidão, revoltas e origens dos negros na Bahia.

 


E o carnaval é uma história à parte. Olodum já se inspirou na Cuba de Fidel, em 1986, quando o bloco saiu multicolorido, com batas e boinas. Em 1987, o tema foi a possível origem nagô dos antigos egípcios, descoberta por Sheik Arita Diop. No carnaval de 1988, Olodum saiu inspirado em Madagascar, ilha perdida entre a Africa e o Oriente, caldeirão de raças e som.

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