Em 1987 ele lançou a obra que é
considerada um divisor de águas na linguagem dos quadrinhos: a
série Cavaleiro
das Trevas, que tomou o velho Batman objeto de um culto que até hoje vem
rendendo milhões aos mercadores da cultura de massas. Estrelando um envelhecido
e ultraviolento Batman, que volta à ativa num futuro à beira do colapso,
dominado por gangs de rua sanguinários, mísseis nucleares, políticos decadentes
e uma mídia sensacionalista. Uma visão de expressionismo urbano com o dramático
impacto do melhor film noir.
A releitura ousada do Homem Morcego (The
Dark Knight Returns) consagrou um formato que passou a ser chamado de prestigie
(acabamento requintado, lombada quadrada, papel couchê e sem páginas de
publicidade). Estava lançada uma nova tendência. As editoras passaram a
valorizar vários de seus produtos com esse formato ou com outros menos
luxuosos.
Em 1990 Miller se une à tradição do
quadrinho francês. A editora Dark Horse lança a minissérie Hard Boiled onde
aconteceu um encontro entre o astro dos quadrinhos franceses (Geof Darrow) com
um astro norte americano (Miller). A história trata de um ciborg impiedoso em
busca de suas memórias e seu propósito, com uma arte nitidamente violenta,
repleta de imagens de aberrações sexuais.
Rica em detalhes, a arte de Darrow para
Hard Boiled se desenvolve sob medida para o roteiro surreal-futurístico escrito
por Frank Miller, em que Nixon, um andróide assassino coletor de impostos,
perde o controle durante uma missão e é destruído. Reconstruído e reprogramado
ele pensa ser Carl Seltz, um fiscal de seguros e pai de família exemplar. A série
foi premiada com o Eisner Award, conceituado prêmio concedido às melhores obras
de HQ.
No mesmo ano é lançada pela editora
independente Dark Horse, Give Me Liberty, desenhada pelo artista britânico Dave
Gibbons. A personagem principal é uma jovem negra chamada Martha Washington. No
futuro sombrio, quando a América vive a expectativa de uma guerra civil sob lei
marcial, ela luta pelos seus direitos. A série é ecológica, anti racista e anti
fascista. O batismo de fogo de Martha Washington acontece no Brasil, para onde
vem com a missão de defender a floresta amazônica dos ataques militares de
nacionalistas brasileiros e de terroristas patrocinados pelas corporações norte
americanas.
Miller sabe roteirizar como poucos. Mas
o problema nesta série é que ele acredita que homens e mulheres fazem sozinhos
uma revolução – e que, ainda sozinhos, são capazes de corromper a humanidade
inteira. Ele já apostou na teses da feminilidade casual em Elektra Assassina e
se deu muito bem. Assim, Martha integra uma força de paz no Brasil para salvar
a Amazônia dos fabricantes de hambúrgueres, luta contra a ganância árabe e o
massacre dos índios.
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