13 outubro 2014

O que há por trás das listras?



A roupa toda listrada já foi coisa de presidiário ou mafioso. Hoje é sinônimo de gente bem informada
e cosmopolita . Na Idade Média, roupas listradas tinham conotação negativa e eram associadas a quem estava à margem da sociedade - prostitutas, serventes, criminosos. Nas pinturas medievais, o próprio diabo aparecia vestindo listras. Mas, nos dois últimos séculos, o padrão ganhou um significado positivo e de liberdade - principalmente por causa das bandeiras da França e dos Estados Unidos. É possível que os americanos tenham escolhido um tecido listrado (símbolo da escravidão) para exprimir a ideia do servo que rompe suas correntes e, assim, inverter o código das listras, sinal de privação de liberdades, estas se tornam, com a revolução americana, sinal de liberdade conquistada. Assim vestir-se em listras pode ser um meio de proclamar a adesão ao movimento das liberdades.

Dependendo do tipo físico, certas roupas são proibitivas. Pessoas obesas não devem usar roupas listradas na horizontal. Isso aumenta ainda mais seu tamanho, assim como as pessoas muito magras, não devem usar roupas com listras verticais, pois ficarão ainda mais magras.  É fundamental usar roupas que sejam harmoniosas com as formas do corpo.


Há uma milenar fama dos tecidos listrados como "coisa do demo". Um ensaio do historiador e paleógrafo francês Michel Pastoureau, intitulado O Pano do Diabo faz uma viagem no tempo em busca de desvendar o significado das listras nas vestimentas da sociedade ocidental . Qual o motivo da roupa dos presidiários ter sido listrada, assim como a dos loucos e doentes contagiosos. Seria uma forma de diferenciar os que estavam à margem da sociedade?. As listras de alguma forma também foram relacionadas ao mar, nas roupas dos marinheiros e nos trajes para banhos de mar. O esporte, em geral, também se apoderou delas, seja nos uniformes ou em símbolos de marcas famosas.

As Sagradas Escrituras já não as recomendavam. Está no Levítico: "Não levarás sobre ti uma veste que seja feita de dois." Dois tons, bem entendido. A fama, portanto, não é antiga, é antiqüíssima. Os muçulmanos sempre usaram mantos listrados. Por esse motivo intriga a Igreja, avessa a qualquer parentesco com hábitos orientais. Os tecidos listrados eram usados - em vestimentas, cintos, fitas, capuzes e barretes - por judeus, heréticos, bufões, saltimbancos, carrascos, prostitutas, leprosos e outros excluídos da sociedade daquele tempo. Caim, Judas, Dalila e Salomé também haviam feito das listras um involuntário emblema de sua desonra.

Na obra, Pastoureau focaliza mais de 800 anos de história da humanidade, através das listras e de seus múltiplos significados. Na Idade Média, as listras eram reservadas aos loucos, aos leprosos, aos doentes contagiosos, aos banidos da sociedade. As listras foram olhadas com desprezo, isolando dos outros quem as vestia. Em uma cultura em que o visível tem uma importância primordial, todos sabem ler o sentido dessas barras. Prostitutas e saltimbancos na época medieval usavam roupas listradas reforçando o status marginal da estampa – representações do diabo eram frequentemente ilustradas com listras.

Até o século XV, as listras tinham caráter depreciativo e serviam para designar loucos, doentes contagiosos e banidos. Depois uma ambígua reviravolta passa a associar o listrado ao servilismo e também à proteção – aparecendo em roupas de criados, protegidos dos nobres. No século XIX, uma função higiênica e medicinal distingue os costumes listrados: roupas de banho, de crianças, pijamas – usos do vestiário que denotam assepsia, ao menos aparente. A reputação do pano listrado só mudaria substancialmente do final do século XVIII em diante, depois de representar, na França, a vitória do bem (burguês) contra o mal (aristocrático), o triunfo da marginalidade, e, no Novo Mundo, a implantação da democracia moderna.

No início do século passado, chegaram à moda com Gerald Murphy, eleito o homem mais elegante da classe de Yale em 1912. Ele teria sido o primeiro a usar listras, nos salões aristocráticos da Riviera francesa: a camiseta tradicional dos marinheiros. Nos anos 30 o pintor Pablo Picasso ajudou a celebrizar as listras nas rodas intelectuais, divulgando o look em suas temporadas de verão na França e na Espanha. Também nos anos 30, a grande costureira francesa Coco Chanel ajudou a celebrizar as listras entre o público feminino. Negativas nos uniformes dos campos de concentração nazistas e dos presidiários do cinema e dos quadrinhos, as listras expandiram-se positivamente por outros corpos: de crianças, banhistas, marujos e esportistas, seus mais benignos usuários. A semiologia das listras é infinita e encontrou no estudioso Pastoureau um trabalho de ampla visão.

As listras apareceram em figurinos de filmes que marcaram a história do cinema e fazem parte dos
ciclos da moda, dos temas náuticos à alfaiataria risca-de-giz. Basta conhecer as roupas de Coco Chanel nos anos 20, ou as camisetas de marinheiro do estilista Jean Paul Gaultier . Nas histórias em quadrinhos os ladrões ou malfeitores ainda apresentam vestidos de listras berrantes e horizontais. Os personagens de Filochard na série Les Pieds Nickelés, os Irmãos Metralhas da Disney, os gêmeos Dupondt de Tintin, ou o Coringa, a outra moeda do Batman, entre outros. Até a figura da zebra, metáfora mais que repisada, tem caráter de exceção à regra, e os peixes que apresentam listras são os mais procurados porque são raros.

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"Colóquio História e Quadrinhos: a Bahia em HQ" terá oficinas de quadrinhos, debates, exposição, feira de livros e lançamentos



Em comemoração à Semana do Livro e Biblioteca que acontece em outubro, a Biblioteca Virtual 2 de Julho, unidade vinculada à Fundação Pedro Calmon/ SecultBA, realizará o "Colóquio História e Quadrinhos: a Bahia em HQ”. No Colóquio, será destacado a importância das ilustrações (charges, quadrinhos, cartuns e animações) como instrumento de divulgação da história e cultura da Bahia. Serão formadas três mesas de debates: “A história e a cultura da Bahia pelos quadrinhos”, “Novos traçados do mercado de quadrinhos na Bahia” e “Identidade nos traços”. O evento será realizado no Complexo Cultural dos Barris, de 13 a 17 de outubro, e tem inscrições abertas no site da Biblioteca Virtual 2 de Julho (www.bv2dejulho.ba.gov.br).

Também haverá feira de troca e venda de quadrinhos, espaço de interação, exposição e oficinas. Dentro do site da Biblioteca será disponibilizado o acervo digitalizado do cartunista Hélio Roberto Lage. Além de lançamento de publicações de editoras baianas, da Diretoria do Livro e Leitura (FPC). No dia 17, no encerramento do Colóquio, a Banda Herbert & Richard animará o público com músicas ligadas ao universo HQ.

Dentre os convidados, estão confirmadas as presenças dos cartunistas CAu GomeZ, Nildão, Gentil, Gutemberg Cruz, Caó Cruz Alves, Priscila Pimentel, Bruno Marcello, Jamile Coelho, Edu Santana, Danilo Dias, André Betonassi, Naara Nascimento, Hector Salas e Lila Cruz. Nos encontros serão discutidos itens como a produção e o mercado editorial de quadrinhos na Bahia, promovendo um intercâmbio entre profissionais de diferentes regiões do Brasil nesta área, além de uma oportunidade de ensinar a arte de construir um gibi, por meio de oficinas.

Toda a programação do evento pode ser consultada no site da Biblioteca Virtual 2 de julho, no endereço www.bv2dejulho.ba.gov.br

 

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