05 junho 2013

Consumo consciente III: Desperdiçar alimentos é má cultura e economizar é a palavra de ordem



Pense duas vezes antes de encher o prato de comida. Desperdiçar é uma má cultura dos brasileiros e economizar é a atual palavra de ordem. No país, 70 mil toneladas de alimentos plantados são jogados no lixo a cada ano, sendo o Brasil um país de 46 milhões de famintos, o desperdício chega a 37 quilos por pessoa/ano. Com a quantidade jogada fora seria possível alimentar 62 milhões de pessoas famintas na América Latina, sendo 9 milhões de crianças. Os dados são do novo relatório do Food and Agriculture Organization (FAO), Programa das Nações Unidas.

A perda de alimentos começa no campo com a retirada irregular na colheita, atingindo o montante de 10%, seguido pelo mau uso no manuseio e nos transportes que chegam a assustadores 50%, com 30% nas centrais de abastecimentos e 10% entre supermercados e consumidores, estes últimos que intensificam as perdas com o manuseio errado na hora da escolha do produto e a hora da feitura dos alimentos. Só para lembrar, dentro dos supermercados o consumidor é o principal agente de estrago, pois é ele quem mais machuca o alimento para verificar se está apto para o uso, e quando este alimento não é comprado, ele segue direto para o lixo.

De acordo com o Centro de Agroindústria de Alimentos, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o que mais se desperdiça no mercado são frutas e hortaliças. As frutas com maiores índices de ir parar no lixo são: banana (40%), Morango (40%), Melancia (30%), Abacate (26%), Manga (25%), Laranja (22%), Mamão (21%) e Abacaxi (20%). Nas hortaliças, os campeões de desperdiço são a Couve-flor (50%), Alface (45%) e Repolho (35%).

ALTERNATIVAS VERDES - A informação é um dos principais recursos para o consumo consciente. Saber utilizar frutas e verduras em todos os seus aspectos nutricionais ajuda a combater o desperdício e a ter uma alimentação mais saudável. As cascas, por exemplo, servem para a feitura de muitos doces e bolos e receitas criativas e saudáveis estão por todo canto, basta acessar a internet. 

Mas, para quem não é mestre na cozinha, e não tem a possibilidade de utilizar recursos digitais, o Serviço Social da Indústria (SESI) desenvolveu o programa Alimente-se Bem, que oferece cursos gratuitos sobre como aproveitar alimentos ricos e nutritivos que são jogados fora e o custo sai por apenas R$ 1. O SESI desenvolve ainda o Projeto Cozinha Brasil, com o objetivo de ensinar as comunidades de pequeno porte forma de preparo dos alimentos com baixo custo e de grande valor nutritivo priorizando os alimentos da própria região. O programa atende a 17 municípios baianos. Uma outra alternativa verde serve para comerciantes de pequeno e grande porte. A sugestão é doar frutas e verduras que não vendem, por estarem amassadas, cortadas ou “feias”, para grupos sociais ou entidades que utilizam para consumo próprio e/ou distribuição para segmentos carentes.

Já os empresários de restaurantes podem doar os alimentos não consumidos tendo em vista o Estatuto do Bom Samaritano, projeto de Lei nº 4.747/98, criado pela Comissão de Constituição de Justiça da Câmara dos Deputados, que isenta de responsabilidade penal ou civil, pessoas ou empresas privadas não prestadoras de serviço público que doarem alimentos perecíveis para programas governamentais ao desperdício e combate à fome. O receio anterior dos empresários era que esse alimento se deteriorasse antes de chegar ao beneficiado e que as empresas fossem multadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Estima-se que atualmente, 30% dos alimentos preparados em restaurantes são jogados no lixo, sem sequer serem consumidos.

CRISE DE ALIMENTOS - Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), de 6,5 bilhões de pessoas em 2005, chegaremos a 8,3 bilhões em 2030. Com o crescimento populacional, o aumento o número de pessoas que devem se alimentar cresce consideravelmente. O medo das instituições internacionais é que a falta de distribuição de alimentos nos grandes centros mundiais, gerem revoltas populares como já aconteceu no Haiti, Indonésia, Camarões e Egito. Além do desperdiço, entenda que outros sintomas são responsáveis pela crise que gerou o aumento nos produtos alimentícios.

O petróleo e seus derivados estão com o preço em níveis altíssimos, causando impacto a partir de cadeias produtivas e distribuidoras, afinal, se precisa do petróleo para quase todas as etapas de produção do alimento, desde a utilização de óleo diesel para gerar energia nas máquinas, os fertilizantes utilizados nas plantações possuem em seus componentes diversos derivados do petróleo, além de precisar dele para gerar o combustível para transportar os caminhões que levam os alimentos para venda. Além disso, o dólar, moeda usada para a cotação das commodities (matérias primas) esteve em queda, o que levou os fornecedores a aumentar o preço dos produtos para compensar a desvalorização. Outro fator para a crise que se instalou, são as secas que alguns dos produtores mundiais sofreram. O Brasil, por exemplo, teve problemas com a safra em
2005 e 2006, causando uma baixa de estoque e um aumento no valor do consumo, gerando assim, um outro aumento, agora no preço.

A ONU ataca o Brasil por afirmar que um dos grandes problemas da crise mundial é o desvio da produção agrícola para a produção de biocombustível sabendo que o país é o principal exportador de álcool do mundo e utiliza a cana-de-açúcar para extrair o produto. Segundo eles, a oferta cai em momento de alta demanda, causando a elevação dos preços. Com todos esses aspectos reais de crise é necessário assumir uma postura mais racional  levando em conta as perspectivas econômicas, sociais e ecológicas, porque se continuarmos a desperdiçar como estamos fazendo, uma crise vai chegar, se instalar e não ter fim.

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