14 junho 2010

A volta da febre de figurinhas

Figurinha não é mais objeto de cobiça apenas da criançada, mas também de muito adulto. Aqui em Salvador é fácil encontrar donos de bolos de figurinhas repetidas doidos para fazer trocas. Nada de cinco por R$ 0,75, o preço cobrado pelo pacotinho na banca. Mas, sim, três por R$ 1. Esse é o valor de mercado. O mesmo acontece em dezenas de endereços da cidade, que viraram ponto de encontro de colecionadores. Como manda a lei da oferta e da procura que dita as regras do varejo, ganha quem tem o produto mais raro e cobiçado. Com o lançamento do Álbum Oficial da Copa do Mundo 2010 a brincadeira virou febre em várias cidades


Originalmente as figurinhas eram feitas em papel e os colecionadores tinham que fixá-los no álbum usando cola. No final dos anos 60 pedaços de adesivos dupla face eram colados no verso das figurinhas, para que as mesmas pudessem ser fixadas no álbum sem o uso de cola. No dia 28/07/1991 publiquei uma reportagem no jornal A Tarde que reproduzo a seguir:

Os álbuns de figurinhas exercem um grande fascínio sobre as crianças e adolescentes. No momento, estão circulando cerca de 30 nas bancas de jornais e revistas. A febre voltou e a garotada fica ansiosa para completar seus álbuns, cujas figurinhas ou cromos reproduzem imagens fotográficas ou desenhos de artistas de cinema, personagens de quadrinhos, futebol, animais e uma infinidade de temas. Muitas crianças quando têm figurinhas repetidas, fazem troca ou “bafo”. Conheça um pouco mais dessa mania de mais de um século.


Utilizando a estampa de personagens consagrados como os da Turma da Mônica, Jaspion, Pica Pau, Snoopy, Bob Esponja, Zé Carioca e Popeye, estão de volta os álbuns de figurinhas. As editoras adotam os lançamentos regionalizados. Um álbum é lançado primeiro em uma região e, dependendo da aceitação, o lançamento é feito em outra região. Isto evita a falta de figurinhas e permite lançamentos semestrais.


Os Super-Heróis da Marvel com figurinhas do Capitão Marvel, Homem Aranha, Justiceiro, X-Men, Os Vingadores e muitos outros fizeram sucesso no Brasil. Quando o garoto começa a comprar as figurinhas nas bancas para completar o álbum, alguns que falta ele troca com os amigos na escola ou faz o tradicional bafo. A brincadeira bafo é feita quando se tem vários cromos duplicatas. Então os garotos colocam as figurinhas no chão e bate com a mão semi-fechada (em forma de concha), “abafando” a figurinha para ela virar para o lado direito.


“A figurinha hoje não é mais artística. Antes era colorida a mão e tinha uma série de formatos, abrangendo toda a cultura universal. Atualmente, é mais comercializada, enquanto que, naquela época, era mais informativa e cultural. Basta conhecer as estampas do sabonete e creme dental Eucalol que dava condições às pessoas de terem conhecimento geral”. A opinião é de Antônio Marcelino, fundador do Tempostal, o templo dos postais. E ele mostrou, emocionado, as estampas de Eucalol, “verdadeira enciclopédia”, apresentando o Brasil antigo, lendas, danças, brasões, uniformes do Brasil colonial, a vida de grandes vultos. No verso das estampas, as legendas informativas das imagens. Marcelino mostrou também o álbum de Branca de Neve, dos 40, e muitos outros, mas sua verdadeira paixão é pelo cartão-postal.

PÚBLICO - Destinados a um público quase que exclusivo e necessariamente infantil, muitas crianças quando têm figurinhas repetidas fazem trocas ou bafo. Além das diferentes abordagens que podem ter, como futebol, animais, atores, transportes e outros temas já incorporados ao universo temático do livro de figurinhas os álbuns deixam muito pouco espaço para que aflorem outras atualidades, como a mulher, o negro, o operário, o índio, o meio ambiente, o Carnaval e/ou festas populares.


Para o jornalista Gonçalo Júnior, “os temas variam de acordo com os modismos da época. Outrora traziam as fotografias de tricampeões mundiais de futebol, como Pelé e Tostão; depois, a seleção dos principais inventores ou aqueles que fizeram a nossa história; a seguir, os ases da Fórmula 1; até chegar aos personagens de quadrinhos e, por fim, os fantásticos intergaláticos e heróis da televisão que fazem a fantasia da garotada. Elas são as imortais figurinhas para colecionar. E não tem dado outra: geração vem, geração vai e elas estão aí”.


“Como explicar isso?”, pergunta Gonçalo. “Talvez uma análise mais aprofunda sobre o assunto seja uma tarefa para psicólogos, cientistas sociais e colegas afins. Mesmo a grosso modo, o que causa tanta euforia nos colecionadores de figurinhas? Seria o suspense do próximo pacotinho, a figurinha tão esperada? A curiosidade infantil em montar as sequências e ter a história (narrada em cromos – outra denominação das figurinhas) ou esse nosso incansável desejo de conquista, de completar aquele desafio? Provavelmente isso e um pouquinho mais, já que as figurinhas não fascinam só seu público-alvo, as crianças. Muitos adultos aproveitam a empolgação dos seus filhos e netos e se entregam por completo a essa aventura de completar o álbum, até financiando altos investimentos em pacotinhos”.


Apesar do alto custo para se completar um álbum, nem sempre as figurinhas são distribuídas com “boas intenções”. Ainda hoje é comum – e a imprensa tem denunciado – no interior do estado, a circulação de figurinhas “enganosas”, prometendo milhares de prêmio valiosos como inúmeras bicicletas, televisores e até carros – que nunca são ganhos. Elas se caracterizam por desenhos malfeitos, papel de baixa qualidade e impressão inferior, facilmente falsificável. O golpe é o mesmo em todo lugar: o colecionador só ganha o valioso prêmio se completar uma sequência ou página (tipo quebra-cabeça). O detalhe: gastam-se “fortunas” na busca da figurinha premiada que nunca é encontrada – sequer chegam a ser impressa. A não ser que o prêmio seja um jogo de copos ou uma bandeja de custo menor. ). Amanhã contaremos como essa mania começou.


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Um comentário:

Anônimo disse...

quero comercializar com este trabalho de figurinhas, como e aonde posso comprar com custos baixos. tem telefone que eu possa entrar em contato?