21 outubro 2008

Crime e castigo na visão de uma antropóloga (2)


A evidência do modo como a religião contribui para a construção de processos de paz, mas também para a formação da intolerância religiosa é uma outra descoberta inovadora que Alba Zaluar traz para os seus leitores. Para a autora, a falência das instituições do Sistema de Justiça criou um ambiente de incerteza institucional, onde os indivíduos, principalmente os mais pobres, não sabem a quem recorrer diante das suas necessidades. Deste modo, a religião surge como um caminho para a paz e para a solução dos problemas – pelo menos de modo imaginário. Contudo, nem todos decidem buscar a religião. Os “ateus”, neste caso, passam a ser os representantes do mal; os “missionários” do diabo. Portanto, é neste instante, que se dar início a um processo de desenvolvimento da intolerância religiosa por parte dos que “aceitam” Deus.

Nos estudos de diversos analistas no assunto, as “causas” da violência no Brasil estariam nas “características da economia subterrânea, atrelada ao modelo de desigualdade social do país. Desde os anos 1980, chamo a atenção para a sinergia entre: a)o recrutamento de jovens pelo mercado de drogas nas favelas e bairros pobres, onde é comum o uso de armas de fogo; b)a pobreza, ou seja, as oportunidades educacionais e econômicas inadequadas ou inexistentes; c)as formações subjetivas desenvolvidas dentro e fora da escola e cristalizadas em torno do etos guerreiro que forja o orgulho do homem pela capacidade de destruir fisicamente o inimigo”.
“Este livro – escreveu Alba Zaluar na abertura da obra – procura trazer as várias vozes ouvidas na tragédia particular de uma guerra sem sentido e sem fim que ocorre nas mais ricas e maiores cidades brasileiras, divididas também pelos efeitos do fundamentalismo cristão que reencantou o mal posto nas outras religiões, pelos efeitos do facciosismo político brasileiro e pelos bairrismos e corporativismo que tanto atrapalham a execução de políticas públicas eficazes no combate à pobreza e na montagem da segurança cidadã”.
A elaboração de políticas públicas ocupa espaço nas análises de Alba Zaluar. Para a autora, as ações do Estado nas áreas de educação, cultura e saúde são de extrema necessidade para enfrentar a formação e até a consolidação do tráfico de drogas nos bairros pobres. Mas isto não é suficiente. É importante salientar que Zaluar deixa claro que as medidas nas áreas de saúde e educação são preventivas; e que os consumidores de drogas não estão apenas nas favelas, estão presentes em todos os estratos sociais. Em sua abordagem sobre políticas públicas, Alba Zaluar mostra as dificuldades dos pesquisadores de obterem dados criminais no Brasil. Estas dificuldades são motivadas por eles não existirem, não serem confiáveis ou não serem disponibilizados. E de fato isto é um grande problema. A escassez de informação sobre os homicídios no Brasil permite que as suas verdadeiras causas não sejam descobertas. Neste sentido, os pesquisadores ficam limitados em analisar o que possibilita o expressivo número de mortes violentas no País. Alba Zaluar, mais uma vez, mesmo reconhecendo as limitações das informações, procura causas para explicar a violência contra os indivíduos. Numa análise comparativa, envolvendo vários estados, a pesquisadora revela que pobreza e crescimento urbano não são variáveis satisfatórias para explicar os homicídios.
Outro livro que aborda a violência: “Sociedade do Medo” (Edufba), organizado pelo sociólogo Gey Espinheira. Traz três capítulos de autoria de Espinheira e textos de estudantes de graduação, profissionais e professores-doutores participando do projeto Convivência, Arte & Criação, realizado em Mata Escura, em 2007, com 45 jovens.

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