07 abril 2008

Religiões monoteístas vendem ilusões (1)

Por trás do discurso pacifista e amoroso, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo pregam na verdade a destruição de tudo o que represente liberdade e prazer. Essas religiões exaltam a submissão, a castidade, a fé cega e conformista em nome de um paraíso fictício depois da morte. A opinião é do filósofo francês Michel Onfray (que estará em Salvador no dia 28 de maio), autor de Tratado de Ateologia. Para ele as três grandes religiões monoteístas vendem ilusões e devem ser desmascaradas e é urgente se passar da era da religião para a era da filosofia de massa.

Sobre as contradições entre a pregação da paz e da violência ele informa: “O famoso sexto mandamento da Torá ensina: ´Não matarás´. Linhas abaixo, uma lei autoriza a matar quem fere ou amaldiçoa os pais (Exodo 21:15 e adiante). Nos Evangelhos, lê-se em Mateus (10:34) a seguinte frase de Jesus: ´Não vim trazer a paz, e sim a espada´. O mesmo evangelista afirma a todo instante que Jesus traz a doçura, o perdão e a paz. O Corão afirma que ´quem matar uma pessoa sem que ela tenha cometido homicídio será considerado como se tivesse assassinado toda a humanidade´ (quinta sura, versículo 32). Mas ao mesmo tempo o texto transborda de incitações ao crime contra os infiéis (´Matai-os onde quer que os encontreis´, segunda sura, versículo 191), os judeus (´Que Deus os combata´, nona sura, versículo 30), os ateus (´Deus amaldiçoou os descrentes´, 33ª sura, versículo 64) e os politeístas (´Matai os idólatras, onde quer que os acheis´, nona sura, versículo 5)”.

E diz mais: “A fraqueza, o medo, a angústia diante da morte, que são as fontes de todas as crenças religiosas, nunca abandonarão os homens. Por outro lado, é preciso que alguns espíritos fortes, para usar uma expressão do século XVII, defendam as idéias justas. A questão é converter novos espíritos fortes. Só isso já seria muita coisa”.

A reivindicação ateísta de Onfray caminha junto com a reabilitação do corpo, dos sentidos e dos prazeres. Seus livros questionam sobre si mesmos e sobre a vida. O primeiro deles, em 1989, O Ventre dos Filósofos é um verdadeiro convite para conhecer a cozinha e sentar-se à mesa com os grandes filósofos. A Arte de Ter Prazer, A Escultura de Si e A Potência da Existência se propõem a reabilitar os outros sentidos criticados e desprezados.

O filósofo Michel Onfray fundou, em 2002, uma universidade popular em Caen (norte da França), com o objetivo de democratizar a cultura, proporcionando gratuitamente o saber para o maior número possível de pessoas, lançando as bases para uma autêntica “comunidade filosófica” contra o mercantilismo dos saberes.

As aulas são gratuitas e os participantes totalmente livres. Participa quem quer, sem precisar se inscrever previamente, sem condições de idade ou de diploma, e sem, precisar submeter-se a um controle dos conhecimentos. Os cursos articulam-se entre uma exposição e uma discussão entre o professor e a platéia. Dessa forma Onfray defende o poder emancipador da pedagogia libertária. Dentro da lógica de Michel Onfray, a universidade popular se inspira na universidade tradicional (qualidade das informações, progressão pessoal, transmissão de um conteúdo antes de todo debate). Gravadas pelo rádio público France Culture, as aulas de Onfray são sucessos de audiência.

Numa entrevista ao Le Monde de L´Education Michel Onfray defende o poder emancipador da pedagogia libertária. A miséria social e moral das nossas sociedades impõem a necessidade de ensinar a todos um saber alternativo e crítico, até porque muitos intelectuais deixaram de se preocupar em tornar popular o saber filosófico. “A instituição escolar é esquizofrênica: ela tem um discurso, mas leva a cabo uma prática nos antípodas daquele discurso. O discurso é este: a escola forma a inteligência, constrói indivíduos cultivados cujo saber lhes permitiria desenvolver juízos esclarecidos, ensina a ler, a escrever, a fazer contas, a pensar, ela formaria o cidadão ao educá-lo para a liberdade. Mas, a verdade, é que na prática ela negligencia a inteligência para privilegiar o exercício da memória e da repetição calibrado em função de um programa feito para isso. A educação nacional ensina, sobretudo a submissão, a docilidade, a hipocrisia, o artificial. Só assim se pode explicar que num curso de 7 anos de inglês se consiga fazer tão poucos jovens bilíngües. O que é que se aprende durante aquelas intermináveis horas de aprendizagem de línguas senão a arte de bem funcionar dentro da máquina que permita a passagem para o ensino superior, e a produção de diplomas úteis para o mundo da integração social”.

Fala da genealogia dessa pedagogia libertária que defende: “Se o termo libertário significar ´o que educa a liberdade´, ou ´o que faz da liberdade o bem supremo´, sem dúvida, que poderíamos começar com Sócrates e a sua maiêutica, a sua arte de desenvolver as potencialidades de cada qual e torná-las em realidades tangíveis, podemos depois continuar com Diógenes e os filósofos cínicos que usam um bastão para mandar embora os que procuram um mestre e a submissão. Prosseguimos com Erasmo, o grande e imenso Erasmo, e, certamente, Montaigne, que tanto lhe deve, para falar de várias matérias, como a Educação e tantas outras. Passamos depois para Nietzsche que ensina que um bom mestre é aquele que aprende aquilo que se desprende de si. Seria preciso ainda falar, com certeza, dos autores libertários, que a história conheceu, como Max Stirner e o seu ´Falso Princípio da Nossa Educação´, Sébastien Faure, que aplicou o seu método em La Ruche, mas ainda A.S. Neill e os seus ´Jovens livres de Summerhill´ que me fizeram desejar tornar-me professor antes de me desiludir na Escola Superior de Educação. Seria ainda preciso acrescentar o excelente livro ´Advertência aos estudantes e liceais´ de Raoul Vaneigem.

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