
Quatro meses depois de seu casamento, depois de libertinagens indiscretas, sofre sua primeira prisão, muito breve, na torre de Vincennes. Em 1768 surge o primeiro caso “sádico”, quando chicoteia cruelmente uma mendinga na Páscoa. Ele consegue fugir e Sade fica preso durante sete meses. Libertado, ele vai para o castelo de La Coste, na região de Vaucluse, e, em 1772, promove outra facécia libertina. Trata-se, desta vez, de uma grandiosa bacanal com um batalhão de prostitutas. Desta vez Sade entrega-se ao flagelo ativo e passivo, à sodomia homossexual. Para robustecer seus prazeres, serviu em quantidade de bombons afrodisíacos. Uma das mulheres sentiu-se mal e teve uma crise de vômitos. O caso tem repercussão. Acusado de envenenamento e sodomia, Sade é condenado à morte pelo parlamento da Provença e executado, simbolicamente. Ele consegue fugir e vive na Itália com acunhada, que compartilha não somente de suas viagens, mas também de seus prazeres. Sua sogra, furiosa, faz com que o persigam ativamente e utiliza sua influência para obter uma ordem de prisão.
Até 1775 ele se esconde da justiça e dos policiais. Preso, consegue evadir-se de forma romanesca esse esconde em La Coste com sua mulher. Ela também compartilha dos festins que ele organiza com cinco meninas que contratou por seus serviços e que acabarão por denunciá-lo. Preso em 1776, é levado a Vincennes e depois à Bastilha, onde permanece até1788, depois para Charenton, de onde sai somente em 1790 em virtude do decreto da Assembléia Nacional abolindo a ordem de prisão.
Uma condenação à morte e 15 anos de prisão por aos de libertinagem audaciosos e perversos nas barbas da polícia e quase sob sua proteção, nos bordéis da moda, e que nada tem a ver com os verdadeiros atos de sadismo mortal aos quais se entregavam com toda a impunidade contemporâneas melhor protegidos que o marquês de Sade das perseguições de uma sogra que odiava seu genro com uma aversão atuante. A opinião pública, exasperada com os exageros cometidos todos os dias até mesmo por pessoas próximas ao Rei e com a indulgência que a justiça demonstrava em relação aos grandes, teria pressionado as autoridades por atos pelos quais outros eram poupados. Ele confessou: “Sim, sou um libertino, eu confesso, concebi tudo o que é possível conceber nesta matéria; mas seguramente não fiz tudo o que concebi e seguramente não o farei jamais. Eu sou um libertino, mas não sou nem um criminoso, nem um assassino”.
A Revolução lhe devolvera a liberdade. O terror devia retomá-lo. Preso em 1793, Sade foi salvo do cadafalso pelo fim do terror. Foi solto em 1794, viveu alguns anos de tranqüilidade – mas com problemas financeiros – compartilhado com Marie-Christine Quesnet, até 1801. Sob o novo regime foi preso como autor de obras obscenas e encarcerado em Sainte-Pélagie, depois em Bicêtre. Em 1803 foi transferido para a asa de saúde de Charenton, onde o teatro tornou-se sua principal distração e onde morreria, considerado louco, sem ter recuperado a liberdade, em 1814.
A segunda metade do século XVIII parecem desencadear-se numa espécie de corrupção generalizada, sobretudo entre a sociedade dourada que se aproveita da impunidade concedida aos grandes pela autoridade que não quer toca-los. São abundantes os exemplos, na alta aristocracia, de casos de sodomia e de incesto até sobre os degraus do trono, de personalidades em evidência que apenas escapam ao suplício da roda ou do cadafalso graças a sua alta condição social, à tradição de seus nomes e às proteções de que se beneficiam. Existia uma realidade social do sadismo e que Sade apenas teria o trabalho de abeberar-se nos quadros vivos que lhe ofereciam seus contemporâneos. Sade foi a besta negra, o bode expiatório, a vítima do Antigo Regime agonizante, no momento em que este, vendo o mundo que sustentava esboroar-se por toda parte, tentava salvar sua existência com a instauração de uma ordem moral destinada a mascarar sua fraqueza e seu esgotamento.
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