29 março 2007

Imprensa alternativa & poesia marginal

Tragédia: Vladimir Maiakovski, Godofredo Filho e o Modernismo na Bahia, O poeta Arthur de Salles em Sergipe, e Imprensa Alternativa & Poesia Marginal anos 70. Esses são os títulos das obras do jornalista, pesquisador e professor Gilfrancisco lançado no mercado editorial sergipano através da Faculdade Atlântico. Em poucos mais de 100 páginas Gilfrancisco resgata a história de Wlademir Herzog para o jornalismo e de Waly Salomão, Torquato Neto, José Carlos Capinam, Antônio Risério, Paulo Leminski, Abel Silva, Cacaso e Claudius Portugal para a cultura.

Segundo Ângelo Barroso, no prefácio, “os anos 60 serviram para a afirmação de alguns grupos de poetas que buscavam soluções no aproveitamento visual da página em branco, na sonoridade das palavras e nos recursos gráficos, dentre esses grupos vamos ter a poesia concreta e a poesia Práxis, sem deixar de salientar a importância da poesia marginal. Que se desenvolveu fora dos grandes esquemas editoriais e comercias (...) Nos diabólicos e repressivos anos 70, a poesia rompeu o compromisso com a realidade, com o intelectualismo e com o hermetismo modernista dos anos 20 e partiu para ser marginal, diluidora, anti-cultural, pós-moderna, sem constituir um movimento unificado, poetas jovens se declararam marginais e pipocaram de norte a sul do país”.

Assim Gilfrancisco vasculhou folhetos, jornais, revistas, antologias e disco de vinil para reunir essa antologia e registrar nesse livro. A Sociedade Alternativa & Poetas na Praça (aqueles do Largo da Piedade) não foram esquecidos, Waly Salomão senhor das línguas & das linguagens, os versos proscritos de Ana Cristina César, Capinam – Soi loco por ti América, Torquato Neto um poeta desfolha a bandeira, Liminski o poeta samurai kamiquase, a poesia marginal de Mário Jorge, Cacaso um marginal transgressor, Chacal viajante de loucos pensamentos, os poetas Abel Silva, Claudius Portugal, Antonio Risério, Marginalidade Plácida na MPB. Além das letras de músicas de Patinhas, Cacaso, Capinam, Abel, Ronaldo Bastos, Jorge Mautner, Wali, Torquato Neto, Leminski, Tavinho Paes, Beu Machado, Chacal e muitos outros.

A herança do ideal da chamada beat generation (cujos valores revolucionaram o comportamento dos jovens dos Estados Unidos no período do pós-guerra) está impregnada no espírito da poesia marginal de Chacal e seus jovens colegas do Rio de Janeiro praticavam em 1975. Eles não queriam parecer com Carlos Drummond de Andrade, mas sim com Bob Dylan. Não almejavam apenas fazer poemas, mas viver poeticamente. O termo "marginal" não remete à noção de fora-da-lei e se aplica a autores que tinham dificuldade para emplacar suas obras em editoras de grande porte. Não é à toa, que eles foram imortalizados pela expressão "geração do mimeógrafo", já que se valiam dessa máquina para levar ao público consumidor, de forma ágil e barata, livros de pequena tiragem bancados por conta própria.

A poesia marginal também seguiu a trilha aberta pela imprensa alternativa, de que se destacam os jornais "Opinião", "Movimento" e "Pasquim". O florescimento da poesia marginal é fruto do choque entre a atmosfera repressiva, no plano político interno, e a metamorfose comportamental que se verificava em esfera mundial - o movimento hippie, o festival de Woodstock.

Também conhecida como imprensa nanica, designa os veículos produzidos por entidades independentes, numa alternativa aos órgãos tradicionais nos quesitos ideologia, estilo e abordagem temática. O jornal O Pasquim, que circulou no Brasil entre os anos 60 e 80, a agência nova-iorquina Alternative Press Syndicate e o periódico Boca de Rua, produzido e distribuído por moradores de rua, em Porto Alegre/RS, constituem modelos emblemáticos de órgãos da imprensa alternativa. Foram órgãos de resistência do livre pensar.

Por isso, o livro de Gilfrancisco é de grande importância para a atual geração. Licenciado em Letras pela Universidade Católica de Salvador, Gilfrancisco é professor universitário e desenvolve a atividade paralela de jornalista contribuindo com trabalhos em diversos intercâmbios de comunicação. Já dizia o poeta Abel Silva, “hoje, no Brasil, o papel do escritor é tornar a literatura necessária”. A do nosso João Santana Filho (o Pastinhas) tem o Sinal de Amor e Perigo: “Enquanto o amor for pecado e o trabalho um fardo/pesado passado presente mal dado/as flores feridas se curam no orvalho/mas os homens sedentos não encontram regato/ que banha seu corpo e lave sua alma/o desejo é forte mas não salva”.

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