13 fevereiro 2007

Cante conosco os anos de folia (5)

A comercialização desenfreada da música popular brasileira, tornada indústria rendosa, movimentando enorme cópia de interesses havia que influir no setor melódico do carnaval. As empresas gravadoras, comerciais que o são, teriam de agir em função dos seus objetivos de lucro. Também os compositores, solidamente organizados, disputaram numa concorrência puramente mercantil, que assume às vezes proporções de batalhas. Intérpretes igualmente participaram da luta que é dura, mas lucrativa. E, como geralmente acontece no carnaval, ou fora dele, nessa feroz competição comercial só o povo é passado para trás. O povo que rebocado pelos conjuntos que o acompanhava, acabou como acompanhante... Cantando e pulando de acordo com alto falantes ou com a orquestra que no baile executa programa previamente elaborado. Assim tudo é controlado, dirigido... Mesmo assim o nosso Carnaval teve pérolas musicais:


1980:
“Quantos aqui ouvem os olhos eram de fé/quantos elementos amam aquela mulher/quantos homens eram inverno outros verão/outonos caindo secos no solo da minha mão//Gemeram entre cabeças a ponta do esporão/a folha do não-me-toque e o medo da solidão/veneno meu companheiro desata no cantador/e desemboca no primeiro açude do meu amor/é quando o vento sacode a cabeleira/a trança toda vermelha/um olho cego vagueia procurando por um...” ( Frevo Mulher, de ZécRamalho)

1981:
“Eu sou o carnaval em cada esquina do seu coração(menina)/eu sou o pierrot e a colombina de Ubarana-Amaralina/que alucina a multidão (eu sou) 2x//Toda a cidade vai navegar no mar azul badauê/fazer tempêro, se namorar na massa, no massapê (2x)//Baba de moça no carapuá é ganzá, bongô, agogô, pirá (2x)” (Carnaval em Cada Esquina, de Moraes Moreira e Rizério)

“Varre, varre, varre vassourinhas/varreu um dia as ruas da Bahia/frevo, chuva de frevo e sombrinhas/metais em brasa, brasa, brasa que ardia/varre, varre, varre vassourinhas/varreu um dia as ruas da Bahia//Abriu alas e caminhos pra depois passar/o trio de Armandinho, Dodô e Osmar (bis)//E o frevo que é pernambucano, ui, ui, ui, ui/sofreu ao chegar na Bahia, ai, ai, ai, ai/um toque, um sotaque baiano, ui, ui, ui, ui/pintou uma nova energia, ai, ai, ai, ai//Desde o tempo da velha fubica, hahahahaha.../parado é que ninguém mais fica//É o frevo, é o trio, é o povo/é o povo, é o frevo, é o trio/sempre junto fazendo o mais novo (bis)/carnaval do Brasil”. (Vassourinha Elétrica, de Moraes Moreira)

“Você sabe o que é tiete?/tiete é uma espécie de admirador/atrás de um bocadinho só do seu amor/afins de estar pertinho, afins do seu calor//Hoje eu sou o seu tiete/às suas ordens, ao seu inteiro dispor/de imediato aonde você for eu vou/no ato, no ato/pro mato, pro motel, de moto ou de metrô//Tititititi/como é bom tietar/seu amor inatingível//Tititititi/e se você deixar/eu farei todo o possível/pra alcançar o nível do seu paladar”. (Marcha da Tiete, de Gilberto Gil)

“No azul de Jezebel/no céu de Calcutá/feliz constelação/reluz no corpo dela/ai tricolor colar//Ás de maracatu/no azul de Zanzibar/ali meu coração/zumbiu no gozo dela/ai mina aperta a minha mão/alá me “only you”/no azul da estrela//Aliás bazar da coisa azul/meu “only you”/é muito mais que o azul de Zanzibar/Paracuru/o azul da estrela/o azul da estrela” ( Zanzibar, de Armandinho e Fausto Nilo)

“Alô, Alô pessoal do alô/vai ter auê, badauê, ebó/chilique do cacique/no ponto chique/atrás do cheirinho da loló/mas qual é o pó?/quem é do roçado/ralando coco se dá melhor/sou pena branca/da zona franca/de Maceió/vendendo peixe/passando piche/sou azeviche/Apache do Tororó”. (Pessoal do Alô, de Moraes Moreira e Risério)

1982:
“Transando o corpo e a cuca numa naice/curtindo um beise bem relex/com a rapeize do arpex/ta bom, ta bom, ta boa/seja no Baixo Leblon/ou na terra da Garoa//E agora que o sol já vem/já vem, já vem/trazendo toda energia/doida não atende ninguém/vive o verão da Bahia/sabendo o que a vida ensina/sina, sina/sabe do bem e do mal/e o ano só termina/quando é carnaval//Primavera no Rio de Janeiro/o verão da Bahia ´[e uma idéia” (As Quatro Curtições do Ano, de Moraes Moreira).

“Fagulhas, pontas de agulhas/brilham estrelas de São João/babados, xotes e xaxados/segura as pontas, meu coração/bombas na guerra magia/ninguém matava/ninguém morria/nas trincheiras da alegria/o que explodia era o amor” (Festa do Interior, de Moraes Moreira e Abel Silva).

1984:
“Eu quero um banho de cheiro/eu quero um banho de lua/eu quero navegar/eu quero uma menina/que me ensine noite e dia/o valor do B-A-BA/O B-A-BA dos seus olhos/morena bonita da Boca do Rio/O B-A-BA da Bahia/sangrando alegria, manhã de folia/magia, magia, dos filhos de Ghandi/no B-A-BA dos baianos/que chame bonito o santo que deu/no B-A-BA do Senhor do Bonfim/no B-A-BA do sertão/sem chover, sem colher, sem comer, sem lazer/do B-A-BA do Brasil” (Banho de Cheiro, de Carlos Fernando).

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