22 dezembro 2006

Música & Poesia

Debaixo D'água (Arnaldo Antunes)


Debaixo D'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido
só faltava respirar, mas tinha que respirar.
Debaixo D'água se formando como um feto, sereno, confortável,
amável, completo, sem chão, sem teto, sem contato com o ar,
mas tinha que respirar, todo dia

Todo dia, todo dia, todo dia (2x)
Debaixo D'água por enquanto, sem sorriso, sem pranto, sem lamento,
sem saber o quanto esse momento poderia durar, mas tinha que respirar.
Debaixo D'água ficaria para sempre ficaria contente longe de toda
gente para sempre no fundo do mar, mas tinha que respirar, todo dia.

Debaixo D'água protegido, salvo, fora de perigo, aliviado, sem perdão
e sem pecado, sem fome, sem frio, sem medo, sem vontade de voltar,
mas tinha que respirar,
Debaixo D'água tudo era mais bonito, mais azul
mais colorido só faltava respirar, mas tinha que respirar, todo dia.


Abraça o Meu Abraço (Arnaldo Antunes / Aldo Brizzi)

abraça o meu abraço e abre aspas e couraça e casaca e roupa até o polpa o nervo a voz antes da boca aonde a mesma brasa ilesa siamesa dorme acesa embaixo d´ água abraça o breu do meu abraço e sua o seu no meu suor na nossa massa mancha que absorve engole goma o seio soma o seu no meio meu aberto peito perto alcança o céu no vôo cego que amalgama à nossa sombra a escuridão que órbita em volta cruza a curva de um contorno que devolve ao mesmo a sua carne pele em forma líquida abraçada nesse agora que me abraça e que me abraça e que me abraça e que me abraça

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