25 julho 2006

Recruta Zero nasceu sem futuro militar

Como o Recruta Zero não tem nenhum irmão general, ele continua como recruta há nada menos do que 55 anos, quando alistou-se no Exército Americano. Pois é: o personagem do desenhista Mort Walker está completando cinco décadas e meia, e a essa altura é um soldado raso. Para quem não está bastante ligado, o Recruta Zero é uma história em quadrinhos escrita com o humor satírico de Mort Walker que ironiza numa boa com a vida de garotões e de coronéis durões, cujas “existências são tão livres quanto a dos pássaros nas gaiolas”.

Há 55 anos, mal nascia, o recruta alistava-se no Exército dos Estados Unidos, enfrentando o caos da Guerra da Coréia, Vietnã e a censura. O mais famoso soldado raso sobrevive até hoje em mais de 500 jornais do mundo inteiro, traduzido em cerca de 20 idiomas. Tudo isso começou a 4 de setembro de 1950, quando Recruta e mais personagens circulavam em 12 jornais. Tratava-se da tira intitulada Beetle Bailey apresentando um simpático e preguiçoso universitário americano que, entre nós, teve seu nome traduzido para Zero. A repercussão aconteceu mesmo quando estourou a guerra entre EUA e Coréia e o cartunista Walker resolveu alistar Zero e toda a tirinha. Imediatamente a tira passou a aparecer em cerca de cem periódicos e não parou de crescer. Hoje em dia, não tem quem não o identifique com seu peculiar bonezão caído sobre os olhos que nunca contemplamos. Assim, o recruta dorme de chapéu, toma banho de chapéu e os leitores aceitam na maior, como um a idiossincrasia do gozado soldado raso.

O personagem é um soldado raso preguiçoso, sempre procurando escapar de seu superior imediato, o Sargento Tainha. Tagarela, profano, estático, duro, sentimental e furioso, Tainha leva tudo ao extremo. Dentinho é um sujeito bem devagar, um jovem caipira. General Dureza é o líder que não consegue liderar um escoteiro a uma loja de doces. No desfecho da Guerra da Coréia, Walker resolveu mudar o esquema da história porque “a essas alturas já estava acostumado a certos luxos, como comer três vezes ao dia. Achei que uma boa solução fosse trazer Zero de volta pra casa”, conta o desenhista. A solução foi fazê-lo voltar ao convívio familiar. Daí o plano: “Criei uma irmã e um cunhado, Zezé e Cia e seus filhos, para manter o argumento do conflito. Após somente duas semanas os leitores exigiam o retorno de Zero ao exército e eu cedi. Mesmo assim continuei gostando de escrever piadas familiares e então institucionalizei Zezé e Cia. Os personagens até que mudaram um pouquinho, mas são basicamente os mesmo”.

O Recruta Zero já nasceu sem futuro militar. O Pentágono proibiu a sua divulgação no fim da Guerra da Coréia (1953) porque o personagem, tendo se alistado no início do conflito, dava um mau exemplo à juventude: gozava os praças americanos fazendo tudo errado e, por isso mesmo, de sua enorme impopularidade, só caiu em 1965, em plena Guerra do Vietnã. E Zero é hoje publicado em mais de 500 jornais do mundo inteiro.

A filosofia do nosso soldado raso passa a virar slogan impresso em muitos escritórios e outros ambientes de trabalho. A do Recruta para qualquer um se dar bem. “Sempre que me vem uma vontade de trabalhar, deito e espero a vontade passar”, diz Zero. O personagem reflete a visão que o americano tem do seu Exército. Pode até ser uma visão cínica, mas é real. Numa das tiras mais criticadas, ele pergunta ao Sargento Tainha por que o Sargento Robson, de um outro batalhão, foi promovido a Tenente e, ao menos de uma semana, a Coronel. A resposta de Tainha poderia explicar os 55 anos de sucesso, e polêmica, do Recruta Zero: “Porque ele é irmão do General”.

Em 1992, quando uma tira retratando General Dureza, o comandante do quartel onde o Recruta Zero "serve", mostrou o comandante numa situação de assédio sexual, mais uma vez, Mort Walker teve sua tira censurada. Nos últimos anos, Mort Walker tem delegado a um de seus filhos, Gregory, a autoria de diversas tiras do Recruta Zero. Ele recebeu diversas homenagens da National Cartoonists Society (entidade que reúne desenhistas importantes nos EUA) por seus bons serviços prestados ao humor naquele país.

2 comentários:

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