20 março 2022

Outono: estação da nostalgia

 

No outono (começa hoje, dia 20 de março e termina dia 21 de junho) os dias ficam mais curtos e mais frios, anoitece mais cedo. Depois de tanto calor nada como uma brisa fresca. Sinal que o outono está chegando. As folhas de muitas árvores, arbustos e outras plantas começam a pintar-se de muitas cores: amarelo, castanho e vermelho. Todas vão cair ao longo dos meses de março, abril, maio e junho e cobrir o chão dos parques e das ruas, formando tapetes coloridos. As frutas, já amadurecidas, também começam a cair no chão.

 


Esta é a época das grandes colheitas. Isto por que os países do hemisfério sul precisam se preparar para o inverno que vem chegando. É necessário armazenar bastante comida para que nada possa faltar. O outono é a natureza a envelhecer. Diz-se que uma pessoa está no “outono da vida” quando a sua idade se aproxima da velhice. É tempo de hortência, azaleia, flor de maio e margarida.

 

Quando o verão passa para o outono, a energia da terra se transforma em metal. Nessa fase a energia começa novamente a se condensar, se contrair, voltar-se para dentro para acumular e se armazenar, assim como armazenamos nossos alimentos no outono, para sobreviver no inverno. É a fase de liberar tudo que está gasto como as folhas das árvores que caem para poupar a essência, que é então armazenada para suportar a fase não produtiva da água, do inverno. Se nesta fase não houver bastante energia para contrair, não haverá força suficiente para passar o inverno e o próximo ciclo da madeira primavera será fraco. A energia do metal controla o pulmão, que extrai a energia essencial e expele as toxinas do sangue e do intestino grosso, que elimina a sujeira pesada enquanto retêm e recicla toda a água do organismo.

 


A cor da fase metal é o branco, que dá origem a todas as cores, cor da pureza e da essência, relacionada com a espiritualidade. O outono é a estação da introspecção e da meditação, de reciclar sentimentos antigos, apegos externos e o excesso de emoções adquiridas durante o verão, assim como as árvores se livram das folhas secas e buscam os nutrientes de suas raízes. Se resistirmos a esta energia e ficarmos aprisionados no passado podemos criar estados de melancolia, de tristeza e de depressão que se manifestam em dificuldades respiratórias, dores nas costas, problemas de pele e baixa resistência a doenças. Assim como o metal é a energia refinada extraída da terra e lapidada pelo fogo, o outono é a estação onde devemos extrair aprendizagens das atividades e experiências do verão, transformando-as na quietude e sabedoria do inverno.

 

O outono chega e, com ele a brisa que nos percorre o corpo ainda quente, vamos aos poucos começar a acalmar depois de tanta energia consumida no verão. As primeiras folhas caem no chão, sabemos que agora começa a época de acalmar de novo, de voltar a pôr os pés no chão ao mesmo tempo que vamos saboreando e recordando as emoções que acabamos de sentir no pico do verão. Procuramos o melhor aconchego, descansando um pouco pra que as forças regressem para um novo ciclo. Estamos no momento de reflexão e relaxamento após o êxtase, estamos a saborear tudo o que vivemos e a incorporar em nós o que aprendemos. É o fim de um ciclo e o preparar um novo ciclo. Um ciclo se encerra e outro vai começar.

 


No outono, as folhas de muitas plantas caem, porque aqui se completa seu ciclo de vida. Como esta estação antecede ao inverno, alguns animais já se previnem hibernando, enquanto outros constroem esconderijos. A temperatura começa a cair, e a paisagem adquire um tom ocre. É a estação da nostalgia. Os resíduos do verão ainda passeiam por entre as cores e os comportamentos, mas o aconchego do inverno já espreita e, timidamente vai se tomando o seu espaço.

 

O amor no outono se reveste de sinais: sorrisos repentinos, olhar de devaneio, suspiros de veludo, taquicardia, calafrios no estômago, sonhos acordados e uma sensação de estar em outra galáxia. O sentimento nessa estação da vida possui os mesmos idênticos sintomas de qualquer outra época porque ele não tem idade. Quando o amor acontece, desperta o melhor de cada ser, sublima o que estava encerrado a sete chaves, abre janelas, areja todos os cantos da alma, sacode poeiras e dá sentido a todas as coisas. Ele é soberano e sábio. Escolhe seus parceiros e lhes oferece a chance da felicidade. O amor outonal é conquista, é direito adquirido, é superação, é serenidade. (Texto escrito em 2006)

 

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