08 fevereiro 2022

HQ usa metalinguagem para falar sobre a importância das histórias em nossas vidas

 

Quando determinada linguagem falar dela mesma, estamos diante de uma função metalinguística. A metalinguagem nada mais é do que a preocupação do emissor totalmente voltada ao próprio código que está sendo utilizado. No desenho animado Gato Félix, de Pat Sullivan, os pontos de interrogação que pairavam sobre a cabeça do pensativo Félix se tornavam varas de pescar. Era a linguagem experimental nos desenhos e quadrinhos. Félix usou o balão (fala) como balão para fugir de Marte e voltar para a Terra. Em Homem-Animal – O Evangelho do Coiote, Grant Morrison Grant Morrison parte da inserção de um personagem oriundo de outra mídia, ou realidade como se refere o roteirista, que acaba interagindo com o novo meio no qual é inserido, para criar uma metáfora para discutir as particularidades dos quadrinhos. O cinema utilizou a metalinguagem em A Rosa Púrpura do Cairo e Uma Cilada para Roger Rabbit, entre outros.

 


Agora chega uma declaração de paixão aos quadrinhos. Não só por trabalhar seus elementos particulares de forma tão divertida, mas pelas homenagens a artistas (Laerte, Andre Diniz, Scott McCloud, Juan Giménez) e personagens incríveis (Little Nemo, Tianinha, Diomedes, Turma do Lambe Lambe, Bone). Isso sem falar no estilo da arte. Criada por André Freitas (desenhista), Dayvison Manes (letrista e responsável pelo projeto gráfico), Marcelo Saravá (roteirista) e Omar Viñole (colorista), META: Depto. de Crimes Metalinguísticos é uma publicação da Zarabatana Books.

 

Traz uma história que acompanha uma polícia que investiga casos acontecidos em diferentes universos nas mais variadas mídias. A missão do grupo é investigar o assassinato de um desenhista cujos principais suspeitos são seus próprios personagens. A HQ acompanha o cotidiano do escritório brasileiro do Meta – uma polícia secreta que investiga crimes envolvendo quebras da quarta parede, nos quais personagens matam o próprio autor; autores que prostituem seus personagens; relacionamentos amorosos entre pessoas reais e personagens ficcionais; pessoas reais que entram em desenhos animados para nunca envelhecerem. O Meta age no mundo dos quadrinhos, da TV, do cinema, do teatro, da literatura, dos games, enfim, em qualquer mídia que tenha narrativas ficcionais.

 


A obra representa também o reconhecimento da importância das histórias na formação das pessoas. “Nossos aprendizados, tudo que internalizamos e que vira característica nossa, vieram de alguma narrativa que vivemos ou conhecemos”, reflete Saravá. “Os filhos aprendem vendo os pais e repetem a história; ou fazem o contrário, reagem e vão para o lado oposto contar uma história completamente diferente. Mas sempre há ligações”, aponta. “Na escola, eu sempre aprendi melhor quando havia uma história envolvida. Isso atrai a atenção das pessoas, faz mergulhar no que está sendo falado”. E conclui: “A natureza do roteiro de quadrinhos é muito parecida com a do roteiro de um filme ou de um programa de tevê”, explica. “A diferença é que no cinema você trabalha com o espaço e o tempo e no quadrinho você trabalha com uma mídia espacial e qualquer representação temporal deve ser desenhada: não é movimento de verdade, mas simulacros. Mas, mesmo assim, se você sabe contar uma boa história, sabe contá-la no teatro, nos quadrinhos, no cinema, no rádio ou em um videogame”.

 

A HQ foi lançada em dezembro de 2020, e encontra-se disponível em diversas comic shops, livrarias e também, no site da editora Zarabatana Books. O Prêmio Jabuti de 2021 deu à obra “META: Depto. de Crimes Metalinguísticos” o primeiro lugar na categoria histórias em quadrinhos

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