Quando determinada linguagem falar dela
mesma, estamos diante de uma função metalinguística. A metalinguagem nada mais
é do que a preocupação do emissor totalmente voltada ao próprio código que está
sendo utilizado. No desenho animado Gato Félix, de Pat Sullivan, os pontos de
interrogação que pairavam sobre a cabeça do pensativo Félix se tornavam varas
de pescar. Era a linguagem experimental nos desenhos e quadrinhos. Félix usou o
balão (fala) como balão para fugir de Marte e voltar para a Terra. Em
Homem-Animal – O Evangelho do Coiote, Grant Morrison Grant Morrison parte da
inserção de um personagem oriundo de outra mídia, ou realidade como se refere o
roteirista, que acaba interagindo com o novo meio no qual é inserido, para
criar uma metáfora para discutir as particularidades dos quadrinhos. O cinema
utilizou a metalinguagem em A Rosa Púrpura do Cairo e Uma Cilada para Roger
Rabbit, entre outros.
Agora chega uma declaração de paixão aos
quadrinhos. Não só por trabalhar seus elementos particulares de forma tão
divertida, mas pelas homenagens a artistas (Laerte, Andre Diniz, Scott McCloud,
Juan Giménez) e personagens incríveis (Little Nemo, Tianinha, Diomedes, Turma
do Lambe Lambe, Bone). Isso sem falar no estilo da arte. Criada por André
Freitas (desenhista), Dayvison Manes (letrista e responsável pelo projeto
gráfico), Marcelo Saravá (roteirista) e Omar Viñole (colorista), META:
Depto. de Crimes Metalinguísticos é uma publicação da Zarabatana Books.
Traz uma história que acompanha uma
polícia que investiga casos acontecidos em diferentes universos nas mais
variadas mídias. A missão do grupo é investigar o assassinato de um desenhista
cujos principais suspeitos são seus próprios personagens. A HQ acompanha o
cotidiano do escritório brasileiro do Meta – uma polícia secreta que investiga
crimes envolvendo quebras da quarta parede, nos quais personagens matam o
próprio autor; autores que prostituem seus personagens; relacionamentos
amorosos entre pessoas reais e personagens ficcionais; pessoas reais que entram
em desenhos animados para nunca envelhecerem. O Meta age no mundo dos
quadrinhos, da TV, do cinema, do teatro, da literatura, dos games, enfim, em
qualquer mídia que tenha narrativas ficcionais.
A obra representa também o reconhecimento
da importância das histórias na formação das pessoas. “Nossos aprendizados,
tudo que internalizamos e que vira característica nossa, vieram de alguma
narrativa que vivemos ou conhecemos”, reflete Saravá. “Os filhos aprendem vendo
os pais e repetem a história; ou fazem o contrário, reagem e vão para o lado
oposto contar uma história completamente diferente. Mas sempre há ligações”,
aponta. “Na escola, eu sempre aprendi melhor quando havia uma história
envolvida. Isso atrai a atenção das pessoas, faz mergulhar no que está sendo
falado”. E conclui: “A natureza do roteiro de quadrinhos é muito parecida com a
do roteiro de um filme ou de um programa de tevê”, explica. “A diferença é que
no cinema você trabalha com o espaço e o tempo e no quadrinho você trabalha com
uma mídia espacial e qualquer representação temporal deve ser desenhada: não é
movimento de verdade, mas simulacros. Mas, mesmo assim, se você sabe contar uma
boa história, sabe contá-la no teatro, nos quadrinhos, no cinema, no rádio ou
em um videogame”.
A HQ foi lançada em dezembro de 2020, e
encontra-se disponível em diversas comic shops, livrarias e também, no site da
editora Zarabatana Books. O Prêmio Jabuti de 2021 deu à obra “META: Depto. de
Crimes Metalinguísticos” o primeiro lugar na categoria histórias em quadrinhos
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