21 fevereiro 2022

Super heróis brasileiros estão de volta

 

A década de 1960 foi muito movimentada. Os hippies surgiram com seu flower power e depois de um apogeu, em Woodstock, sumiram inteiramente. Ainda na moda, dominava batas, colares, brincos, estampados. Era o psicodelismo. Todos se abriram aos filósofos orientais, às aventuras sentimentais, ao exotismo de outras geografias, à vida no campo. Os quadrinhos se liberam com o movimento underground. Aparecem heroínas – Barbarella, Valentina -, reflexo dos movimentos feministas. Ziraldo lança o gibi Pererê, a primeira a refletir toda a euforia de uma época, com personagens tipicamente brasileiros. Henfil cria Os Fradinhos. Mauricio de Sousa cria os personagens Mônica, Cascão e Chico Bento. O maior mito do cinema novo, Glauber Rocha torna-se símbolo de sucesso do cinema brasileiro no exterior com os filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro.

 


A bossa nova viajou muito bem para os EUA, onde todo mundo dançava o twist. O destaque era para o talento elegantíssimo de Tom Jobim e o canto de João Gilberto. Depois, surgiram os Beatles marcando o início da fase iê-iê-iê e da fama mundial, e Londres virou a swinging city. No comando da Jovem Guarda, Roberto e Erasmo Carlos arrebatam as paradas com versões de rock estrangeiros, doces baladas e novos padrões de comportamento jovem. Armados de guitarras e discursos inflamados, Caetano Veloso e Gilberto Gil semeiam a polêmica nos festivais de MPB, colhem prestígio e inventam a Tropicália. Foi o período do protesto. Profeta do protesto, o cantor popular Bob Dylan estoura nas paradas com a composição Blowin´in the Wind (Soprando no Vento) e torna-se um hino do movimento pelos direitos civis. Jimi Hendrix reinventou a guitarra elétrica e trouxe o blues para a era da eletrônica. O explosivo grupo de rock Rolling Stones cantou os sonhos de revolta de uma geração. Andy Warhol, James Rosenquist e Roy Lichtenstein anunciam a pop art, arte adequada para a sociedade de consumo.

 


Os empresários José Sidekerskis, Victor Chiodi, Heli Otávio de Lacerda, Cláudio de Souza, Arthur de Oliveira e Miguel Penteado criaram, em 1959 a editora Continental, que tempos depois seria rebatizada de editora Outubro (a partir de 1961). Sediada num pequeno prédio de no bairro paulistano da Moóca, a Outubro só publicava quadrinhos de autores nacionais. Nas suas publicações se consagraram grandes nomes das HQ como Flávio Colin, Júlio Shimamoto, Aylton Thomaz, Inácio Justo, Getúlio Delphim, Gedeone Malagola, Sérgio Lima, Juarez Odilon, Nico Rosso, Lyrio Aragão, Luís Saidenberg, Gutemberg Monteiro e tantos outros, sob a direção artística de Jayme Cortez. A editora acabou em 1966. Mas continuou, com nova direção, com o nome mudado para Taika. Os quadrinhos clássicos brasileiros estão sendo editados pela Criativo junto com o selo GRRR!. Entre os heróis estão: Homem Lua, Pele de Cobra, Fantastic, Pabeyma, a Espiã de Vênus, Aba Larga, Patrulheiro Fantasma.  Tem ainda heróis brasileiros publicados pela editora em outra série como Homem Fera, Superargo, Fantar, Gato, Carrasco, Fikom, entre outros.

 


Em 1968 o jovem Fernando Ikoma começou a publicar pela Editora Edrel, de São Paulo, a ESPIÃ DE VÊNUS – Série de ficção científica que conta a ação de Sibele, uma agente do planeta Vênus em missão na Terra. Sibele, que teve poucas HQs publicadas, duas em revista própria (ambas presentes na edição lançada pela Criativo) e mais algumas distribuídas em revistas diversas da editora Edrel.

 


A contracultura foi um movimento forte na década de 60, consolidando os roadie-movies, filmes ambientados na estrada, geralmente de conteúdo maduro, com questionamentos sócio-políticos ou existenciais. E foi nesse clima que nasceu o PELE DE COBRA, um ex-militar que larga tudo para viver na estrada, dormindo em pousadas decadentes ou mesmo ao luar, tendo por única companhia sua potente moto. Trajando uma vistosa jaqueta de couro de ofídeo, Criado por Eugenio Colonnese, Rivaldo Amorim de Macêdo em 1967 e publicado pela GEP (Gráfica Editora Penteado). Seu nome deve-se à sua jaqueta de couro de cobra que ele sempre usa em suas HQs. Em vez de máscara e superpoderes, o Pele de Cobra era um motoqueiro sem destino, acostumado a acampar nas terras inabitadas que circundavam as rodovias. Com o fim da GEP, o herói foi cancelado, permanecendo no limbo por mais de 30 anos. Em 2001 a editora Ópera Graphica trouxe de volta o Pele de Cobra e diversos heróis de Colonesse num álbum chamado "A última missão". Desenhado por Watson Portela e escrito por Franco de Rosa, a trama girava em torno do Cobra e de vários heróis dos anos 60, muito deles à beira da aposentadoria e decadentes. Era um quadrinho avançado que antecedeu em mais de uma década o seriado Carga Pesada, da rede Globo, que abordava temas e situações semelhantes.

 


O paulistano Gedeone Malagola lançou O HOMEM LUA no formato de tiras diárias em 25 fevereiro de 1965 no jornal paulistano Diário Popular, em uma única aventura de 24 capítulos. Inspirado no herói norte-americano Fantasma (The Phantom), o misterioso Homem Lua mora na metrópole paulistana, mas possui uma base de atuação escondida na floresta amazônica, onde é conhecido e respeitado por todas as tribos indígenas da região. Sem limites geográficos, o herói também combate ameaças em outros países e continentes, graças ao seu velocíssimo Jato Lua. Em 1967 é lançao o primeiro número do personagem em revista própria. O herói teve 12 HQs completas produzidas nos anos 60, além da primeira aventura, publicada em tiras. Depois disso, Gedeone nunca mais retomou o personagem.

 


Também estreando em tiras diárias no Jornal Paulista, em 1964 estava o super herói PABEYMA, com desenhos de Carlos Cunha. O novo visual do personagem veio, em 1968, quando passou a ser publicado como gibi mensal da editora Edrel (SP), desenhado por Paulo Fukue e escrita por Wilson Cunha, Nelson Ciabattari e Cunha. Suas aventuras se passavam em um mundo de criaturas evoluídas, de animais como pássaros, repteis, cavalos, etc. O herói não usava máscara, mas um uniforme verde e amarelo. Ele emerge numa tribo indígena brasileira, sendo chamado pelos índios de Pabeyma, que em tupi guarani significa imortal, aquele que dorme na caverna. A saga ocorre no futuro da Terra. O herói-diplomata, ser genético criado artificialmente, mas impregnado da alma tupi-guarani, vai até o planeta Marte resolver uns problemas desencadeados pela vaidade de uma orgulhosa rainha. As intenções pacíficas de Pabeyma fracassam e ele é obrigado a lutar contra um imenso eunuc e até mesmo contra sua majestade – o que nosso herói não sabia era que, de acordo com as leis de Marte, aquele que vencesse a rainha em combate, era obrigado a desposá-la em matrimônio.

 


ABA LARGA representa um movimento no Sul do Brasil, integrando um conturbado momento político brasileiro ligado a Leonel Brizola, que apoiava a nacionalização da HQ, através da Cooperativa Editora de Trabalhos de Porto Alegre (CETPA). A CETPA pretendeu implantar no Brasil um modelo de distribuição de HQ’s e outros formatos a ela ligados na época – como álbuns de figurinhas e revistas infantis – para todo o Brasil, nos moldes dos grandes syndicates norte-americanos. Criação de Getulio Delphim, em 1962. “Os Abas Largas” era como denominavam a Polícia Montada do popular 1º Regimento de Cavalaria da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, nos pampas gaúchos em virtude do chapéu que servia de cobertura no uniforme. Teve somente três edições. Os Abas Largas foram inspirados na Polícia Real Montada do Canadá, policiais de renome e fama internacional.

 


O quadrinhista Rubens Cordeiro (o Rubão) introduziu no segundo número da revista Pele de Cobra, um misterioso personagem, o PATRULHEIRO FANTASMA, em 1967. Tratava-se do espírito de um policial rodoviário que patrulhava as estradas brasileiras, sobretudo a noite, ajudando pessoas em dificuldades, em particular caminhoneiros vítimas de assaltos. Foi uma HQ curta de apenas cinco páginas, mas que serviu para despertar a curiosidade dos leitores.

 

 


CAPITÃO GUITARRA  também conhecido como Golden Guitar, criado por Rubens Cordeiro (arte-final) em 1967. O lápis da maioria das histórias era de Apa (Benedito Aparecido da Silva). Na identidade secreta, Capitão Guitarra era o cantor pop Renato Fortuna, calcado em Roberto Carlos, sucesso da época da Jovem Guarda. Vestido um uniforme azul e vermelho, o herói combatia bandidos como o Cabeleira e o Violinista a bordo de seu carrão Abarth, levando a tiracolo uma guitarra dourada que disparava dardos tranquilizantes, gás lacrimogêneo e outros truques especiais. Seus amigos eram os músicos da banda Os Taiobas: Beto, Bolão e Bolha. Sua namorada era Verinha. Mesmo com um visual descolado, a revista não passou do quarto número.

 

No final dos anos 80 e o casal Ataíde Braz e Neide Harue resolveu produzir a saga de SKORPION. Num futuro próximo (2030), o mundo está moralmente devastado, corporações multinacionais corruptas controlam tudo no planeta. Cidades decadentes e hiper violentas abrigam gangs de degenerados, viciados numa nova droga que invadiu o mercado: a droga da eterna juventude. Por ela muitos matam e muitos morrem. É neste cenário pós-apocalíptico que surge Skorpion, uma jovem justiceira empenhada em destruir o sistema corrupto vigente. Tal qual uma ninja high-tech, ela patrulha a cidade em uma velocíssima moto, como uma verdadeira máquina de guerra urbana.

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