No dia 09 de setembro comemora-se os 130
anos de nascimento de Luis Gomes Loureiro. Ele foi um dos artistas responsáveis
por recriar os desenhos, criou um novo personagem para acompanhar Chiquinho:
Benjamin, que se destaca como o primeiro negro dos quadrinhos a fazer sucesso
entre o público leitor. Benjamin, que estreou em 1915, era um moleque negro
inspirado num criado da casa de Loureiro. Nas palavras do próprio autor, em
entrevista concedida à Revista da Semana, em 31 de março de 1945, o terrível
infante tinha os planos mais demolidores para as molecagens da turma, o que
levava Chiquinho a temer que as ideias do negrinho dessem na clássica surra de
escova com que o pai coroava sempre as suas aventuras.
“Levei para os quadrinhos um Benjamin que
morou na minha casa durante muito tempo. Era um pretinho muito vivo, de seus
oito anos, que trabalhava como menino de recado. Benjamin estava sempre dando
palpites sobre as aventuras de Chiquinho. E que costumava dar palpites na vida
do Chiquinho. E eu doido para botar o Benjamin na história. Um dia, botei”,
conta o desenhista Luis Gomes Loureiro.
As aventuras de Chiquinho transcorriam em
ambiente doméstico. Nunca o personagem teve o comportamento de seu inspirador
americano, Richard Felton Outcault, que era ácido, crítico e contestador.
Chiquinho era criança bastante ingênua, como ingênuo era o Rio de seu tempo.
Suas aventuras eram, na verdade, travessuras, como foram as de seu próprio
desenhista, Loureiro. Benjamin seguiu o padrão estereotipado da época com olhos
saltados e lábios grossos.
Apesar de Chiquinho ser desenhado também
por outros artistas, foi Loureiro quem mais o abrasileirou. Loureiro revelou,
anos depois, que no início O Tico-Tico (considerada a primeira revista infantil
do país, criada em 1905 e extinta em 1962) era todo feito copiando publicações
infantis americanas, francesas e italianas. Foi como muitos desenhistas
aprenderam a fazer quadrinhos. Logo, ele e outros pioneiros, como Cícero
Valadares e Alfredo Storni, passaram a criar seus próprios personagens.
Loureiro era um homem pobre que conquistou
grande expressão e popularidade pelo trabalho gráfico que desenvolveu em O
Tico-Tico e para a empresa O Malho. Seu personagem mais querido entre os
leitores da revista das crianças foi, definitivamente, as Aventuras de Chiquinho.
O garotinho louro e seus companheiros foram tema de propagandas na imprensa, troféus
de futebol, blocos carnavalescos e, ainda mais surpreendente, foram tema do
primeiro desenho animado ao qual se reportam os registros da Cinemateca
Brasileira.
O tão famoso Chiquinho, contudo, era
acompanhado cotidianamente por uma personagem que Loureiro, e seus
contemporâneos, insistiam em categorizar como “genuinamente nacional”. Tratava-se
do moleque Benjamin, criado negro de sua família, e comparsa nas suas aventuras
e desventuras. Benjamin, aliás, era muito semelhante aos outros personagens
negros que apareciam constantemente na revista, sob a forma de criados,
escravizados e selvagens africanos. Num país em que houve esforço diligente das
classes intelectuais e políticas para escamotear os efeitos da escravidão e a
onipresença da população negra, instigava-me compreender o motivo pelo qual as
diferenças raciais foram objeto constante dos lápis e pinceis dos artistas
gráficos da imprensa para crianças. Interessava-me compreender o modo como
Loureiro e outros artistas da imprensa para crianças, deram forma às diferenças
raciais em suas ilustrações, e de que maneira estas diferenças expressavam
expectativas acerca das desigualdades raciais vividas no Brasil pós-abolição.
Sua atuação na revista O Tico Tico se deu
entre os anos de 1907 e 1919. Nesses doze anos atuou em espaços de maior ou
menor relevância na revista, tendo passado pelas funções de decalcador,
desenhista de histórias esporádicas e, por fim, desenhista de quadrinhos de
maior projeção e presença no semanário das crianças.
Luís Gomes Loureiro nasceu em 9 de
setembro de 1889, carioca criado à Rua da Imperatriz de número oitenta e sete,
no Bairro da Saúde, na freguesia de Santa Rita. Filho de Antonio Gomes Loureiro
e Joanna dos Santos Loureiro, ambos naturais do Reino de Portugal, possuía sete
irmãos, sendo quatro irmãs e três irmãos. Ele morreu no dia 26 de dezembro de
1981, aos 92 anos, de insuficiência cardíaca, no Rio de Janeiro.
5 comentários:
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