28 junho 2010

Relações raciais no Brasil são abordadas no livro Aqui ninguém é branco (1)

No prefácio o escritor Silviano Santiago (o fraseado e o ouvido do leitor) afirma: "O talento e a originalidade da ensaísta Liv Sovik estão no fraseado. [...] A mestiçagem racial brasileira traduz hoje o conservadorismo de velhas anarquias. […] o fraseado de Aqui ninguém é branco bombardeia os lugares-comuns e as frases feitas, repertoriados cuidadosamente pela analista em todas as instâncias de produção linguística brasileira […] O fraseado de Liv quer enxergar a materialidade silenciosa e a aparência invisível do branco no Brasil mulato inzoneiro […] Do romancista afro-americano Ralph Ellison, que na segregação norte-americana enxergou a invisibilidade do negro, Liv roubou o avesso para vestí-lo no branco brasileiro. O modo social da invisibilidade do branco no país da mestiçagem. No fraseado de Liv, a invisibilidade se torna um recurso corriqueiro, de que se vale a elite branca brasileira para esconder a fonte que gera o poder nacional e para dominar o todo, sem distinção e aparentemente sem hierarquias, da mulataria tropical”.


Aqui ninguém é branco chega às livrarias com o selo da Aeroplano. A suíça Liv Sovik traz de volta a discussão da convivência entre as raças no Brasil. Num país onde ninguém se diz racista, o livro da professora da Escola de Comunicação da UFRJ toca numa questão essencial: afinal, por que o brasileiro cultua tanto a mestiçagem? Desde Gilberto Freyre - e sua obra "Casa Grande e Senzala" -, acostumou-se com um discurso que afirma uma certa harmonia entre as raças. Na obra, Liv conseguiu desmascarar o cínico discurso de parte da elite brasileira que gosta de dizer que "todo mundo tem um pezinho na cozinha".


Através do estudo de lugares-comuns na música popular brasileira, “Aqui ninguém é branco” propõe releituras do cosmopolitismo bras

ileiro, do corpo dançante como emblema da nação, da marca deixada pelos escravos e da ligação entre branco e negro no cotidiano. Discute as maneiras em que, na grande imprensa, o branco é valorizado e a experiência americana de relações raciais é tratada como ameaçadora e radicalmente diferente da brasileira.

INVISIBILIZAÇÃO


“Que negros existem no Brasil, ninguém duvida, mas quanto aos brancos, não se pode afirmar com a mesma segurança. A invisibilização do branco brasileiro no discurso público, assim como a valorização da mestiçagem, são a forma tradicional de representar as relações raciais pelas quais o Brasil é conhecido internacionalmente. Mesmo que o mito da democracia racial esteja desmascarado, sua tese central – da mistura genética da população como base de um convivência nacional pacífica - não foi substituída por outra que leva em conta as hierarquias raciais”, escreveu na introdução. E questiona: “que novas perspectiva apareceriam, em uma releitura de elementos da tradição cultural brasileira, quanto a branquitude – cujo prestígio se exerce silenciosamente no cotidiano – é colocado no centro do cenário junto com seu fiel escudeiro, a mestiçagem. O que emerge da proposta de que a branquitude importa, mesmo diante da mistura genética da população como um todo, e que é preciso fazer uma crítica não só denunciatória, mas criativa, da autoridade branca?”. Na obra, “estudo alguns elementos que parecem oferecer pistas, na música popular e na grande imprensa, para novos entendimentos das relações raciais”.


Para começar, Liv procura definir a branquitude brasileira (“Ela não se explicita muito, é até negada, e por isso precisa ser flagrada no contexto de discursos que aparentemente pouco têm a ver com ela: o do afeto inter-racial, o da identificação com o popular e o da grande família brasileira”).O primeiro impulso da pesquisadora foi pensar o afeto. "Somos um povo afetivo". O afeto permeia tudo quanto é discurso sobre as relações sociais. E isso convergiu com um questionamento sobre um certo silêncio no Brasil sobre o papel dos brancos nas relações raciais. E como a música está presente no consciente e inconsciente da população, Liv procurou estudar a música popular e sua tradição de pensar o país. O segundo capítulo aborda a branquitude brasileira e o imaginário americano (o impasse em torno da segregação versus a mestiçagem).


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