Há 110 anos surgia uma revista de ficção com formato de 17 por 25cm, papel descartável (feito da polpa da árvore, daí o nome pulp), custando apenas um centavo e que fez muito sucesso. Trata-se da “Argosy”, editada por Frank Monsey. Preço baixo e grande tiragem eram a receita de sucesso dos pulps até meados do século passado. Os pulps surgiram como uma opção de leitura e diversão para uma grande massa de trabalhadores que emigrava do campo para a cidade, formando o que seria chamado de sociedade de massas. Monsey foi além, ele lançou a célebre “All Story Magazine” que em 1912 publicou o conto “Sob as Luas de Marte”, de Edgar Rice Burroughs, que pouco tempo depois escreveu Tarzan dos Macacos.
As publicações eram grossas e baratas, impressas em uma tinta de um tom marrom escuro, com centenas de páginas de ficção em cada número. As capas eram coloridas, pintadas para inspirar terror, excitação, desejo e curiosidade. Os enredos eram cheios de brutamontes, orientais sinistros e namoradas seminuas de gângsteres. Algumas eram destinadas ao público adulto, mas a maioria visava garotos de 8 a 14 anos – a idade dos heróis como um editor a chamou. Não era possível encontrar essas revistas em biblioteca escolar e poucos pais as compravam. Mas os garotos tinham sede dessas revistas. A ficção científica era uma invenção perfeita para a América no final da década de 20. Os horrores da industrialização e o inferno tecnológico da Primeira Guerra já se apagaram da memória. Rádios, carros e correio aéreo facilitavam a comunicação de forma imediata e davam ao desenvolvimento industrial um rosto novo e humano. A geração dos anos 20 acreditava no progresso científico e no individualismo competitivo.
No início dos anos 30 a fonte principal de entretenimento, tanto para jovens quanto para velhos, era a leitura. Para eles, havia os pulps, revistas baratas de ficção que foram publicadas aproximadamente de 1900 até 1955, e lidava com todo tipo imaginável de ficção, de western a romance, passando por esportes e mistério, até ficção científica. O elo comum em toda ficção pulp não era violência, sangue ou mesmo vingança. As histórias eram escritas para entreter, e por cinco décadas eles agradaram milhões de leitores. Centenas de diferentes pulps lotaram as bancas. De 1920 até 1930 os pulps foram o lar da maior parte da literatura de ficção científica e fantasia dos estados Unidos. E dessas raízes pulps surgiram os gibis de super-heróis. Tiras de quadrinhos de aventuras para crianças e adultos eram publicadas de forma de seriado há décadas nos jornais. No início dos anos 30, Tarzan e Buck Rogers emergiram dos pulps.
A forte concorrência do rádio e do cinema colaborou com a decadência do gênero pulp até seu ressurgimento em publicações temáticas na década de 30, onde a profusão de títulos era enorme: guerra, terror, ficção cientifica, faroeste, crime. As revistas de crime geraram muitos títulos e revelaram um dos maiores escritores norte americanos: Dashiell Hammett, autor de O Falcão Maltês e criador do romance noir. As revistas de ficção científica revelaram nomes como Isaac Assimov e Ray Bradbury. E o que marcou na maioria das pessoas foram os personagens criados para essas publicações. Além de Tarzan, desfilaram pelas páginas dos pulps O Sombra, Doc Savage, Capitão Futuro, Conan, Buck Rogers, Fu Manchu e muitos outros. Os personagens foram sucessos em sua época, e atravessaram os anos em livros, quadrinhos e cinema, fossem como adaptações dos mesmos ou como influência na criação de outros personagens.
Lester Dent (que assinava sob o pseudônimo de Kenneth Roberson) criou Doc Savage, mestre da mente e do corpo. A história “O Homem de Bronze” foi o título que acabou sendo incorporado no nome do personagem nas edições seguintes. Ele falava qualquer língua deste planeta, possuía conhecimentos avançados em física, química, psicologia e mecânica, tinha resistência física excepcional e muitas vezes se isolava na Fortaleza da Solidão (lembrou-se do Super Homem?) sua base secreta localizada no Ártico onde planejava sua próxima empreitada.
George C. Jenks (sob o pseudônimo de Frank S. Lawton) escreveu O Sombra, herói destemido e misterioso que combate o mal ajudado por uma equipe de especialistas. Um programa de rádio aproveitou o personagem e o levou aos lares americanos com suas histórias de mistério e suspense. A gargalhada sinistra e a voz cavernosa que dizia “quem sabe o mal que se esconde no coração dos homens? O Sombra sabe...” espantaram os norte americanos. O Detetive Fantasma, O Aranha, Tarzan, Fu Manchu, G-8 e o Capitão Futuro agradavam ao público leitor. Assim, a mitologia criada pelos pulps é tão forte que impregnou o cinema, o rádio, os quadrinhos e a imaginação de milhares de pessoas no mundo todo.
Dos anos 40 até os 60 a ficção popular nos EUA passou por grandes mudanças. Os pulps aos poucos se tornaram livros de bolso. Histórias de mistério com detetives durões, uma das fontes dos pulps, tornaram-se respeitáveis. A ficção científica, outrora considerada subliteratura, ganhou em popularidade e tornou-se matéria prima do mercado editorial dos livros de bolso, embora somente na década de 70 o gênero finalmente tinha se tornado aceito como literatura. O que foi considerado um gênero ordinário, um lixo, em 1940, tornou-se ficção reconhecida nos anos 50, exceto os gibis; Mas aí é outra história...
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