23 fevereiro 2007

Música & Poesia

Lero lero (Cacaso)

Sou brasileiro de estatura mediana
Gosto muito de fulana mas sicrana é quem me quer
Porque no amor quem perde quase sempre ganha
Veja só que coisa estranha, saia dessa se puder
Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero
Não tolerolero lero devo nada pra ninguém
Sou descasado, minha vida eu levo a muque
Do batente pro batuque faço como me convém
Eu sou poeta e não nego a minha raça
Faço versos por pirraça e também por precisão
De pé quebrado, verso branco, rima rica
Negaceio, dou a dica, tenho a minha solução

Sou brasileiro, tatu-peba taturana
Bom de bola, ruim de grana, tabuada sei de cor
Quatro vez sete vinte e oito nove fora
Ou a onça me devora ou no fim vou rir melhor
Não entro em rifa, não adoço, não tempero
Não remarco, marco zero, se falei não volto atrás
Por onde passo deixo rastro, deixo fama
Desarrumo toda a trama, desacato Satanás
Sou brasileiro de estatura mediana
Gosto muito de fulana mas sicrana é quem me quer
Diz um ditado natural da minha terra

Bom cabrito é o que mais berra onde canta o sabiá
Desacredito no azar da minha sina
Tico-tico de rapina, ninguém leva o meu fubá




Generaciones y semblanzas (João Cabral de Melo Neto)

Há gente para quem
tanto faz dentro e fora
e por isso procura
viver fora de portas.

Há gente que se aquece
por dentro, e há em troca
pessoas que preferem
aquecer-se por fora.

Há gente que se gasta
de dentro para fora,
e há gente que prefere
gastar-se no que choca.

Há gente que se infiltra
dentro de outra,
e aí mora,
vivendo do que filtra,
sem voltar para fora.

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