16 janeiro 2019

50 anos sem Gordurinha


Compositor, cantor, radialista e humorista baiano, Waldeck Artur Macedo, conhecido por “Gordurinha” continua esquecido. Há 60 anos ele lançava o samba  "Chiclete com banana", parceria com Jackson do Pandeiro, foi gravado com grande sucesso. Primeiro por Odete Amaral, mulher do cantor Ciro Monteiro, e, posteriormente, pelo próprio Jackson do Pandeiro. Ela origina, em 1968, montagem dirigida por Augusto Boal, no Teatro de Arena de São Paulo, que aborda as relações históricas da música brasileira no exterior e da estrangeira no Brasil. É redescoberta pelo público com Gilberto Gil, no LP Expresso 2222, de 1972. Nos anos 1980 foi tema de uma tira de histórias em quadrinhos, do desenhista Angeli e é nome de uma banda de música baiana. Em 16 de janeiro de 2019 completa 50 anos de sua morte.



Cronista perspicaz dos costumes e questões culturais e sociais de seu tempo, Gordurinha  navega com desenvoltura por diversas temáticas e estilos musicais. É autor de melodias de gêneros nordestinos, como o coco e o baião. Essas canções têm usualmente como pano de fundo a cultura nordestina e seus dilemas sociais, expressos por meio de um personagem forjado no vasto repertório de seus tipos populares. Gordurinha elabora letras que captam a psicologia e o linguajar coloquial do universo retratado, interpretando as dicções regionais.




Magro na juventude, Waldeck Artur de Macedo, nascido no bairro da Saúde, em Salvador, no dia 10 de agosto de 1922, ganhou seu apelido em 1938, quando já trabalhava na Rádio Sociedade da Bahia.



Do seu repúdio à colonização americana, pela goma de mascar nasceu o bebop-samba, Chiclete com banana, em parceria com Almira Castilho, que acabou por pronunciar o tropicalismo ao sugerir antropofagicamente na letra: 'só boto bebop no meu samba quando o Tio Sam pegar no tamborim, quando ele entender que o samba não é rumba'.



Ele mesmo chegou a gravar, como que a tirar um sarro um rock entitulado Tô doido para ficar maluco. Mas não foi só de glória e reconhecimento tardio a vida deste que, ao lado do Trio Nordestino, iria se transformar no baluarte do forró na Bahia.

 


Sua estréia no mundo da música se deu em 1938, quando fez parte do conjunto vocal "Caídos do céu" que se apresentava na Rádio Sociedade da Bahia, fazendo logo depois par cômico com o compositor Dulphe Cruz. Logo se destacou pelo seu dom de humorista e pelo sarcasmo que iria ser disseminado em suas letras anos mais tarde.



Em 1942, cansado de tentar conciliar estudo e sessões de rádio, tomou a decisão se debateu com um dilema conhecido de muitos: medicina ou carreira artística? Como seus discípulos Zé Ramalho e Fred Dantas, Gordurinha caiu fora dessa estória de clinicar. Largou a Faculdade de Medicina e seguiu sua sina de cigarra.



Os passos iniciais seriam dados numa Companhia Teatral. Caiu na estrada, mambembeando e povoando de música e pantomimas outras plagas.



Seu próximo passo seria um contrato na Rádio Jornal de Comércio, em Recife, em 1951. Depois, o jovem compositor, humorista e intérprete Gordurinha passaria pela rádio Tamandaré onde conheceu o poeta Ascenso Ferreira, figura folclórica do Recife, Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda. Estes dois últimos gravariam em primeira mão várias das suas composições.



Em 1952 partiu para o Rio de Janeiro onde penou sofrendo gozações preconceituosas. Sublimando estes pormenores, conseguiu trabalhar nos programas Varandão da Casa Grande, na Rádio Nacional, e Café sem Concerto as Radios Tupi e Nacional, duas das maiores do país, sempre fazendo tipos humorísticos. Ficou neste circuito até que almejou um sonho que já alimentava desde os magros dias do Recife: um contrato na mais importante mídia do Brasil na época que era a Rádio Nacional.

 


Gordurinha gravou, em 1955, pelo selo Continental, duas canções voltadas para o Carnaval do ano seguinte: Sonhei com Você, de Roberto Martins e Mário Vieira; e Soldado da Rainha, marcha que assina com João Grimaldi e interpreta em duo vocal com Leo Vilar e acompanhamento de Severino Araújo (1917-2012) e Orquestra Tabajara. Em 1957, comanda o programa Varandão da Casa Grande, na Rádio Nacional, e, em 1958, produz Café sem Concerto e Boate Ali Babá, respectivamente na Rádio Tupi e na TV Tupi. No ano seguinte, lança Vendedor de Caranguejo, que faz sucesso com Ary Lobo, regravada por Clara Nunes (1943-1983) e Gilberto Gil (1942).



Compõe com José Gomes (1919-1982), verdadeiro nome de Jackson do Pandeiro, sua canção célebre, o samba Chiclete com Banana, em 1958, lançada nesse mesmo ano por Odete Amaral, mulher do cantor Ciro Monteiro, e, posteriormente, pelo próprio Jackson do Pandeiro. Ela origina, em 1968, montagem dirigida por Augusto Boal, no Teatro de Arena de São Paulo, que aborda as relações históricas da música brasileira no exterior e da estrangeira no Brasil. É redescoberta pelo público com Gilberto Gil, no LP Expresso 2222, de 1972. Também dá nome à tira em quadrinhos do cartunista Angeli (1956) e à banda baiana de axé music, ambas formadas nos anos 1980. É citada por Marcelo D2 (1967) na música A Maldição do Samba, de 2003.



Ainda em 1959, Gordurinha faz sucesso como intérprete de outra canção autoral, Baiano Burro Nasce Morto, cujo título vira bordão popular. Em Baianada, Baiano Não É Palhaço e Baiano Burro Nasce Morto, Gordurinha combate o preconceito ao nordestino que detecta no Rio de Janeiro com a construção de personagens pitorescos, orgulhosos de sua origem. Ele a grava com a participação do humorista Mário Tupinambá, que faz um personagem na televisão em que interpreta um deputado baiano que adora longos discursos, como faz no disco. A música também faz sucesso com o alagoano Luiz Wanderley, em 1959. É regravada por Moraes Moreira (1947), em 2000. Em 1960, interpreta o baião-toada Súplica Cearense (parceria com Nelinho), sucesso na voz de Merino Silva (1967), Luiz Gonzaga (1912-1989), Fagner (1949), Elba Ramalho (1951) e gravada pelo conjunto O Rappa. Entre diversos compactos, Gordurinha lança quatro LPs na década de 1960.



Meu enxoval, um samba-coco em parceria com Jackson do Pandeiro seria um dos carros chefes do disco ‘forró do Jackson’, de 61. Outro que se daria bem com uma composição do baiano seria o forrozeiro paraense Ary Lobo que prenunciou o Mangue beat ao cantar: ‘Caranguejo-uçá, caranguejo-uçá/ A apanho ele na lama/ E boto no meu caçuá/ Caranguejo bem gordo é gaiamum/ Cada corda de 10 eu dou mais um”. Vendedor de caranguejo seria gravado por Clara Nunes, em 74, e por Gilberto Gil no seu ‘Quanta’, de 1997. Outros sucessos foram Baiano não é palhaço que fala do seu orgulho de ser baiano, Súplica cearense e Baiano burro nasce morto.

 


Gordurinha faleceu em Nova Iguaçú/RJ em 16/1/1969 e seria homenageado na década de 70 com Gilberto Gil, que regravou Chiclete com Banana e Vendedor de Caranguejo no Quanta.



O cantor carioca Jards Macalé, também o homenagearia com a regravação de Orora analfabeta, no seu 2º LP, ‘Aprendendo a nadar’, de 1974.



Elba Ramalho se rendeu ao talento do mestre ao dar sua versão de Pau-de-arara é a vovozinha, no seu CD Flor da Paraíba, de 1998.



A última homenagem recebida foi o lançamento do CD A Confraria do Gordurinha, em rememoração aos 30 anos sem o artista. Morre no início de 1969, no Rio de Janeiro. Nesse ano, é lançado pela Musicolor o disco póstumo Gordurinha. Em 1999, com patrocínio do governo do estado e lançamento da Warner Music, o selo Sons da Bahia grava A Confraria do Gordurinha, com 16 faixas de sua autoria, interpretadas por Gilberto Gil, Marta Millani e o conjunto Confraria da Bazófia. No mesmo ano, Carmélia Alves, a rainha do baião, grava pelo selo CPC-Umes o disco Carmélia Alves Abraça Gordurinha e Jackson do Pandeiro. Em 2000, a Warner Music lança, pela série Enciclopédia Musical Brasileira, o CD Jackson do Pandeiro e Gordurinha, que intercala faixas interpretadas por cada um, com composições próprias e de outros autores.


15 janeiro 2019

Edgar Allan Poe (1809-1849)


Há 210 anos, no dia 19 de janeiro de 1809, nascia, na cidade de Boston, o poeta, romancista e crítico literário Edgar Allan Poe. Precursor das literaturas policial e de ficção científica, foi também um dos primeiros autores a se dedicar aos contos literários. Sua obra é tão significativa que deixou rastros nos trabalhos de autores como Bradbury, Lovecraft, Doyle, Kafka, Henry James, Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud, Proust, Maupassant, Verne, Thomas Mann, Fernando Pessoa, Machado de Assis e tantos outros.

 


Ele era um jovem aventureiro, romântico, orgulhoso e idealista. Foi expulsos das universidades por não se enquadrar nos padrões comportamentais daquela época. Boêmio, vivia no luxo, se entregando à bebida, ao jogo e às mulheres. Foi para a Grécia e ingressou no exército lutando contra os turcos. Perdeu-se nos Balcans chegando até a Rússia, sendo repatriado pelo cônsul americano. De volta a América, descobre que sua mãe adotiva havia falecido.



Aos 22 anos, vivendo na miséria, publica Poemas. Já em Baltimore procura pelo irmão Willian e assiste a morte dele. Allan Poe passa a viver com uma tia muito pobre e viúva com duas filhas. Durante dois anos vive em miséria profunda. Mas vence dois concursos de poesias e o editor Thomaz White entrega-lhe a direção do "Southern Literary Messenger".

 


Em 1833 lança Uma aventura sem paralelo de um certo Hans Pfaal. Dirige a revista por dois anos. Allan Poe gozava de uma certa reputação com leitores assíduos. Depois de sua vida estabilizada, aos 27 anos casa-se com sua prima de 13 anos, Virgínia Clemn. No ano de 1838 trabalha na Button’s Gentleman Magazine na companhia de sua esposa. O casal vivera na Filadélfia, Nova York e Fordham. Em 1847, sofre com a morte de sua esposa vitimada pela tuberculose.



Poe escreveu novelas, contos e poemas, exercendo larga influência em autores fundamentais como Baudelaire, Maupassant e Dostoievski. Mas admite-se que seu maior talento era em escrever contos. Escreveu contos de horror ou "gótico" e contos analíticos, policiais. Os contos de horror apresentam invariavelmente personagens doentias, obsessivas, fascinadas pela morte, vocacionadas para o crime, dominadas por maldições hereditárias, seres que oscilam entre a lucidez e a loucura, vivendo numa espécie de transe, como espectros assustadores de um terrível pesadelo.

 


Entre os contos, destacam-se O gato preto, Ligéia, Coração denunciador, A queda da casa de Usher, O poço e o pêndulo, Berenice e O barril de amontillado. Os contos analíticos, de raciocínio ou policiais, entre os quais figuram os antológicos Assassinato de Maria Roget, Os crimes da Rua Morgue (este considerado o marco inicial do moderno romance policial) e A carta roubada, ao contrário dos contos de horror, primam pela lógica rigorosa e pela dedução intelectual que permitem o desvendamento de crimes misteriosos.



Em seus contos, Poe se concentrava no terror psicológico, vindo do interior de seus personagens ao contrário dos demais autores que se concentravam no terror externo, no terror visual se valendo apenas de aspectos ambientais. Poe ressaltava suas virtudes intelectuais para fugir da desgraça pessoal.



Em 1849, Allan Poe lança O Corvo. Eureka e Romance Cosmogônico lhe atribuem a fama necessária para provocar a censura da imprensa e da sociedade. Desiludido, volta para Richmore e depois vai para Nova York e entrega-se à bebida. Antes de seguir para a Filadélfia, resolve encontrar-se com velhos amigos. Na manhã seguinte, Poe é encontrado por um amigo em estado de profundo desespero, largado numa taberna sórdida, de onde o transportaram imediatamente para um hospital.

 


Estava inconsciente e moribundo. Ali permaneceu, delirando e chamando repetidamente por um misterioso "Reynolds", até morrer, na manhã do domingo seguinte, aos 39 anos e deixando uma vasta obra em sua vida de sacrifícios e desordem. Era 7 de outubro de 1849, e os Estados Unidos perdiam o gênio visionário, o poeta de amplos recursos e contista conhecido sobretudo por suas histórias de mistério e horror, fonte de inspiração direta para a renovação literária europeia no final do século XIX.



A primeira obra de Poe adaptada para o cinema foi O Poço e o Pêndulo (1909), por Henri Desfontaines, há um século. Depois diversos cineastas tentaram adaptar outras obras do escritor, mas nenhuma chegou a qualidade de um Buñuel (que assinou o roteiro do filme dirigido por Jean Epstein em 1928, A Queda da Casa de Usher) e Fellini (que dirigiu Toby Dammit, episódio de Histórias Extraordinárias).  

14 janeiro 2019

Identidades: pensamentos filosóficos


Zygmunt Bauman desenvolveu a ideia da liquidez que desestabiliza as relações humanas.



Michel Maffesoli retoma a fluidez das identificações. Para o autor, passamos de uma lógica das identidades, no qual o indivíduo estava bem localizado, para uma logica das identificações.



Stuart Hall fez sua reflexão sobre as diásporas e sobre os deslocamentos do que seria o sujeito da modernidade tardia ou da pós modernidade.

 


Para Martin-Barbero, a pós-modernidade é uma nova maneira de estar no mundo e afeta o sentido do convívio social. Na sociedade na qual a linguagem multimídia impera, vivemos a simulação. A sociedade pós-moderna deseja viver o presente, fazer do hoje o mundo ideal. E assim morrem as grandes utopias e, em seu lugar, entra a performance.

 


Ferdinand de Saussure argumentava que nós não somos em nenhum sentido, os autores das afirmações que fazemos ou dos significados que nos expressamos na língua. A língua é um sistema social e não individual. Ela pré-existe a nós. Utilizamos a língua segundo padrões estabelecidos para nos posicionarmos de acordo com propostas pré-existentes.



De acordo com Michel Foucault, as sociedades modernas são formadas por uma rede de instituições disciplinares: a escola, a fábrica, a caserna. O sujeito é constituído por práticas disciplinares. A sociedade como um todo é constituída sobre o modelo carceral, formado pelas suas instâncias de vigilância, controle. O objetivo dessas práticas era a produção de corpos dóceis, a produção social da docilidade por meio das tecnologias do poder.

 


Jacques Derrida refletiu sobre questões como a pena de morte, a clonagem, o ciberespaço, o fim da cultura do papel. Notório pela sua teoria da desconstrução e pela ampla defesa da liberdade, ele propunha a desconstrução de certos aspectos tradicionais do pensamento metafísico. Para ele, nunca se sai totalmente da metafísica, apenas se busca uma forma de reverter e deslocar suas teses capitais. A isso, a partir de um certo momento, passou-se a chamar de desconstrução.

 


O gosto classifica e distingue, aproxima e afasta aqueles que experimentam os bens culturais. Pierre Bourdieu mostra a maneira que as preferências culturais dos agentes são estruturadas. As práticas culturais incentivadas por duas instâncias distinguem aquilo que será reconhecido como gosto legítimo burguês, de classe média ou popular. Para ele o gosto cultural é produto e fruto de um processo educativo, ambientado na família e na escola e não fruto de uma sensibilidade inata dos agentes sociais.

 


Ao longo de seus ensaios contundentes o sociólogo Michel Maffesoli sugere que a vida é feita de jogo, de encenação, de astúcia, de ousadia e, principalmente, dos “insignificantes” acontecimentos de cada dia. O cimento social é tudo aquilo que se faz sem a pretensão de mudar a existência ou inventar algo grandioso. Assim, a vida é uma experiência de tentativas e de erros, cuja surpreendente coerência só pode ser vista a posteriori.



 







11 janeiro 2019

Charge, libertinagem da imaginação




Absolutista na política, iluminista na filosofia, no século XVII, a razão (quando investe na seriedade como condição de credibilidade para os discursos sociais e as práticas que deles decorrem) destitui o humor da ordem dos saberes, como portador de discurso cômico sem razão, desprovido, portanto, de verdade. Exilado da cultura, banido da função de expressar o sujeito, o humor recupera, agora no traço da charge, essa sua antiga faculdade de produtor e portador da verdade.




Enquanto existirem o poder e o ser humano, a charge persistirá, independentemente do regime político vigente, seja a ditadura ou a democracia. Charge significa carga, bateria e só é possível na periodicidade de um jornal diário e de um contexto político. A charge é uma ferramenta que revela as fraquezas. Para o cartunista baiano Lage (1946-2006) nada pode apagar o sorriso provocado pela exposição de um político ao ridículo extremo. Tem o poder de catarse. Ele não acreditava nos políticos nem na honestidade deles. Na dinâmica social, o povo é o grande inimigo da ditadura.




A charge é um desenho de humor que estrutura sua linguagem como reflexão e crítica social. A proposta não é registrar o real, mas significá-lo. Registra a história, a partir do que a história, objetivamente, não registra. A charge, “essa libertinagem da imagem”, é um instrumento universal de crítica e sátira política limitado pelas especificidades culturais de cada país, ao contrário da caricatura e do cartum, sempre iguais, independentemente de origem. Dos três gêneros gráficos que se apropriam da realidade para expressá-la através do traço de humor, a charge é o mais sofisticado, pois conta e resume histórias reais de modo e maneiras convincentemente irreais.



O caráter de denúncia, revestido de ironia e humor, sempre marcou os traços de Lage. Em sua trajetória na imprensa baiana ele fez da pena o instrumento de crítica lúcida e afiada, traduzida na melhor literatura.




A charge é um tipo de texto que atrai o leitor, pois, enquanto imagem, é de rápida leitura, transmitindo múltiplas informações de forma condensada. Além da facilidade de leitura, o texto chárgico diferencia-se dos demais gêneros opinativos por fazer sua crítica usando constantemente o humor. Mas a charge não está isolada dos demais textos que aparecem no jornal. Ela contém a expressão de uma opinião sobre determinado acontecimento importante com muita probabilidade de aparecerem outros textos do jornal.




Os textos chárgicos transmitem informações utilizando o sistema pictórico e verbal. A charge assim é um texto visual humorístico que critica uma personagem, fato ou acontecimento político específico. Por focalizar uma realidade específica, ela se prende mais ao momento, tendo, portanto, uma limitação temporal.



Há charges compostas por um único quadro e outras compostas por mais de um. Nas charges com mais de um quadro, os primeiros funcionam como preparadores para o efeito humorístico ou surpreendente que é colocado no último. O humor surge do traço, do gag, da contraposição entre os códigos verbal e visual.




O humor é o principal fundamento de sua narrativa, o instrumento singular de sua linguagem, uma vez que é através dele que a charge transforma a noticia numa consciência sobre ele. Como charge se designa, sobretudo, imagens, cujo sentido está além dos limites da razão. Assim, a charge resume situações políticas que a sociedade vive como problemas, e os re-cria com os recursos gráficos que lhe são próprios. Essa economia de recursos que a caracteriza, isto é, o modo como sua linguagem se articula produtivamente, aponta para a negação da razão como doadora exclusiva de significado à realidade, e para a criticada linguagem textual como instrumento privilegiado de seu sentido. E a charge produzindo uma verdade independente da realidade, da razão. Ao incorporar o humor como linguagem produz uma verdade cujo sentido esta fora da realidade e além da razão.

10 janeiro 2019

Pérolas da MPB (3)


“Eu vim/Vim parar na beira do cais/Onde a estrada chegou ao fim/Onde o fim da tarde é lilás/Onde o mar arrebenta em mim/O lamento de tantos "ais".”(A Paz, Gilberto Gil e João Donato)



“Exagerado/Jogado aos teus pés/Eu sou mesmo exagerado/Adoro um amor inventado” (Exagerado, Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni).



“Veja bem!/É o amor agitando o meu coração/Há um lado carente/Dizendo que sim/E essa vida dá gente/Gritando que não...” (Grito de Alerta, Gonzaguinha)




“Quando a mão tocar no tambor/Será pele sobre pele/Vida e morte para que se zele/Pelo orixá e pelo egum” (Serafim, Gilberto Gil)



“Rebento, a reação imediata/a cada sensação de abatimento/Rebento, o coração dizendo: Bata!/a cada bofetão do sofrimento/Rebento, esse trovão dentro da mata/e a imensidão do som nesse momento” (Rebento, Gilberto Gil)



“Pra cada braço uma força/De força não geme uma nota/A lata só cerca, não leva/A água na estrada morta/E a força nunca seca/Na vida que é tão tão pouca” (A Força que Nunca Seca, Chico César e Vanessa da Mata)



“O mundo é o mar/Maré de lembranças/Lembranças de tantas voltas que o mundo dá” (Memórias do Mar, Vevé Calazans e Jorge Portugal)



“Amores são águas doces/paixões são águas salgadas/queria que a vida fosse/essas águas misturadas” (Memórias das Águas, Roberto Mendes e Jorge Portugal)




“Onde eu nasci passa um rio/que passa no igual sem fim/igual sem fim minha terra/passava dentro de mim” (Onde eu Nasci passa um Rio, Caetano Veloso)



“Por você/Eu dançaria tango no teto/Eu limparia/Os trilhos do metrô/Eu iria a pé/Do Rio à Salvador...” (Por Você, Roberto Frejat, Guto Goffi e Mauro Santa Cecília)



Eu fico/Com a pureza/Da resposta das crianças/É a vida, é bonita/E é bonita...” (O Que É, o Que É?, Gonzaguinha)



“Não me salvo/Porque não me acho/Não me acalmo/Porque não me vejo/Percebo até/Mas desaconselho...” (Enquanto Durmo, C. Oyens e Zelia Duncan)



“Sexo é integração/Não é abuso/Não é serviço/Seu corpo forte e bonito/Não é só por isso/Pré-requisito/Pra minha satisfação” (Sexo, Christiaan Oyens e Zélia Duncan)



“Vou te contar os olhos já não podem ver/Coisas que só o coração pode entender/Fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho” (Wave, Tom Jobim)



 “Errar é útil/Sofrer é chato/Chorar é triste/Sorrir é rápido/Não ver é fácil/Trair é tátil/Olhar é móvel/Falar é mágico/Calar é tático/Desfazer é árduo/Esperar é sábio/Refazer é ótimo/Amar é profundo/E nele sempre cabem de vez/Todos os verbos do mundo” (Todos os Verbos. Marcelo Jeneci e Zélia Duncan)




“Meu coração, não sei por que/Bate feliz quando te vê/E os meus olhos ficam sorrindo/E pelas ruas vão te seguindo/Mas mesmo assim/Foges de mim” (Carinhoso. Pixinguinha)



 “A lua girou, girou/Traçou no céu um compasso/A lua girou, girou/Traçou no céu um compasso” (A Lua Girou, Milton Nascimento)

09 janeiro 2019

Pérolas da MPB (2)


“Por ser exato o amor não cabe em si/Por ser encantado o amor revela-se/Por ser amor/Invade/E fim” (Pétala, Djavan)



“Mas é preciso ter manha/É preciso ter graça/É preciso ter sonho sempre/Quem traz na pele essa marca/Possui a estranha mania/De ter fé na vida....” (Maria Maria, Milton Nascimento e Fernando Brant)



“Ah, se já perdemos a noção da hora/Se juntos já jogamos tudo fora/Me conta agora como hei de partir” (Eu te amo, Chico Buarque e Tom Jobim)




“Conhecer as manhas e as manhãs,/O sabor das massas e das maçãs,/É preciso amor pra poder pulsar,/É preciso paz pra poder sorrir,/É preciso a chuva para florir” (Tocando em Frente, Almir Sater e Renato Teixeira).



“Estamos meu bem por um triz pro dia nascer feliz/O mundo acordar e a gente dormir, dormir/Pro dia nascer feliz/Essa é a vida que eu quis/O mundo inteiro acordar e a gente dormir” (Pro Dia Nascer Feliz, Cazuza e Frejat)



“Tua tristeza é tão exata/E hoje em dia é tão bonito/Já estamos acostumados/A não termos mais nem isso./Os sonhos vêm/E os sonhos vão/O resto é imperfeito” (Há Tempos, Renato Russo).




“Como beber/Dessa bebida amarga/Tragar a dor/Engolir a labuta/Mesmo calada a boca/Resta o peito/Silêncio na cidade/Não se escuta/De que me vale/Ser filho da santa/Melhor seria/Ser filho da outra/Outra realidade/Menos morta/Tanta mentira/Tanta força bruta...” (Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil)



“O que será que me dá/Que me bole por dentro, será que me dá/Que brota à flor da pele, será que me dá/E que me sobe às faces e me faz corar/E que me salta aos olhos a me atraiçoar/E que me aperta o peito e me faz confessar/O que não tem mais jeito de dissimular/E que nem é direito ninguém recusar/E que me faz mendigo, me faz suplicar/O que não tem medida, nem nunca terá/O que não tem remédio, nem nunca terá/O que não tem receita” (O que Será. À Flor da Pele. Chico Buarque)



“Para um coração mesquinho/Contra a solidão agreste/Luiz Gonzaga é tiro certo/Pixinguinha é inconteste/Tome Noel, Cartola, Orestes/Caetano e João Gilberto” (Paratodos, Chico Buarque)



“Drão!/O amor da gente/É como um grão/Uma semente de ilusão/Tem que morrer pra germinar/Plantar nalgum lugar/Ressuscitar no chão” (Drão, Gilberto Gil)



“Mandacaru/Quando fulora na seca/É o siná que a chuva chega/No sertão/Toda menina que enjôa/Da boneca/É siná que o amor/Já chegou no coração...” (Xote das Meninas, Luiz Gonzaga e Zé Dantas)



“Tire suas mãos de mim,/eu não pertenço a você,/não é me dominando assim,/que você vai me entender,/eu posso estar sozinho,/mas eu sei muito bem aonde estou,/você pode até duvidar/acho que isso não é amor” (Será, de Villa Lobos e Renato Russo)



“Eu, tu e todos no mundo/No fundo, tememos por nosso futuro/ET e todos os santos, valei-nos/Livrai-nos desse tempo escuro” (Extra, Gilberto Gil)



 “Avião sem asa, fogueira sem brasa/Sou eu assim sem você/Futebol sem bola,/Piu-Piu sem Frajola/Sou eu assim sem você” (Fico Assim Sem Você, Abdullah e Cacá Moraes)



“Viver é um livro de esquecimento/Eu só quero lembrar de você até perder a memória” (Elevador. Ana Carolina)






08 janeiro 2019

Pérolas da MPB (1)


“Quando o verde dos teus olhos/Se espalhar na plantação/Eu te asseguro não chores não, viu/Que eu voltarei, viu/Meu coração” (Asa Branca, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) 




“Uma parte de mim é multidão/Outra parte estranheza e solidão”  (Traduzir-se. Fagner e Ferreira Gullar)



“Tire o seu sorriso do caminho/Que eu quero passar com a minha dor/Hoje pra você eu sou espinho/Espinho não machuca a flor” (A Flor e o Espinho, de Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Guilherme de Brito )



“O mundo passa por mim todos os dias/Enquanto eu passo pelo mundo uma vez/A natureza é perfeita/Não há quem possa duvidar/A noite é o dia que dorme/O dia é a noite ao despertar” (O Mundo é Assim, de Alvaiade, Velha Guarda da Portela)



“Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo” (Reconvexo, Caetano veloso)


“Queixo-me às rosas/Mas que bobagem/As rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubam de ti, ai” (As Rosas Não Falam, Cartola)



 “Eu tenho tanto/Prá lhe falar/Mas com palavras/Não sei dizer/Como é grande/O meu amor/Por você...” (Como é Grande o meu Amor por Você, Roberto e Erasmo Carlos)



“Meu coração, não sei por que/Bate feliz quando te vê/E os meus olhos ficam sorrindo/E pelas ruas vão te seguindo/Mas mesmo assim/Foges de mim” (Carinhoso, de Pixinguinha)



“Tristeza, por favor vá embora/Minha alma que chora está vendo o meu fim/Fez do meu coração a sua moradia/Já é demais o meu penar/Quero voltar àquela vida de alegria/Quero de novo cantar” (Tristeza, Haroldo Lobo e Niltinho)



“Procurei/Em todas as mulheres/A felicidade/Mas eu não encontrei/E fiquei na saudade/Foi começando bem/Mas tudo teve um fim..” (Mulheres, Martinho da Vila).


 “Vem me fazer feliz/Porque eu te amo/Você deságua em mim/E eu oceano/E esqueço que amar/É quase uma dor...”(Oceano, Djavan).


“Nessa cidade todo mundo é d'Oxum/Homem, menino, menina, mulher/Toda gente irradia magia/Presente na água doce/Presente na água salgada/E toda cidade brilha” (É d´Oxum, Gerônimo e Vevé Calazans)



“Quando olhei a terra ardendo/Qua fogueira de São João/Eu preguntei a Deus do céu, uai/Por que tamanha judiação” (Asa Branca, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)



“Brasil, meu Brasil brasileiro/Meu mulato inzoneiro/Vou cantar-te nos meus versos/O Brasil, samba que dá/Bamboleio que faz gingar/O Brasil do meu amor/Terra de Nosso Senhor/Brasil! Brasil!/Pra mim... Pra mim..” (Aquarela do Brasil, de Ary Barroso).


“É a sua vida que eu quero bordar na minha/Como se eu fosse o pano e você fosse a linha/E a agulha do real nas mãos da fantasia/Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia” (A Linha e o Linho, Gilberto Gil)




“O povo foge da ignorância/Apesar de viver tão perto dela/E sonham com melhores tempos idos/Contemplam essa vida numa cela/Esperam nova possibilidade/De ver esse mundo se acabar/A arca de Noé, o dirigível/Não voam nem se pode flutuar” (Admirável Gado Novo, Zé Ramalho)



“Ando por aí querendo te encontrar/Em cada esquina paro em cada olhar/Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar/Que o nosso amor pra sempre viva/Minha dádiva/Quero poder jurar que essa paixão jamais será//Palavras apenas/Palavras pequenas/Palavras” (Palavras ao Vento, Marisa Monte e Moraes Moreira)


07 janeiro 2019

Palavras ao vento


Adriana Falcão não para na minha estante. Seu Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento traz preciosidades poéticas, reflexivas, de boa leitura. A garota parece que aprisionou as palavras que o vento soprou para ela e, agora, está soltando, uma por uma, de A a Z. Selecionei algumas para o leitor apreciar o trabalho de Falcão:




Adolescente – Toda criatura que tem fogos de artifícios dentro dele



Aquário – Prisão de peixe que tem como desculpa ser vitrine.



Balé – Quando o corpo é lápis, espaço é papel e música é motivo.



Belo – Tudo que faz os olhos pensarem que são coração.



Carnaval – Oportunidade praticamente obrigatória de ser feliz com data marcada.



Contrato – Você isso, eu aquilo, com assinatura embaixo.



Defeito – Cada pedacinho que falta para se atingir a perfeição.



Demora – Quando o tempo emperra na impaciência da gente.



Efêmero – Quando o eterno passa logo.



Emoção – Um tempo que ainda não foi feito.



Flerte – Quando se joga “escravos de Jó” com os olhos.



Fronteira – Linhazinha imaginária que une uns e separa outros.



Gratificação – Um obrigado que vale dinheiro.



Harmonia – Quando os olhos, os ouvidos, a boca e o coração sorriem ao mesmo tempo.



Hipótese – Cada “e se” que existe no mundo.



Infância – O prefácio da pessoa.

 



Ingenuidade – Quando o saber ainda está nu.



Julgamento – Sentimento que periga transformar a vida em tribunal.



Justiça – Que está necessitando urgentemente de um transplante de córnea.



Letras – Cada uma das meninas do alfabeto quando elas não estão de mãos dadas.



Libélula – Inseto vestido para baile.



Melancolia – Valsa triste que toca dentro da gente de repente.


Muro – Poleiro de indecisos.



Noiva – Moça que geralmente usa branco por fora e vermelho por dentro.



Nunca – Palavra bastante corajosa, mas quase nunca cumprida.



Objetivo – Quando a vontade é seta, alvo.



Original – Anterior á xerox.



Página – Cada uma das pétalas de um livro

 


Palhaço -  Toda aquele que tem Carlitos na alma.



Quintal – Lugar que a saudade visita sempre que está mais bucólica.



Química – Coisa que deve ter acontecido entre Romeu e Julieta e continua sendo matéria de estudo.



Reflexo – Uma Lua que mora no mar.



Resposta – Frase luz que ilumina frase escuro.



Segredo – Aquilo que você está louco para contar.



Sexo – Quando o beijo é maior do que a boca.



 


Tanto – Um muito que ficou tonto.



Tudo – O dicionário completo.



Ui - “Ai”que ainda é arrepio.



Usurpar – Brincar de “é meu” sem ser criança.



Vaidoso – Para quem a vida é Avenida.



Vazio – Termo injusto com a palavra nada.



Xeque-mate – Quando só resta ao ser imitar o poeta e pedir um tano argentino.



Xumbregar – Capacidade de saber aproveitar bem um forró.



Zig-zag – O mesmo caminho entre dois bêbados.



Zureta – Como a cabeça da gente fica ao final de um dicionário inteiro.



Delícia de dicionário, não é verdade! Agora se você quer mais é bom ir buscar a obra em uma boa livraria. Boa sorte!