08 maio 2018

Ângelo Roberto, mestre do desenho, completaria 80 anos (02)


Ângelo Roberto nasceu em 1938 no município de Ibicaraí, sul da Bahia, mas fez toda a sua trajetória artística na capital, onde se radicou desde 1944, chegando a receber o título de Cidadão de Salvador, conferido pela Câmara de Vereadores, por sua contribuição à culturas baiana, como artista plástico, ilustrador, caricaturista e muralista. Na década de 50 era estudante do Colégio da Bahia e foi nessa época que se formou a Jogralesca e se plasmou a chamada geração Mapa, revista que deu nome e visibilidade a uma geração ímpar de artistas. Entre os colegas que vestiam a farda daquele que era o colégio mais respeitado da época, estavam os cineastas Glauber Rocha e Paulo Gil Soares, os artistas plásticos Sante Scaldaferri e Calasans Neto, o jornalista e poeta Florisvaldo Mattos, o poeta Anísio Melhor, o jornalista João Carlos Teixeira Gomes entre outros. Na época Glauber Rocha instituiu um salão de artes plásticas, onde Ângelo ganhou o primeiro lugar em desenho, com um auto-retrato a lápis.


A fase de criança é sempre presente na sua obra porque foi um tempo bom. “Fui uma criança feliz graças ao professor Adroaldo Ribeiro Costa. Um ano depois de chegar de Ibicaraí, em 1945, já estudando na Hora da Criança, ele colocou um professor particular de desenho pra mim, Álvaro Zózimo. Acho que foi ali que tudo começou“, disse o artista. Dali em diante, Ângelo Roberto nunca mais deixou a prancheta. Aos 12 anos, desenhava personagens infantis para a recém-inaugurada Biblioteca Monteiro Lobato, o que rendeu uma exposição dele no VI Congresso de Escritores Infanto Juvenis, em São Paulo. Foi amigo inseparável da bibliotecária Denise Tavares, a fundadora da Monteiro Lobato. Aos 13 anos, também levado por Adroaldo Ribeiro Costa, passou a ser o ilustrador das páginas infantis do Diário da Bahia e A Tarde.

Formado pela Escola de Belas Artes da UFBa, fez cursos de pintura, gravura, escultura e cerâmica. Tendo optado pela técnica do bico-de-pena, tornou-se, nesta área, um dos melhores artistas da Bahia e do Brasil, participando de exposições no Museu de Arte de São Paulo, a convite de Pietro Maria Bardi, da Primeira e da Segunda Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia e de mostras individuais e coletivas em quase todos os espaços culturais e galerias importantes de Salvador. Produziu capas e ilustrações para mais de 30 livros de escritores baianos, além de cartazes para vários filmes baianos e para entidades e movimentos, como o Comitê Brasileiro pela Anistia. No cinema, tem presença também como ator. Além do mercado de publicidade, onde atuou por muito tempo como diretor de criação, realizou projetos de decoração para o Carnaval baiano.


Retratar os amigos e pessoas mais próximas sempre foi, aliás, um dos passatempos prediletos de Ângelo Roberto. Humorista por excelência e observador da vida, ainda na Escola de Belas Artes, surpreendeu colegas e professores com uma fantástica exposição de caricaturas deles. Em 1984, retratou 30 políticos, artistas e intelectuais com quem dividia a mesa de bar, como os escritores João Ubaldo Ribeiro e Guido Guerra, a atriz Nilda Spencer, o dono da Cantina da Lua, Clarindo Silva, o poeta e Ruy Espinheira Filho, o professor Cid Teixeira, o artista plástico Juarez Paraíso, o vereador Celso Cotrim e o jornalista Béu Machado, amigo de infância. A mostra, muito comentada na cidade, trazia o estilo de caricatura do artista: o personagem de corpo inteiro e dentro do seu ambiente.


“O traço enxuto, a linha essencial, a captação do fugidio, a retenção do imponderável fazem desta exposição – comentou Cid Teixeira na época -, muito mais uma análise de caracteres, do que de visões exclusivamente físicas dos eleitos. As pessoas são como que desnudadas no seu jeito de ser” E acrescentou: “Poucas pessoas são tão Bahia quanto ele”. Transitando na área de publicidade e da ilustração, como artista e ser humano, ele procurou traçar na exposição de 1989 a geografia humana, particularmente da Bahia, onde vive.

Os personagens podem ser crianças, humildes, mendigos, vendedores de rua. Mas também os homens que contribuem para a vida pública e cultural do estado, como os escolhidos para a mostra. Como caricaturista, os traços são simples, precisos para uma percepção imediata de quem as vê. O que ele faz é congelar a imagem psicológica do retratado, “com extraordinária e expressiva síntese visual, na qual as sutilezas dos detalhes, a atitude, o gesto, a ação, transcendem a mera enfatização das características físicas”, observou Juarez Paraíso.


O mesmo traço das brilhantes caricaturas de Ângelo Roberto é característico dos desenhos de cavalos, pássaros, animais e crianças, que o caracterizam como um artista inspirado na infância. “Eu nunca me desliguei da infância, acho até que ela me persegue, por mais que eu corra“, disse certa vez.

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