02 fevereiro 2012

Perversão freudiana na obra de Cronenberg (1)

Inquietante, desconcertante. Um Método Perigoso, o novo filme de David Cronenberg que deve estrear no Brasil no dia 10 de fevereiro vê nascer a ciência que pode mitigar a dor da existência. Conta a história de Sabina (vivida pela atriz Keira Knightley), uma jovem perturbada de origem russa que luta entre desejos e emoções incontroláveis e os esforços de Carl Jung (Michael Fassbender) para domá-los e contê-los.


As cenas se passam as vésperas da Primeira Guerra e descreve a transformação das relações entre seus principais personagens. Sabina, paciente de Jung, sua amante e posteriormente colega. Ao mesmo tempo, Freud e Jung integram um complexo drama edipiano, em que o analista mais jovem, discípulo promissor de Freud, se torna um herdeiro e então um perigoso rebelde, cujos interesses místicos contradizem diretamente a ortodoxia psicanalista.


Freud (Viggo Mortensen), o gênio atormentado, é restituído as suas dimensões humanas pela brilhante atuação de Mortensen, segundo os críticos. Sabina, Jung e Freud participam de uma expedição ao território desconhecido do inconsciente. O filme está repleto de conceitos sobre a sexualidade, mas também reconhece e destaca o poder erótico das ideias. A mente é ao mesmo tempo escrava e senhora dos apetites do corpo. E o que se vê é a força perturbadora da líbido não domesticada, bem ao princípio cronemberguiano do irreprimível.


Excitação próximo da morte


A evolução biológica e as proposições da biotecnologia começaram a ser trabalhada pelo cinema na década de 90. O cineasta David Cronenberg sempre foi fascinado pelo imaginário médico e científico. Basta rever seus filmes “Videodrome – a síndrome do vídeo” (1983), “A Mosca” (1986), “Gêmeos – mórbida semelhança” (1988) e em “Crash – estanhos prazeres” (1996). Esse último se acrescenta o desejo sexual provocado pela morte e pelo risco. O filme tem como fio condutor o fetiche pela morte, encenada em acidentes de carro, de estrelas do cinema, e enfatiza o fator risco, desejo, acaso, fatalidade (a morte de James Dean, Jayne Mansfield etc). Essa nova interface do cinema está relacionada com a possibilidade de experimentar uma outra sexualidade e subjetividade, maquímica, atravessada pelo trágico e pelo fetiche.


Essa busca de experiência-limite e de fusão e hibridagem entre o corpo humano e outras interfaces (carro, aparelhos, instrumentos) Cronenberg explicitou em filmes como Gêmeos (fusão dos dois irmãos), Madame Butterfly, 1993 (fusão homem-mulher), Videodrome (fusão homem-TV). Seus filmes tornam-se assim híbridos e extensões de máqinas investidas de afeto e desejo. Assim é Cronenberg, fascinado pela aventura transgressiva, onde o conteúdo pressuposto do erotismo é a ultrapassagem dos limites: êxtase, vertigem, excesso, tudo muito bem regrado e dirigido. Crash vai na contracorrente de qualquer erotismo fácil ou grotesco e diz que, por mais domesticada que esta possa ser, há algo na sexualidade que surge como uma força desestabilizadora.

Crash – Estranhos Prazeres causou furor e desconforto em Cannes/96, proibido em Londres, é metáfora para a colisão da tecnologia com o homem. O filme reúne explicitamente sexo e morte. Esse tema da necrofilia causou frêmitos de admiração, mas uma parte da crítica não se deixou enganar chamando de provocação sexo-blasfematória. Excitação e repulsa envolvendo personagens que sentem prazer sexual provocando acidentes de automóvel. É um filme sobre morte, sexualidade e tecnologia. Drama erótico-automotivo. A desesperadora necessidade de erotização por meio dos acidentes automobilísticos é analisada no filme baseado na obra de J. Ballard. Tipos e situações bizarras são coerentes com o universo do cineasta canadense David Cronenberg, autor de Gêmeos, Mórbida Semelhança e Videodrome, entre outros títulos que exploram a deformação física e psicológica do ser humano. E não foi outro elemento que animou o diretor a filmar o livro do inglês James Ballard, escrito em 1973. “Crash combina erotismo e tecnologia. Os acidentes de carro funcionam como metáfora para a colisão entre a moderna tecnologia e a psique humana”, explica Cronenberg na época do lançamento.


Crash, assim como considerável parte da filmografia de David Cronenberg, é polêmico e para muitos pornográfico. Cronenberg, para quem “o cinema tem de ser complexo, profundo e textualmente denso”, disse estar sempre pronto para as reações e controvérsias porque faz parte do seu prazer em fazer filmes. Ele rejeita a denotação pornográfica explicando que “esse é um tipo de reação apenas da superfície do filme principalmente porque começa com três cenas seguidas de sexo e, ao invés de tentarem entender o que há por trás, acomodam-se com apenas o que vêem. O filme não mostra o sexo como uma solução ou satisfação e não visa de maneira alguma a excitar sexualmente o espectador”. Segundo ele, a busca do orgasmo em acidentes automobilísticos é “uma síndrome muito conhecida, um fato consumado nos círculos de psiquiatria”.

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