04 fevereiro 2010

Devagar se vai ao longe (3)

Mens sana in corpore sano. Pra começar, é preciso mudar a maneira como pensamos. Em vez da reflexão, acontece a reação nessa vida apressada. Qual foi a última vez que você sentou numa cadeira, fechou os olhos e simplesmente relaxou? Pensamento rápido é racional, analítico, linear e lógico. Pensamento devagar é intuitivo, vago e criativo. Relaxar é o primeiro passo para pensar. Pesquisas demonstram que as pessoas pensam de maneira mais criativa quando estão calmas, sem pressa e livre de estresse.


Num provérbio inglês do século 14, o tempo é uma excelente cura. Mas em hospitais e clínicas de todo o mundo, os médicos sofrem pressão para apressar o atendimento dos pacientes. Em muitos consultórios de clínico geral a duração de uma consulta fica e,m torno de seis minutos. O resultado é uma cultura médica baseada na rapidez. Em vez de se dar tempo para ouvir os pacientes, avaliar todos os aspectos de sua saúde, de seu estado de ânimo e de seu estilo de vida, o médico convencional tende a se aferrar aos sintomas. Muitas vezes recorrem à tecnologia – medicação, cirurgia, etc. Num mundo em que cada segundo parece contar, todos queremos (não, esperamos) ser diagnosticados, tratados e curados o mais rapidamente possível. Muitas vezes a velocidade é crucial na medicina, mas como em tantas outras áreas da vida, mais rápido nem sempre quer dizer melhor.

SEXO

O mundo moderno está saturado de sexo. Dá a impressão de que está todo mundo fazendo o tempo todo. Só que não está. Embora passemos boa parte do dia vendo, falando, fantasiando, fazendo piada e lendo sobre sexo, a verdade é que passamos muito pouco tempo fazendo sexo mesmo. Muitos dedicam escassa meia hora por semana a fazer amor. E quando finalmente passamos à ação, muitas vezes a coisa já acabou antes de começar para valer. O sexo rápido não é uma invenção moderna – remota a um passado distante. Certas religiões ensinavam que o coito servia para procriação, e não para recreação: o marido devia subir, cumprir o dever e descer. Já o mundo moderno tende a abraçar a tese de Woody Allen de que o sexo é a coisa mais divertida que se pode fazer sem rir. Mas hoje, no fim de um dia de trabalho duro, a maioria das pessoas está cansada demais para fazer sexo.

Nossa cultura da pressa ensina que chegar ao destino é mais importante que fazer a viagem – e o sexo é afetado por essa mesma mentalidade da meta de chegada. Muitas mulheres não sentem desejo ou prazer sexual e a indústria farmacêutica insiste em que uma pílula tipo Viagra pode resolver tudo. A mulher precisa de mais tempo para se estimular por isso que a maioria delas prefere um amante com a mão vagarosa. Tudo isso está na obra de Carl Honoré, o livro Devagar.

Se você quer desacelerar, é melhor começar aos poucos. Primeiro, improvise uma refeição. Dê uma caminhada com um amigo em vez de ir correndo para o shopping comprar coisas de que não precisa realmente. Leia os jornais sem ligar a televisão. Comece a fazer massagens quando estiver fazendo amor. Ou simplesmente reserve alguns minutos para ficar tranquilamente sentado num lugar sossegado (vendo o por do sol, por exemplo). Faça uma reavaliação do seu horário de trabalho. Comece a relaxar e refletir mis sobra a vida que leva.

E para encerrar, só mesmo lendo/ouvindo a composiçõ de Almir Sater e Renato Teixeira: Tocando em Frente: “Ando devagar porque já tive pressa/ Levo esse sorriso porque já chorei demais/ Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe/ Só levo a certeza de que muito pouco eu sei/ Eu nada sei// Conhecer as manhas e as manhãs,/ O sabor das massas e das maçãs,/ É preciso amor pra poder/ pulsar,/ É preciso paz pra poder sorrir,/ É preciso a chuva para florir// Penso que cumprir a vida seja simplesmente/ Compreender a marcha e ir tocando em frente/ Como um velho boiadeiro levando a boiada/ Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou/ Estrada eu sou// Conhecer as manhas e as manhãs,/ O sabor das massas e das maçãs,/ É preciso amor pra poder pulsar,/ É preciso paz pra poder sorrir, / É preciso a chuva para florir// Todo mundo ama um dia./Todo mundo chora/ Um dia a gente chega/ e no outro vai embora// Cada um de nós compõe a sua história/ Cada ser em si carrega o dom de ser capaz/ De ser feliz// Conhecer as manhas e as manhãs/ O sabor das massas e das maçãs/ É preciso amor pra poder pulsar,/ É preciso paz pra poder sorrir, /É preciso a chuva para florir// Ando devagar porque já tive pressa/ E levo esse sorriso porque já chorei demais/ Cada um de nós compõe a sua história,/ Cada ser em si carrega o dom de ser capaz/ De ser feliz”
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

Um comentário:

Marcelo Oliveira disse...

Olá Gutemberg, gostaria de falar contigo sobre quadrinhos e outros assuntos, a pedido de meu amigo Marko Ajdaric. Poderia me mandar um email para marcelocaterpillar@gmail.com para conversarmos?

Abraço!