04 junho 2009

Culto do falo (2)

O pênis não foi simplesmente exaltado em Atenas – ele foi exposto. A reverência pela forma masculina foi personificadas em milhares de estátuas de rapazes nus, espalhadas pelo mundo grego. “Na Grécia”, escreveu Michel Foucault em História da Sexualidade, “a verdade e o sexo estavam ligados na forma da pedagogia pela transmissão de conhecimento precioso de um corpo a outro corpo; e sexo servia como meio para iniciações na aprendizagem”.

Não foram os padres da Igreja e sim os filósofos estóicos, como Sênica, que começaram a chamar os órgãos genitais de “partes vergonhosas”, ou pudendas (os gregos diziam cidia).
A partir do século V Agostinho pregava que o homem adoeceu pela luxúria e o sêmen e, então, estabeleceu a Igreja como o Grande Médico Espiritual. As opiniões negativas de Agostinho sobre ereção, sêmen e natureza humana se tornariam “a influência dominante no cristianismo ocidental, católico e protestante, e dariam o tom de toda a cultura ocidental, cristã ou não”, informou Elaine Pagels.

O pênis mudou-se para outro lugar. Depois de homenageado como motor da vida pelos homens que construíram as pirâmides e o Panteão, depois de reverenciado como o deus interior pela tribo do deserto que introduziu no Ocidente o monoteísmo e a idéia do Messias, esse “caule sagrado” foi derrubado de seu pedestal e apagado do léxico cultural ocidental. O seu lugar foi ocupado pela “vara do demônio”, o corruptor de toda a humanidade.
O pênis na Europa medieval, geralmente estava longe dos olhos, mas nunca longe do pensamento. A vara do demônio tornou-se uma obsessão da Igreja na literatura conhecida como penitencial. Tendo se originado na Irlanda do século VI, esses manuais para confessores definiram o comportamento cristão – especialmente o comportamento do pênis. Os penitenciais procederam da idéia agostiniana de que sexo era pecaminoso justamente em relação ao prazer que gerava.
Tomás de Aquino perpetuou a atribuição de características demoníacas ao pênis, que começou com Agostinho e culminou em um dos períodos mais feios da história. Ele contribuiu para o estabelecimento da histeria da bruxaria.
IDADE MÉDIA
A crença do homem, na Idade Média, em sua integridade física era tão vacilante que alguns ostentavam a braguilha sobreposta no gancho de seus calções, geralmente décor viva e acolchoada, moldada na forma de uma ereção permanente. “A primeira peça na armadura de um guerreiro”, disse Rabelais. Em 1536, o rei Henrique VIII, dono da braguilha mais volumosa da Inglaterra, decapitou sua segunda esposa, Ana Bolena, antes cortesã, que ele denunciou como feiticeira depois de perder o interesse sexual por ela – ou terá sido a capacidade de ereção?. A misogenia, em suas expressões sutil e bestiais, provavelmente fornece, de modo geral, a resposta. O que havia era uma permanente obsessão cultural com o pênis, as inseguranças que gerava e o mal que poderia fazer.
A masturbação “proclama a independência do macho”, escreveu John H. Gagnon e William Simon em “Sexual Condut”. “Concentra o desejo sexual masculino no pênis, por causa da centralização da genitália nos domínios físico e simbólico (...). A capacidade de ereção é um sinal importante” a maioria dos homens diria o sinal mais importante – “de virilidade e controle”.
Os pregadores do século 17 afirmavam que a masturbação era o mais grave pecado contra a natureza, pois acarretava fraqueza física, incapacidade para o casamento e abreviava a vida, levando ao suicídio. Com o Iluminismo, a condenação muda radicalmente de sentido. A masturbação não é mais uma “falta” apenas, ela se torna uma “doença”. No século 19 a idéia fixa médica do onanismo como doença beirou o delírio e justificava todo tipo de recomendações, admoestações e ameaças dirigidas aos jovens. O discurso médico refletia as fantasias da classe burguesa, em vias de se tornar a nova classe dominante.
Há diversos nomes para a masturbação: servir-seda mão, punhetear, polir o instrumento, pelar o ganso, os cinco contra o careca, onanismo, matar o zezinho, glorioso, empinar a pipa, descascar o pepino, descascar abanana, amolar a ferramenta, bater bronha, tocar pífano, tocar aflauta, vício solitário...
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