03 março 2008

Giordano Bruno e seus furores (1)

Há 460 anos nascia Giordano Bruno (1548/1600), o filósofo italiano, ex-padre dominicano do século XVI, que foi, provavelmente, o primeiro mártir da Ciência. Suas teorias radicais, fruto de complexa personalidade visionária, racionalista, científica e, também, ocultista, abalaram dogmas políticos, religiosos e científicos da cultura ocidental, batendo de frente com preceitos dogmáticos estabelecidos pela Igreja Católica e seu braço repressor, a Inquisição. Apesar do destino trágico, ele sustentou até o fim os seus ideais, escritos e obras. Seus ideais, com a idéia mestra de universos infinitos e multiplicidade dos mundos, não só permaneceram através dos séculos, como influenciaram figuras como Galileu, Newton, Huygens, Leibniz, Popper, Spinoza e até mesmo Shakespeare. Ele morreu pelas suas idéias que na época eram conhecidas como um "materialismo degenerado". A época ficou conhecida como o período das reformas político-religiosas: o Renascimento. O filósofo foi condenado pelas três correntes: catolicismo, calvinismo o luteranismo (protestantismo).

Vamos conhecer um pouco dessa figura pouco divulgada nos dias de hoje. Inúmeros estudos sobre as obras tentam aprisioná-lo em escolas místicas ou desconsiderar suas pesquisas e teorias que influenciaram a ciência astronômica, assim como toda a filosofia moderna. Sobre ele há um ótimo livro de Michael White (O Papa e o Herege), além do texto da peça de teatro "Galileu Galilei", de Bertold Brecht, e o filme "Giordano Bruno", de 1973, dirigido pelo cineasta italiano Giuliano Montaldo, com uma excelente interpretação de Gian Maria Volonté, no papel de Giordano Bruno.

Desde o século II, a filosofia permanecia mergulhada no território imóvel da fé, a teologia católica. A terra permanecia como o centro do Universo imóvel e finito. Doutrinas filosófico-teológicas, declaravam a terra como o centro do Universo. Giordano Bruno foi um dos precursores da Teoria do Infinito e, em conseqüência, contrariou os interesses políticos e religiosos estabelecidos há séculos como verdades absolutas.

COSMOLOGIA - Bruno nasceu em Nola, Reino de Nápoles, sul da Itália. Ingressou em 1565 na ordem dos dominicanos, ordenado sacerdote em 1572, e doutor em teologia em 1575. A sua curiosidade intelectual leva-o à leitura de Erasmo, humanista considerado herético desde 1559. Giordano navega no hermetismo e na magia, iniciando uma enorme paixão pela cosmologia. Deixou a ordem e a igreja católica já no ano seguinte, porque duvidava dos dogmas da virgindade de Maria, da transubstanciação do pão na ceia eucarística, d
a divindade de Jesus. Perseguido pela Inquisição Romana, fugiu para o norte da Itália, dali para a Suíça, depois França.

Em Paris conseguiu algum sossego e começou a lecionar. Acumula problemas com os mentores do poder espiritual da época por ousar pensar livremente. Foi excomungado pelos calvinistas de Genebra, foi recebido com hostilidade pelos anglicanos de Oxford e de Londres. Por meio de procedimentos escusos, a Inquisição Romana conseguiu capturá-lo, e tê-lo em Roma. Depois de oito anos de prisão e resistência a uma abjuração forçada, durante os quais foi submetido a todo o tipo de sevícias físicas e morais, foi posto no alto de uma fogueira, sob a vigência do pontificado do papa Clemente VIII.

O Papa Clemente VIII tentou acabar com o processo, propondo a G. Bruno o perdão em troca de uma declaração de arrependimento. A sua resposta foi a seguinte: “Não temo nada e não renego nada e não sei o que deveria renegar”. Em 20 de Janeiro de 1600 Clemente VIII ordena ao Tribunal do Santo Ofício que se pronuncie. Após a leitura da sentença que o condena a ser queimado vivo, G. Bruno diz: “sentis vós mais medo e dúvida a pronunciar essa sentença do que eu a aceitá-la”. E, numa antevisão de futuro, respondeu: "O tempo tudo dá e tudo tira; tudo muda, mas nada perece...".

2 comentários:

PSTU disse...

Assisti ao filme e fiquei mais apaixonado ainda pela figura de g b. Muito bom o seu artigo, parabéns.

Gutemberg disse...

O filme é muito bom e o personagem é fascinante. Na historiografia universal tem nomes que ficam eterno.

Gutemberg