27 junho 2006

Gatos são livres como a imaginação

No Egito os gatos eram idolatrados. Na Idade Média não escapavam das fogueiras ao lado das “bruxas”. Em 1494, por ordem do papa Inocêncio III, foram ferozmente perseguidos e exterminados. Mas nos séculos 18 e 19, escritores protegiam os gatos, achavam que eram animais tão livres quanto a imaginação. Como os escritores daquele período eram protegidos dos nobres, esses passaram a gostar de gatos. E os felinos viraram símbolo de riqueza e inteligência. Entre os amigos dos gatos estão Charles Baudelaire, Edgar Allan Poe, Lewis Carroll e T.S.Eliot.

Selvagens ou domésticos, os gatos são enigmáticos e cheios de estilo. Eles pertencem à família dos Felídeos e, aqui no Brasil, gato ou Felis Catus (nome científico, em latim) que pode significar muita coisa: ligação clandestina de eletricidade, lapso ou engano proposital (muito comum em partidas de dominó) ou sinônimo para gente bonita (não é à toa que, quando uma menina e um menino são bonitos, são chamados de gato ou gata). Os felinos – do tigre ao gato doméstico – têm charme e elegância.

O gato divide espaço com o homem há muitos séculos. Imortalizados como personagens de desenhos animados e histórias em quadrinhos, vamos conhecer um pouco mais dessas feras que todos nós amamos. Um dos clássicos dos quadrinhos que durou três décadas (1910 a 1940) foi Krazy Kat, de George Herriman. Aventura do rato Ignatz cuja principal diversão é dar tijoladas na cabeça da felina. As peripécias dos dois fizeram sucesso em, livros, desenhos animados, quadrinhos e num balé.

Em 1917 Pat Sullivan cria o desenho animado Gato Félix. Até então os desenhos se resumiam a uma série de corridas e lutas. Mas Félix tinha um caráter distinto e seus próprios maneirismos – costumava andar com as mãos atrás das costas quando tinha de resolver um problema, uma mania do próprio desenhista Otto Messmer – e caráter. Ele pára, pensa, tenta achar a solução de um problema. Os filmes tinham nonsense que encantava, onde os pontos de interrogação que pairavam sobre a cabeça do pensativo Félix se tornavam varas de pescar. Era a linguagem experimental nos desenhos e quadrinhos. Félix usou o balão (fala) como balão para fugir de Marte e voltar para a Terra. Era a poesia e o lirismo de um gato preto em busca da amada. Sullivan, o produtor, teve a esperteza de registrar o personagem e comercializar a sua imagem em até 200 produtos. Félix foi um ícone dos anos 20.

E nos desenhos animados não se pode esquecer do Manda Chuva (da dupla William Hanna e Joseph Barbera), líder de uma turma que mora em um beco. Junto com seus amigos dá golpes para arranjar dinheiro e adora aprontar com o Guarda Belo. Já Tom e Jerry brigam o tempo todo e o gato sempre leva a pior, mas insiste em perseguir Jerry, rápido e esperto que sempre consegue escapar. Tem o Frajola e sua vontade de eliminar o passarinho Piu Piu. Ambos moram na casa de uma simpática velhinha e o gato sempre se dá mal nas suas tentativas.

Ainda dos estúdios de Hanna Barbera surgiram Zé Bolha e o parceiro do rato Juca Bala. Quem lembra da turma da Gatolândia? E de Chuvisco sempre correndo atrás de Plic e Ploc?. E China, o fiel Ajudante de Hong Kong Fu?. Bu, o gato fantasma de O Fantasminha Legal. Ou mesmo do detetive Olho Vivo. E Bacamarte que não dava trégua a Chumbinho. E Jambo e Ruivão?

Dos estúdios Disney não dá para esquecer do Gato Risonho de Alice no País das Maravilhas, ou dos irmãos Si e Ão, de A Dama e o Vagabundo. Lembra-se de Fígaro, o gato de Gepeto em Pinóquio, ou mesmo Aristogatas. Não esquecer de Ron ron bagunçando a vida do atrapalhado Peninha...

Do Brasil temos um casal de gatos (ele branco e ela preta) que apronta muito na tira diária O Condomínio, do desenhista Laerte Coutinho. E Maurício de Sousa traz Mingau, tão faminto quanto sua dona Magali.

O gorducho e preguiçoso Garfield (criação de Jim Davis), todo mundo conhece. Ele adora lasanha, estraçalha o carteiro, acaba com as cortinas e ataca a geladeira do seu dono, Jon. Garfield detesta as segundas-feiras e gosta de mostrar o quanto os cachorros são bobos. Odie, o cão com que mora, é sua vítima preferida.

E o que dizer do libidinoso Fritz, the Cat, criação do papa dos quadrinhos underground, Robert Crumb a partir de 1965. Crumb foi um dos artífices do movimento de introdução do sexo, drogas e política nos quadrinhos, uma forma de contestação do american way of life. São muitos exemplos desses animais que estão nos sonhos de todos, viraram mitos. Mas não poderia esquecer de duas obras imprescindíveis em homenagear esses felinos. Os Olhos do Gato, de Moebius e Jodorowski, e Maus, de Art Spiegelman, esse último uma crítica ao nazismo.

Um comentário:

Anônimo disse...

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