17 setembro 2012

O rei das selvas completa 100 anos de existência (4)

Das novelas para as telas

Do musculoso Elmo Lincoln, o primeiro rei das selvas, até o esguio e elegante Christopher Lambert, nada menos que 20 diferentes homens-macaco passaram pelas telas. O mais famoso foi Johnny Weissmuller, um dos maiores atletas da história da natação, bicampeão olímpico e com o recorde de 67 marcas mundiais do nado livre. Ele ficou 17 anos (de 1932 a 1948) e 12 filmes como Tarzan. Foi em janeiro de 1918 que Tarzan surgiu pela primeira vez no cinema. Ele saiu das páginas das novelas de Burroughs para os filmes de aventuras. “Tarzan dos Macacos”, com Elmo Lincoln no papel principal, foi o primeiro filme da história a obter uma renda bruta de mais de US$1 milhão. Enid Markey personificava a companheira fiel do rei das selvas e com ele respirava-se um pouco de vida selvagem e pura das florestas com seus animais e seus perigos. Seu lançamento deu-se na National Film of América.

Em 1920, Gene Polar vive o papel do homem-macaco. Esses dois Tarzans eram do cinema mudo. Depois, vieram outros, como James H. Pierce, Frank Mervil. Em 1932, o campeão olímpico de natação, Johnny Weissmuller, deixou as piscinas para ingressar nas selvas africanas, acompanhado pela suave Mauren O´Sullivan. O som chegara ao cinema e, pela primeira vez, seria ouvido o grito de triunfo de Tarzan. Foi o grito do herói que impressionou as platéias. Quando Tarzan levava a mão à boca e soltava seu poderoso berro, a selva tremia. Ele podia estar contando vitória, advertindo bandidos ou chamando seus amigos elefantes para livrá-lo de alguma encrenca. A Metro-Goldwin-Mayer fez grande esforço para criar um som extraordinário. Trilhas sonoras que registravam o rosnar de um cão, uivos de hienas, notas de um violino desafinado foram misturados com a trilha do próprio Weissnuller gritando. Além de Weissmuller, somente Lex Barker sabia imita-lo.

Os intérpretes do herói foram escolhidos mais por sua capacidade atlética que por qualquer consideração artística. James H. Pierce (que se casou com a filha de Burroughs) tinha sido craque de futebol na Universidade de Indiana. Johnny Weissmuller, o melhor de todos, bateu 75 recordes mundiais de natação e foi a vedete das Olimpíadas de 1924 e 1928. Os Jogos Olímpicos foram uma sementeira de Tarzan: Buster Crabe, campeão olímpico de natação, e Herman Brix (depois, mudou o nome para Bruce Bennett), campeão de arremesso de peso. Glen Morris foi o campeão de decatio, em 1936. Gordon Scott, antigo cowboy e salva-vidas, foi o único a filmar na África (Tarzan e a Expedição Perdida, primeiro filme em technicolor). Já Dennis Miller, jogador de basquete, foi considerado o pior Tarzan de todos os tempos. Mike Henry, jogador de futebol americano, fugiu de uma vaca e foi agredido por Chita quando filmava no Rio. Desde então, produziram-se 50 filmes de Tarzan, cada um, eles com grande êxito. Embora gostasse de caçoar das películas, Burroughs ficou amargamente desapontado com os filmes de Tarzan. Muitas vezes nem ia vê-los. O seu Tarzan era um homem civilizado, herói, belo e, acima de tudo, livre. O mundo conhece bem a caricatura semi-analfabeta que Hollywood fez de Tarzan.

O personagem não enfrentou apenas os bandidos nas selvas. A censura foi um inimigo imbatível para o herói. O autor proibia Tarzan de dar gargalhadas nos filmes. O Código Hays (severa imposição das ligas de decência) cortou cenas de Tarzan e Jane nadando nus em A Companheira de Tarzan; censurou o ataque de vampiros em A Fuga de Tarzan e a morte de Jane em O Filho de Tarzan. E teve que vestir o jovem Eric Langlois com uma fina malha cor de carne nas cenas em que ele fazia um Tarzan nu e adolescente em Greystoke, a Lenda de Tarzan.


Depois de realizarem dezenas de filmes, novelas radiofônicas, discos, peças teatrais, quadrinhos, os produtores e diretores partiram para os filmes seriados a tevê – nova forma de explorar o mito de Tarzan. Ron Ely foi o primeiro Tarzan da televisão. Mais tarde uma série de Tarzan para a tevê foi levada em mais de 300 estações nos Estados Unidos e fora dele. Todos os dias, em quase todo o mundo, exibe-se um filme de Tarzan ou uma tira de quadrinhos. Oitenta anos depois, o mesmo intenso sucesso permanece. Tarzan continua venerado pelos velhos que o viram “nascer”, pelos adultos que o recordam e ainda se divertem com suas aventuras, e também pelas crianças que o têm como um ídolo sempre presente em suas brincadeiras.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

14 setembro 2012

O rei das selvas completa 100 anos de existência (3)

Tarzan inaugurou um tema nunca antes explorado nos quadrinhos: as histórias de aventuras. Doze mil imagens foram desenhadas e vendidas em todas as partes do mundo. Um sucesso que definia sua época: 1929. Era a época da depressão, em que todo mundo nos EUA vivia em uma espécie de selva, como Tarzan. Além disso, ele se encontrava como o americano: sem armas para lutar contra o perigo, nu na selva, querendo vencer com seus próprios recursos.

Harold Foster, o primeiro a desenhar Tarzan em quadrinhos, começou em janeiro de 1929, diariamente, num jornal americano. Foster possuía temperamento sonhador e deu ao seu Tarzan características românticas. A princípio, seu traço era um pouco hesitante; aos poucos, porém, foi se firmando, e aliando elegância à majestade. Quando, em 1937, Foster passou a desenhar Príncipe Valente, abandonando as histórias de Tarzan, Rex Maxon e Burne Hogarth tomaram seu lugar. O segundo desenhando, apenas, nos suplementos dominicais. Hogarth, com seu traço épico, criou um Tarzan exatamente nos moldes que Burroughs imaginara. Desta forma, Tarzan recebeu um tratamento artístico jamais dado a outro herói de histórias em quadrinhos. Hogarth cujo enorme cultura artística muito o auxiliou na composição das histórias, desenhava os músculos de Tarzan com o cuidado de um especialista na reprodução dos músculos humanos.

Harold Foster, o primeiro autor das tiras diárias, que aparecem pela primeira vez a 7 de Janeiro de 1929, desenha, assim, as 60 primeiras tiras, seguindo-se a este na série (que termina em 1973) os seguintes artistas: Rex Maxon (1929-36), William Juhré (1936-38), novamente Rex Maxon (1938-47), Burne Hogarth (1947), Dan Barry (1948-49), John Letti (1949), Paul Reinman (1949), Nicholas Viskardy (1950), Bob Lubbers (1950-54), John Celardo (1954-67) e Russ Manning (1967-73).

Relativamente às páginas dominicais, surgidas pela primeira vez a 15 de Março de 1931, com a assinatura de Rex Maxon, obrigatórias, ainda hoje em dia, nos jornais americanos de domingo, foram desenhadas sucessivamente por Rex Maxon (1931), Harold Foster (1931-1937), Burne Hogarth (1937-1945), Reuben Moreira (1945-47), Burne Hogarth (1947-50), Bob Lubbers (1950-54), John Celardo (1954-68), Russ Manning (1968-79), Gil Kane (1979-81), Mike Grell (1981-83) e Gray Morrow (de 1983 até ao presente), além de Joe Kubert, John Buscema e muitos outros.

Tal como fará, a partir de fevereiro de 1937, na ilustração das pranchas da série de quadrinhos Príncipe Valente, também nas pranchas de Tarzan, Harold Foster faz a ilustração acompanhada com textos em rodapé que comentam e dirigem a narrativa, rejeitando os balões como forma de integração dos diálogos. A partir de 27 de setembro de 1931, Foster assume a produção da série nos dois formatos, passando a encarregar-se também da página dominical a cores. A série passa, então, a ter um sentido criativo único, com o predomínio da dimensão pictórica sobre a componente narrativa.

Não obstante a marca de qualidade e de talento deixada, ao longo dos anos, pelos vários artistas que se ocuparam de Tarzan, nomeadamente Harold Foster, deve-se destacar, por ser de inteira justiça, acima de todos, Burne Hogarth, por muitos considerado o mais famoso e o melhor desenhista de Tarzan, tendo, inclusivamente, ficado conhecido, com todo o mérito, por "Miguel Ângelo dos Quadrinhos". Hogarth tornou-se ainda célebre pelas suas numerosas obras sobre a anatomia dinâmica do corpo humano, técnica e arte que ele estudou profundamente e que aplicou também no desenho de Tarzan.

Burne Hogarth sucede precisamente a Harold Foster (que passa a dedicar-se, em exclusivo, a partir de fevereiro de 1937, à sua famosa criação, o herói medieval Príncipe Valente) na ilustração das páginas dominicais de Tarzan. Assim, a partir de 9 de maio de 1937 e durante 13 anos (apenas interrompidos durante um período de pouco mais de 1 ano), Hogarth trabalha de uma forma entusiástica e apaixonada, conferindo a Tarzan um esplendor "barroco" nunca mais atingido depois dele, expondo o herói em poses anatômicas de grande plasticidade e dinamismo.

Russ Manning foi outro importante artista dos quadrinhos que se ocupou da série Tarzan e foi, inclusivamente, de todos os autores, aquele que se manteve mais fiel ao espírito da obra de Edgar Rice Burroughs, tendo começado a desenhar Tarzan a partir do fim da década de 60, quer nas pranchas diárias, quer nas páginas dominicais.

No Brasil, a primeira história de Tarzan apareceu em 1934, no Suplemento Juvenil (edição nº31 de 10/10/1934). O personagem teve revista própria a partir de julho de 1951, publicado pela Ebal, e trazia uma foto de Lex Barker na capa. A revista seria a mais duradoura da história da Ebal, tendo sido editada, de várias formas (em cores, em preto e branco, formatinho, tamanho padrão, mensal, bimestral etc) até 1989. Em 1968, a editora lançou Tarzan-Bi; um ano depois, Tarzan Especial e Almanaque de Tarzan. Em 1971, a origem de Tarzan e suas aventuras são narradas em álbum de figurinhas. O herói das selvas inspirou diversos desenhistas a “criar” (ou melhor, plagiar) personagens como Kionga, Jambo, Tor, Tunga, Akim, Targo, Hur, Tarun e tantos outros.
A EBAL lançou também diversas edições especiais:
  • 1973 - Tarzan, O Filho das Selvas, o livro quadrinizado por Burne Hogarth em 1972
  • 1974 - Coleção Tarzan em dois volumes (A Origem de Tarzan e A Volta de Tarzan), ilustrados por Joe Kubert
  • 1975 - Tarzan, de Harold Foster, a primeira história com o herói
  • 1975 - Coleção Tarzan/Russ Manning, em cinco volumes, com as páginas dominicais de 1968 a 1972
  • 1976 - Edição Gloriosa em dois volumes (O Mundo que o Tempo Esqueceu e O Poço do Tempo), ilustrados por Russ Manning
  • 1978 - O Livro da Selva, adaptação do romance O Tesouro de Tarzan em três volumes, com ilustrações de John Buscema e roteiro de Roy Thomas
  • 1980 - O Massacre dos Inocentes, com ilustrações do artista espanhol Jaime Brocal Remohi
  • 1890 - O Lago da Vida, com ilustrações de José Ortiz

No início da década de 90, a editora norte-americana Malibu lançou uma minissérie com cinco números escrita por Mark Wheately, arte de Neil Volks e Marc Hempel. A série não recontou a lenda clássica de Tarzan, mas retoma a história como se Tarzan vivesse nos dias de hoje, 80 anos após sua criação.
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13 setembro 2012

O rei das selvas completa 100 anos de existência (2)

MITO

Em 1912, com a ficção científica conquistando grande público, Edgar Rice Burroughs (1875-1950) escreve Sob a Lua de Marte, que enviou para a revista All Story, de grande tiragem a época. Para sua surpresa, a história foi publicada e o editor enviou-lhe US$400 e o pedido de outra novela. Escreveu, então, O Proscrito de Tom. Que foi sumariamente rejeitada. Após ler The Darkest África, de Stanley e O Livro de Jângal, de Kipling, Burroughs criou seu personagem que viria a tornar-se um verdadeiro mito: Tarzan. Tratava-se de um mito diferente de tudo o que se editava na época. Era o ideal humano, puro, autêntico, sem covardias, belo e inteligente. Sua publicação teve tamanha repercussão e as cartas recebidas pelo editor e pelo autor foram inúmeras. A maioria pedia a continuação da história. Mas Burroughs não se encontrava interessado em Tarzan, mas no seu herói John Carter de Marte. Somente a pressão do editor e dos leitores é que possibilitou novas publicações. O personagem conquistou definitivamente o público. De sua criação até 1947, nada menos do que 20 volumes foram editados.

Burroughs baseou-se na estória de Rômulo e Remo que, abandonados por sua mãe, foram amamentados por uma loba. Tarzan, deixado na selva africana, fora criado por uma macaca e tornou-se o rei entre os grandes gorilas da selva. Desta forma, não tendo qualquer ligação com a sociedade, estava liberto dos defeitos e limitações da vida social. Burroughs criou todo um cenário grandioso e colorido, misturando sua fantasia ao estilo de Verne e aos fantásticos episódios de um livro de aventuras de caçadores africanos.

A história de Tarzan inicia-se quando, na sequência de um naufrágio, o casal aristocrático inglês, Lord Greystoke, esposa e filho conseguem chegar a uma praia, na costa africana. Os seus pais morrem pouco tempo depois e deixam órfão o pequeno branco indefeso, que é recolhido e protegido por Kala, uma grande fêmea gorila que o livra de uma morte certa. Criado no seio dos símios superiores na mais completa liberdade, o jovem Tarzan vai, progressivamente, adquirindo uma notável robustez e agilidade físicas e aprende, inclusivamente, a linguagem dos animais.

Mais tarde, Tarzan conhece a jovem Jane, que se torna a sua inseparável companheira de muitas aventuras pelos quatro cantos do planeta, penetrando em mundos fantásticos, como, por exemplo, quando descem ao centro da Terra ou visitam civilizações míticas perdidas na alvorada dos tempos. Entretanto, Tarzan adquire um profundo sentido de humanidade e de justiça, pondo-se ao serviço dos indefesos e de causas nobres, combatendo tribos selvagens e homens brancos gananciosos e desonestos. Quando um dia, ele descobre as suas próprias origens, regressa a Inglaterra e a Londres para uma curta estadia, mas rapidamente chega à conclusão de que o mundo dito civilizado e os costumes burgueses não são feitos para ele e decide, assim, regressar definitivamente à selva africana.

EXOTISMO

O sucesso chegou e com o passar do tempo, Burroughs tornava Tarzan mais grandioso e magnífico. Para isso, usava dois ângulos: o exótico dos ambientes e os estranhos personagens lutando contra Tarzan. Dessa maneira, criou vilões que pareciam sair da Odisséia ou de continentes submersos. Nasciam para o dia-a-dia de pacatos cidadãos da era contemporânea as sereias misteriosas de Opar, o mundo submarino, as amazonas guerreiras, os homens alados, rainhas envoltas em pedrarias e ouro, sábios e magos, humanóides com rabo, selvagens adoradores do fogo em templos paleolíticos. Brilhavam, sob nova luz, cidades sepultas no esquecimento, altares de sacrifícios humanos, deuses mitológicos e a maravilhosa Paul-Ul-Don, a terra antidiluviana. Todo um vocabulário requintado, inexistente, foi criado para conduzir Tarzan aos mais estranhos caminhos da imaginação: o búfalo era “gogo”, a tribo “hohotan”, “numa”era o leão, e a ordem para matar, o grito de guerra dos Tarzan do cinema e quadrinhos era “bandolo”. Os livros de Tarzan apareceram no Brasil através da Companhia Editora Nacional e sua Coleção Terramarear em 1935. Sucesso absoluto. Por que tanto sucesso?

Quem responde é o grande especialista em quadrinhos e romance popular, Francis Lacassin: “O fabuloso charme de Tarzan decorre, basicamente, do fato de que ele reinventou as origens e a potência integral do homem-macaco. Num século cada vez mais desoxigenado, urbanizado e submerso ao cimento armado, Tarzan recriou espaços de sonho. Ele encarnou, durante décadas, o fantasma coletivo da vida ao ar livre, sem qualquer constrangimento ou coerção social. A força da selva o fez herói permanente, apesar das novas figuras interplanetárias surgidas no cinema e nas histórias em quadrinhos”.

Quando Edgar Rice Burroughs procurava um local calmo onde pudesse escrever suas novelas, escolheu um longínquo ponto no Vale de São Fernando, nos arrabaldes de Los Angeles. Lá, comprou uma extensa faixa de terreno e construiu sua casa e escritório. E foi lá que ele visualisou muitas das fantásticas aventuras de Tarzan. Anos depois, a localidade progredia e os moradores, em homenagem ao seu vizinho mais famoso, cognominaram a cidade de Tarzana, Califórnia. Edgar Rice Burroughs morreu em março de 1950, com 75 anos. Pouco antes de seu fim, declarou que “nada poderia fazer Tarzan morrer”. O autor de Tarzan morreu sem nunca ter colocado os pés na África.

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12 setembro 2012

O rei das selvas completa 100 anos de existência (1)

Um misto de fantasia e realidade. A história com tanta inspiração e, que dentre os heróis de ficção, nenhum tem obtido, durante sua existência, tanto prestígio. Tarzan, o Rei das Selvas, completa 100 anos de existência em outubro próximo. Divulgado de todas as formas (livros, filmes, peças teatrais, novelas radiofônicas, quadrinhos e seriados de tevê), o “velho” herói continua firme no coração da juventude. Nenhum outro personagem está em cartaz há tanto tempo. Mas nenhum outro, como o Homem-Macaco, possui tanto poder de estimular a fantasia do amor e da força selvagem.

Tarzan é talvez o maior mito do século XX e a mais duradoura referência da moderna cultura popular, surgida do cruzamento do sonho com as técnicas de marketing. É considerado o mais célebre herói de ficção do século passado, ultrapassando em popularidade outros heróis igualmente famosos, tais como Tintin, Astérix, Mickey, Super Homem, Flash Gordon, Mandrake, Fantasma, entre muitos outros.

O herói conseguiu o feito extraordinário de estender o seu domínio a áreas tão diversificadas como a literatura, o cinema, a televisão, a rádio, a banda desenhada, os desenhos animados ou os jogos de vídeo. Ironicamente e de forma paradoxal, constata-se que se, por um lado, é ao cinema que a figura do Rei da Selva deve a sua fama universal e imortalidade, por outro lado, foi essa mesma Sétima Arte que mais distorceu o espírito inicial da criação de Edgar Rice Burroughs.

Há 100 anos nascia Tarzan, criado por Edgar Rice Burroughs num conto, Tarzan of the Apes (Tarzan dos Macacos), publicado na revista All-Story (em outubro de 1912, e virou best seller em 1914, quando foi publicado em livro). Em 1918, Tarzan foi levado ao cinema, com o ator Elmo Lincoln, e em janeiro de 1929 saiu sua primeira história em quadrinhos. Até hoje, Tarzan é um herói e um mito. Na linguagem dos macacos, Tarzan significa pele branca. Das 67 novelas escritas por Burroughs, 27 tinha Tarzan como herói. Traduzido para 31 línguas, registra uma média de 60 milhões de cópias e um número incalculável de leitores. Os quadrinhos, o rádio e a televisão, além do cinema, se encarregaram de perpetuar sua imagem.

Vinte atores viveram Tarzan em quase 50 filmes. É o mito cinematográfico de maior duração. Nenhum outro personagem está em cartaz há tanto tempo. Mas nenhum outro, como o homem-macaco, possui tanto poder de estimular a fantasia do amor e da força selvagem. O herói por excelência, de princípios morais rígidos, defensor da justiça, intrépido e ágil, viveu aventuras que fascinaram gerações e povos. Cerca de 75% das rendas auferidas com seus filmes vinham do estrangeiro. Se o público adorava o Tarzan das telas, Burroughs, ao contrário, se amargurava ante a figura caricata e praticamente analfabeta em que Hollywood transformara o Rei das Selvas.

Para Burroughs, Tarzan era um homem sumamente inteligente, sensível, civilizado na acepção pura do termo, heróico, belo e, acima de tudo, livre, o paradigma do homem inatingível para a época. Nem sempre, todavia, os filmes refletiam o personagem literário. O filme de Tarzan que mais bem reproduz a obra original é Greystoke – a lenda de Tarzan, o rei das selvas, realizado por Hugh Hudson, em 1984, com Christopher Lambert no papel. Mas em termos de imagem cinematográfica, Johnny Weissmuller, que viveu o papel na série da Metro-Goldwin-Mayer, foi o que marcou mais o personagem junto aos fãs.

SENHOR DAS SELVAS NO MUSEU

O grito que imortalizou Tarzan no cinema, misturado com os sons da selva africana, deram as boas-vindas ao visitante na exposição do Musée du Quai Branly, em Paris, dedicada a este herói atípico que cresceu na natureza, rodeado de macacos e afastado da civilização. "Tarzan! ou Rousseau chez les Waziri" (Tarzan! ou Rousseau com os Waziri) explorou em setembro do ano passado "o senhor da selva" através de objetos de coleção de diversos museus franceses, assim como filmes, cartazes, quadros, fotografias e figuras. Organizado pelo antropólogo Roger Boulay, em parceria com o Centre International de la Bande Dessinée et de l'Image, instituição voltada para a preservação da memória da indústria de HQs, a mostra tenta dissecar um mito da cultura de massa.

A exposição mostrou a influência de um dos mitos mais populares do século XX, que saiu dos livros e "criticou de maneira feroz e contínua a sociedade urbana", explicou o organizador da exibição, Roger Boulay. Um herói ecologista, pois divulga o cuidado com a natureza e rejeita constantemente a tecnologia e o progresso, aparece na mostra como representante do debate mundial sobre o meio ambiente, uma preocupação quase inexistente no início do século passado.

Filho de aristocratas ingleses, criado entre macacos, Tarzan nasceu em 1912, da pena do escritor americano Edgar Rice Burroughs, que desenvolveu a personalidade deste herói em 22 livros entre 1914 e 1947, que rendeu a publicação de mais de 15 milhões de exemplares e foram traduzidos em 56 idiomas. Inspirado na tradição de romances como "O livro da selva" (1894) ou "As Minas do Rei Salomão" (1885), Burroughs, que nunca foi à África, se inspirou no mito de Rômulo e Remo e o de Hércules para criar seu personagem, para demonstrar o vínculo do homem com o mundo animal, separados pela civilização. O imediato sucesso de "Tarzan, O Rei dos Macacos" (1912) e do resto das histórias desencadeou a adaptação da história em outros formatos, que tiveram a mesma fama (cerca de 15 mil histórias em quadrinhos e 46 filmes, além de numerosas séries de televisão).

A exposição, que apresentou as diferentes adaptações de desenhistas de quadrinhos como Harold Foster e Burne Hogarth, exibe, além disso, partes dos mais populares filmes do mito, que imortalizou em mais de doze filmes, entre 1932 e 1949, o ator e antigo campeão olímpico de natação Johnny Weissmuller. Bourrough misturou em Tarzan as aventuras, as façanhas e a reflexão sobre a sociedade, a natureza e a evolução, como evidencia seu especial interesse pelo darwinismo - teorias publicadas quando o escritor nasceu - contra o criacionismo vigente durante séculos.

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11 setembro 2012

País do covering

Você sabe o que é covering! É discriminação disfarçada. Uma forma de discriminação sutil pós fase de discriminação direta. Trata-se de uma forma introjetada onde o discriminado deixa de manifestar sinais mais marcantes de sua identidade, como por exemplo, os gays que não podem andar de mãos dadas, ou os negros que não usam seus cabelos crespos naturais.

O Brasil é o país do covering! Segundo o antropólogo da UERJ, Sérgio Carrari, “na medida em que os negros ascendem socialmente e assumem um certo padrão de comportamento, de vestimenta e de linguagem eles passariam por um processo de branqueamento e deixariam de ser tratados como negros”.

Será que em pleno século 21, especialmente nos grandes centros urbanos onde muita gente que se orgulha de ser livre de qualquer discriminação, tem pessoas que ainda não pode assumir sua identidade cultural? Questões sobre direitos civis, sobre preconceito e sobre assimilação ainda não estão resolvidas. Exemplos? Nas entrevistas para empregos, muitos jovens de Salvador afirmam que não poderiam utilizar cabelo rastafari porque não pegava bem já que os clientes do shopping não gostam do visual afro.

Se antes a discriminação era direta, ou seja, contra mulheres, negros, gays, deficientes físicos. No século 20, onde a luta pelos direitos civis tornou isso ilegal, agora, a nova forma de discriminação é sutil. Não contra todos os negros, mas somente contra aqueles que usam cabelo diferente.

O professor de Direito e reitor na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, Kenji Yoashino, criou um novo termo para essa questão: Covering, algo que pode ser traduzido como um acobertamento, um disfarce. “Na minha pesquisa para escrever sobre o covering, ou a discriminação disfarçada, me deparei com um provérbio brasileiro: ´O dinheiro empobrece´. Os negros americanos também conhece isso: usam terno para trabalhar porque dizem que são mais respeitados vestidos dessa maneira. Mas, quando estão com roupas de ginástica, são mal vistos ate pelos vizinhos, porque, aí, são associados a bandidos. Ter o que eu chamo de disfarce faz toda a diferença entre ser um negro bom ou um negro mau”, explica Yoashino.

O que falta no mundo de hoje é respeito. As pessoas têm que entender que existem diferenças e respeitar isso. Alisar o cabelo para tentar se enquadrar no que a sociedade exige para determinados grupos de pessoas não é o correto. Se enquadrar em certos padrões de respeitabilidade seja no modo de se vestir, de ser, de estar para ficar indistinguível é fazer concessão para ser aceito pela sociedade na sua diferença. Um preço nessa aceitação para ser discreto e não trazer sinais muito visíveis dessa diferença. E quem desafia essa situação? As leis garantem igualdade, mas as pessoas não, sempre cobrando dos outros a sua própria imagem.

É preciso ter força para mostrar que todos são iguais nos direitos, e diferentes na maneia de pensar, de ser e de estar e procurar sempre uma forma de resistência, consciente. Um bom exemplo de resistência é o do escritor americano James Baldwin que, em meados do século passado, usou a literatura para se afirmar como negro e homossexual.

Como bem escreveu o escritor brasileiro Luis Capucho (Rato), as pessoas normais vivem mais à superfície, mais à flor da pele do que outras, sempre submersas, meio sem o fôlego necessário à vida social, como os peixes que vivem mais no fundo do mar, portanto mais nas trevas, mais solitários, parados, diferentes, mais no fundo da vida. Os da superfície que dão movimento, são quem decide para que direção vai a vida, porque, com o temperamento expansivo, as atitudes e as palavras são dominantes O assunto é complexo e é preciso um novo olhar para denunciar formas nada sutis de discriminação e preconceito. Pense e reflita sobre essa questão.
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Este artigo foi publicado neste blog em 2007, mas continua atual. E atualidade está no artigo de Aninha Franco para a revista Muito (A Tarde, 09/09/2012, Um país entre quatro paredes) onde no quarto parágrafo ela escreveu: "Membros do Poder Judiciário, que deveriam respeitar a Constituição, ferem seus artigos e recebem dez vezes o salário da presidente, atualmente refém de alianças espúrias e de um Poder Legislativo comandado pelo mais asqueroso representante do Império, José Sarney, há 50 anos extraindo os ossos do Maranhão. Omercado, o quarto poder, não se envolve muito com os sistemas. Preserva o lucro. Elege. Mas não é esperto o suficiente, ainda, para perceber que quanto mais educada uma sociedade, melhor ela consome. E a REpública? Bem, ela resiste pequena, em alguns lugares, tentando ampliar o pequeno círculo de respeito à vida pública brasileira".
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10 setembro 2012

Diversidade em questão

A ideia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. “Vivemos todos sob o mesmo céu, mas nem todos têm o mesmo horizonte”, disse Konrad Adenauer. O brasileiro tem muita dificuldade em aceitar a diversidade. Não tem consciência de que nosso país é um viveiro de diferenças, desde as espécies da fauna e da flora e diversificadas regiões geográficas até nossa enorme variedade humana, cultural, religiosa e linguística. E por que isso? Para muitos, essa nossa mistura evoca a ideia de inferioridade. Esse pensamento retrógrado veio de cinco séculos passados, de uma ideologia eurocêntrica que dizia que o elemento branco conquistador é superior. Essa ideia está na base da nossa formação desde o século 16.



Os primeiros jesuítas que vieram ao Brasil escreveram cartas informando que a miscigenação entre brancos, índios e negros acarretaria um gradual branqueamento, correspondente a uma evolução para esses contingentes humanos tidos como inferiores, menos inteligentes. Esses pensamentos atravessaram séculos e geraram preconceito, exclusão, vergonha e estão presente no imaginário coletivo.

No século 16 o povo ibérico queria expandir seus territórios e sua visão de mundo se baseava na racionalidade e no dogma cristão. Os povos milenares que ocupavam as Américas se relacionavam com o meio ambiente e tinha uma maneira totalmente distinta dos europeus. O encontro entre esses dois grupos humanos (ibéricos e americanos) gerou povos híbridos a partir da subordinação violenta do ameríndio ao europeu. Os valores e interesses da civilização branca foram impostos às custas de negação de valores humanos dos povos indígenas.

O antropólogo Darcy Ribeiro disse que o pai do povo brasileiro é branco, mas a mãe que o gerou é índia. O filho desse casal fundador é um mestiço bastardo e desorientado. Os colonizadores faziam questão de rebaixar a figura materna, gerando o sentimento de que nossa gente tem uma origem desprovida de valor. Esse foi todo o problema histórico que gerou o sentimento incômodo com a diferença.

E como disse o analista Roberto Gambini, “o amor se nutre da diversidade do outro em relação a mim. Amor não é fusão, é aceitação daquilo que não sou eu. Se todos fossem iguais, não seria necessária grandeza alguma, apenas uma boa acomodação. O Brasil é um país que clama por um amor generoso pelo diferente e por uma compreensão da riqueza que nasce da alquimia das diferenças. Mas nada disso está muito claro em nossa mentalidade coletiva. Falta foco, faltam linhas que aprofundem e direcionem essa reflexão. Ainda não descobrimos que aprender a respeitar e conviver com diferentes maneiras de ser nos faz crescer como seres humanos”.

Educação é a única coisa que pode promover a ascensão social da próxima geração das camadas menos favorecidas e gerar mudança social. É preciso tolerância, respeito e compreensão do valor da diversidade, aliados a um gradativo nivelamento das diferenças sociais.

Uma pesquisa desvendou a complexidade do perfil do povo brasileiro. Preconceituoso, conservador ou mesmo um pouco acomodado, o Brasil é um país que, em muitos aspectos, é completamente diferente do que se imagina. Foi a essas e a outras conclusões que chegou o sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Alberto Almeida, quando concluiu o livro “A Cabeça do Brasileiro” (Editora Record). Algumas conclusões chegam a ser óbvias, como o fato de que grupos sociais com menos escolaridade apresentam mais resistência ao pluralismo de idéias. Outras chegam a ser preocupantes, como a pouca mobilização dos brasileiros para lutar por causas coletivas, como melhores ambientes de trabalho e salários mais justos. Apesar disso, o autor explica que a tendência mundial é a do individualismo. Além disso, o preconceito ainda está muito presente no dia-a-dia da população, afetando diretamente os processos de recrutamento e seleção e dificultando o aproveitamento do famoso conceito de ‘diversidade’ organizacional. Assim, mulheres e negros continuam a receber salários menores, enquanto homossexuais são alvo de piadas dos colegas de trabalho. Segundo o professor, “as pessoas de escolaridade baixa são mais tradicionalistas, enquanto aquelas de escolaridade mais elevada aceitam mais o pluralismo, as diferenças, o novo. O brasileiro ainda reivindica pouco, reclama pouco. É um povo que evita o conflito. Ao reivindicar por melhores salários ou promoções, melhores condições de trabalho, a busca costuma ser mais individual do que coletiva, mas isso não é algo exclusivo do Brasil. É um fenômeno mundial”.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

06 setembro 2012

Politicamente segregados

O leitor está cada vez mais buscando notícias em suas incursões online. O resultado disso é que o público seleciona o tipo de notícias e opiniões de que mais gosta. Não deseja informações confiáveis, e sim as que confirmem as ideias preconcebidas. Um bom exemplo disso é que os norte americanos vêm se segregando em comunidades, clubes e igrejas onde são cercados por pessoas que pensam como eles. Em seu livro editado em 2008, “A grande classificação: porque a divisão da América em agrupamentos de ideias iguais nos está dividindo”, de Bill Bishop, ele diz que quase metade dos americanos vive em condados que votam por maioria avassaladora em candidatos democratas ou republicanos. Nos anos 60 e 70, em eleições nacionais igualmente disputadas, só cerca de um terço dos eleitores vivia em condados que apresentavam maiorias avassaladoras nas eleições.

“O país está ficando mais politicamente segregado – e o benefício que deveria advir da presença de uma diversidade de opiniões se perde para o sentimento de estar com a razão que é próprio dos grupos homogêneos”, escreve Bishop. Além de mostrar que os americanos demonstram menos tendência a discutir política com pessoas de visões diferentes, o declínio da mídia noticiosa tradicional acelera a ascensão de ideias preconcebidas. O perigo disso tudo é que esse noticiário autosselecionado aja como entorpecente como aconteceu nos anos 50 quando um obscuro psiquiatra do sistema judiciário de Nova York, Frederick Werthmam escreveu um livro, A Sedução dos Inocentes, alertando aos pais que as história em quadrinhos são veículos que aumentam a violência juvenil e não traz benefício aos leitores. Todos seguiram a cartilha de Wertham e o resultado agora prova o contrário.

No Brasil a imprensa está se transformando numa instância de uma sociedade abandonada e agredida por muitas de suas autoridades. O Ministério Público, no cumprimento de seus deveres constitucionais, se sente respaldado pela sociedade. E o Judiciário deveria seguir essa linha contra a a corrupção e à altura da indignação nacional. O jornalista deve investigar, obter provas concretas do que vai ser publicado. A informação é a base da sociedade democrática. É preciso melhorar os controles éticos da notícia, combater as injustas manifestações de prejulgamento. Jornalismo não existe onde não há liberdade. No jornalismo diário, numa crise política como a atual, não se pode ter a dimensão do todo antes que o todo exista. Por isso os jornais não podem contar uma história arrumada, é no processo diário que a coerência se constrói, que o sentido se forma.

O jornalista é o profissional que estabelece vínculos entre os fatos corrente e passados, provocação estimula o raciocínio do leitor/ouvinte/telespectador, e procura ainda extrair disso tudo alguma perspectiva que sinalize o futuro. Tudo isso com princípios éticos, sem se deixar contaminar por influências políticas ou interesses pessoais. O desafio hoje é permitir que o leitor entenda os fatos, pois existe uma avalanche de informações. A função do jornalista é buscar a verdade camuflada através da verdade aparente. Ser jornalista hoje é ter perseverança, vontade e amor pela profissão, já que os jornalistas ganham mal e não há incentivos para a realização do trabalho. É tentar ser uma testemunha do seu tempo.

Aprendemos eticamente nos bancos das faculdades que a preservação da verdade (ainda que subjetiva) e a apuração de fatos através de fontes idôneas (se possível na investigação junto a especialistas), é fator primário a ser observado na apuração de qualidade. Somos seres carentes de informação, fontes, verdades e de espaço para veiculação de nosso material.

Por que as pessoas não prestam atenção na política?. São poucas as que se interessam pelo assunto. O desinteresse pela política e a capacidade do cidadão comum estabelecer uma ponte entre o que ocorre no poder e seus interesses é muito grande. Sabemos que o Brasil recuperou há muito tempo todos os seus direitos políticos, as eleições livres são rotineiras, mas a distribuição de renda ainda é uma vergonha. A escolaridade do brasileiro vem crescendo, a taxa de mortalidade infantil decrescendo. Afinal o que está acontecendo?. A política é fundamental no cotidiano dos indivíduos. Ela influencia na geração de emprego, no valor dos salários, na qualidade da educação, nos transportes públicos e programas assistenciais. Enfim, no dia adiado cidadão, e porque essa falta de interesse?.

Uma pesquisa divulgada pelo IBGE informou que 53,3% de jovens entre 18 e 24 anos (73% no Nordeste) estão matriculados no ensino fundamental (eles deveriam estar cursando faculdade pela faixa etária). Se for fazer um teste com esses jovens, muitos deles não entendem o que leem. E se não entendem não sabem o que acontecem ao seu redor. Fecha o ciclo. Este é o Brasil...
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05 setembro 2012

O poder dos cinco sentidos (3)

O tato é o nosso sentido mais essencial. É o sentido que apresenta funções e qualidades únicas, mas que, frequentemente se combina com os outros. Afeta todo o organismo, assim como sua cultura e os indivíduos com quem entre em contato. O órgão é a pele que se estende por todo o corpo. Se o tato não fosse uma sensação gostosa, não existiria as espécies, as famílias ou a sobrevivência. Se não gostássemos da sensação de tocar e acariciar as outras pessoas, o sexo não existiria. O tato é a chave da sobrevivência. É o primeiro sentido que se desenvolve no feto e, em uma criança recém-nascida, é automático, sugerindo até mesmo antes que os olhos se abram ou que o bebê comece a ter consciência do mundo que o cerca. Logo depois do nascimento, apesar de não enxergar ou falar, começamos instintivamente a tocar.
 
O tato ensina-nos que a vida tem profundidade e contornos; faz com que sintam os o mundo e nós mesmos tridimensionalmente. Sem esse intricado conhecimento do mundo, não existiram os artistas, cuja habilidade é fazer mapas sensoriais e emocionais. O sexo é a intimidade em seu grau mais elevado, é o tato em seu mais alto nível. No beijo penetramos a pele um do outro e a mente e o corpo se ativam com deliciosas sensações. Mas o primeiro toque que os namorados trocam, geralmente, é nas mãos. Ou o aperto de mão que continua sendo um a espécie de contrato ou cumprimento comum. O tato é tão importante em situações emocionais que somos levados a tocarmos da maneira que gostaríamos que os outros nos consolassem. As mãos são as mensagens da emoção. O tato é veículo de cura tão poderoso que muitas vezes usamos os profissionais do toque (médicos, cabeleireiros, massagistas, etc). Quando não existe o toque, surge nosso verdadeiro isolamento. O contato aquece nossas vidas.

Na hierarquia dos sentidos, o gosto ocupa o primeiro posto na fase inicial de cada biografia. A primeira interpretação humana é que a criança estabelece ao chupar as coisas. O sábio (palavra de maior prestígio intelectual e humano até há poucos séculos) é o homem que entende de sabores, que sabe a quem sabe as coisas e o que significa isso.

O paladar é sentido íntimo. Não podemos sentir gosto a distância. E o gosto que sentimos das coisas, assim como a composição exata de nossa saliva, pode ser tão individual quanto nossas impressões digitais. Ao longo da história e em muitas culturas, o paladar, ou gosto, sempre teve duplo sentido. Paladar é sempre julgamento ou teste. As pessoas que têm bom gosto são aquelas que apreciam a vida de maneira intensamente pessoal, descobrindo sua parte sublime; o resto não tem gosto. Uma coisa de mau gosto é tida como obscena ou vulgar.

Todas as culturas usam o alimento com o sinal de aprovação ou comem oração. Precisamos comer para viver, da mesma maneira que precisamos respirar. Mas o ato da respiração é involuntário, e a busca da comida não, exige energia e planejamento, para nos obrigar a abandonar nosso torpor natural. Sair de casa pela manhã, ir para o trabalho são para “ganhar o pão de cada dia”, ou, se preferirmos, “merecermos nosso sal”, de onde vem a palavra salário.

A fome sexual e a física sempre estiveram interligadas. Qualquer alimento pode ser julgado afrodisíaco. Aqueles com formas fálicas, como cenouras, pepinos, picles, bananas e aspargos, sempre foram julgados afrodisíacos durante algum período, assim como as ostras e os figos, que lembram os órgãos genitais femininos.

A audição é o quinto sentido. O som engrossa o caldo sensorial de nossas vidas e dependemos dele como auxílio para interpretar, comunicar e expressar o mundo em torno de nós. O espaço sideral é silencioso, mas na Terra, quase tudo produz algum ruído. Os sons cativam tanto a gente que gostamos de ouvir palavras rimadas. A música, o perfume da audição, surgiu provavelmente como um ato religioso, com a finalidade de despertar grupos de pessoas. A música pode agitar ou acalmar, transportando nossas emoções. Escutamos com nossos corpos. É difícil ficarmos parados quando ouvimos música. A música produz estados emocionais específicos compartilhados por todas as pessoas e, como resultado, permite que comuniquem as nossas emoções mais íntimas sem que tenhamos que mencioná-las ou defini-las por meio de uma rede de palavras.

Para Beethoven, a surdez não foi entrave na composição de obras-primas. “Vendo Vozes” de Oliver Sacks (Cia das Letras), o autor conta a história dos surdos e questiona qual a melhor maneira de serem integrados à sociedade. Ariovaldo Franco descreve em sua obra “De Caçador à Gourmet” (Senac) os rituais e costumes que se formaram em torno da alimentação em diferentes civilizações. Já Jean Anthelme Brillat-Savarin aborda em “A Filosofia do Gosto” (Cia das Letras) as origens da gastronomia e do funcionamento do gosto. Para conhecer mais a fundo cada sentido uma obra primordial é “Uma História Natural dos Sentidos”, de Diane Ackerman (Betrand Brasil).

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04 setembro 2012

O poder dos cinco sentidos (2)

As maneiras que usamos para deliciar nossos sentidos variam de cultura para cultura. Nossos sentidos transpõem o tempo. Eles nos ligam intimamente ao passado com mais intensidade do que nossas ideias. Vivemos atados por nossos sentidos. Ao mesmo tempo em que nos fazem crescer, eles nos limitam e cerceiam. Temos a necessidade de criar obras de arte para aprimorar nossos sentidos e aumentar as sensações do mundo que nos cerca, para que nós possamos deliciar mais com os espetáculos da vida. Vamos comentar neste segundo artigo de dois importantes sentidos para nossas vidas: a visão e o olfato. O primeiro torna-se mais densamente mais rico quando o percebemos com os olhos, e o poder do olfato sempre foi assunto de povos de todas as culturas.

Vamos começar pelos olhos. Os olhos continuam sendo os grandes monopolizadores de nossos sentidos. Cerca de 70% dos receptores dos sentidos do corpo humano estão localizados nos olhos, e é principalmente por meio da visão do mundo que o podemos julgar e entender. Nossa linguagem está baseada nas imagens. Sem a luz e sem a água a vida existiria? A luz afeta nossos estados de espírito, acelera os hormônios, detona nosso ritmo. Durante as estações em que prevalece a escuridão nas latitudes do norte, aumentam os índices de suicídios, a insanidade surge em vários lares e o alcoolismo torna-se uma constante. Uma característica de nossa espécie é a habilidade de adaptarmo-nos ao ambiente e também de mudá-lo para servir-nos melhor. Quando queremos iluminar o mundo em torno de nós, construímos lâmpadas. Nossas pupilas aumentam naturalmente quando estamos entusiasmados ou excitados.

Há muitas maneiras de ver. O esforço para enxergar projeta uma visão diferente de tudo e de todos. Às vezes as sombras desenham imagens que distorcem a verdade das coisas e das pessoas. E também a visão direta da claridade, sem acostumar os olhos, cegava. Para enxergar bem, é preciso olhar profundamente e isso faz descobrir novas formas e significados e até mesmo outras visões. Os olhos que tudo veem, não vêm a si mesmos, têm que se adaptar ao desejo de quem olha.

Já os odores detonam suavemente nossas memórias. Basta percebemos um aroma, e as lembranças explodem todas imediatamente. O olfato é o sentido mudo, o que não tem palavras. Vemos somente quando existe luz suficiente, degustamos o paladar quando colocamos coisas na boca, sentimos apenas quando tocamos alguém ou alguma coisa, ouvimos somente quando os sons são audíveis. Mas cheiramos o tempo inteiro, sempre que respiramos. Se cobrirmos os olhos, deixaremos de ver, se taparmos as orelhas, deixaremos de ouvir, mas se bloquearmos o nariz para não sentir mais cheiros, morremos. “Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas”, escreveu Patrick Suskind no romance O Perfume.

O olfato está intimamente ligado às emoções, à memória, além de influenciar seu bem-estar, sua imaginação e personalidade. O olfato tem ligação com nosso subconsciente. Os nervos olfativos se ligam com a gente do cérebro que regula a atividade sensório-motora, o sistema límbico. Esta região cerebral é responsável pelos impulsos primitivos de sexo, fome e sede e afeta diretamente o comportamento emocional.

Os cheiros compõem um alfabeto e linguagem particular que têm o poder de provocar reações específicas no corpo e na psique. Assim atingem os mais profundos cantinhos da alma, muitas vezes desconhecidos. Muitos artistas procuram sensações olfativas para estimular a criatividade. Segundo Jean Jacques Rousseau o sentido do olfato é a própria imaginação. O aroma de um pedaço de bolo e uma xícara de chá inspiraram Marcel Proust a descrever, em uma das maiores obras primas da literatura, a recordação infantil de comer bolinhos chamados “madeleines”. O olfato é um sentido muitas vezes menosprezado pela cultura excessivamente visual da atualidade. Os cheiros envolvem-nos, giram ao nosso redor, entram em nossos corpos, emanam de nós. Vivemos em constante banho de odores. O olfato é o mais direto de nossos sentidos. Cada um de nós possui suas próprias memórias aromáticas. O olfato foi o primeiro de nossos sentidos a se desenvolver. Pensamos porque cheiramos.

A cegueira não é empecilho para que o herói do gibi como Demolidor faça justiça. Quem é deveras cego? Pergunta José Saramago (Cia das Letras) no “Ensaio sobre a Cegueira”. Já João Vicente Ganzarolli de Oliveira (Revan) explicita como o belo é concebido pelo cego em “Do Essencial Invisível”. Em “O Perfume, História de um Assassino” (Record), Patrick Suskind busca a fórmula de um perfume ideal, num mundo descrito por odores, enquanto que o poeta Chales Baudelaire em vários poemas do “Flores do Mal”, traz a sinestesia, trabalha muito com o olfato. Isso sem falar na obra maior de Marcel Proust, “Em Buscas do Tempo Perdido”, no qual o odor de uma madeleine no chá traz à tona recordações de infância, inspirou pesquisadores ingleses a investigar a relação olfato-memória, que foi batizada de “proustian phenomena”. O terceiro e último desses artigos sobre sentidos vamos conhecer o tato, o paladar e a audição.

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03 setembro 2012

O poder dos cinco sentidos (1)

Ciclo é uma palavra de apenas cinco letras mas muitos significados. No dia a dia vivemos muitos ciclos. A semana, o ano, os meses de gestação, tudo em ciclo. A inspiração e a expiração completa um ciclo que nos mantêm vivos. Em todas as áreas do conhecimento há significados próprios para o ciclo. Os ciclos indicam o fim de uma fase, quando uma termina a outra já começou. Não é o fim de tudo, é o recomeço perene. A idéia do círculo, quer dizer ciclo, simboliza a perfeição exatamente por não ter nem começo e nem fim. A grandeza e importância dos ciclos medem-se pela intensidade dos sentimentos. É esta intensidade que marca o valor das experiências e que nos modifica permanecendo como progresso conseguido.

Na sabedoria chinesa, todo ano a primavera se repete como um a das estações, mas as flores são sempre novas, outras. Se alguém vive bem a experiência de um ciclo, torna-se apto a viver ainda melhor o próximo porque aproveitou e aprendeu com o que viveu na fase anterior. Viver inconseqüente equivale a não ter vivido, não acumulou vivência. A consciência leva a compreensão. Afinal, estar vivo é estar consciente. Se o ciclo não trouxer uma consciência do que fazer de nada nos valerá para o próximo.

As transformações conseguidas num ciclo de experiências vão reorganizar as energias para o próximo ciclo de vida. Assim, a espiral da vida é um momento circular que vamos ascendendo, crescendo na compreensão da vida pelas experiências vividas. O sol, a lua, os elementos da natureza, as estações do ano, o dia e a noite, as horas, todos os seres, tudo está relacionado, nada é separado. E o universo é regido por dois princípios, duas energias opostas e complementares a que chamam de Yin e Yang. Yin é tudo que se concentre, que está no interior, que converge para o centro, que resfria e pacifica.
Yang é tudo o que se expande, se movimenta, aparece e dinamiza. Yin é a energia materializada e Yang é a energia fluída. Yin é a terra, Yang o céu. Yin o escuro, noite, frio, interior. Yang é céu, dia, calor, exterior. Yin é água, Yang fogo. Yin o universo, a lua e a noite. Yang é o verão, sol e o sal. Yin é o conservador, Yang o inovador. Yin é a mulher, Yang o homem, Yin é a intuição e Yang racionalidade. Para cada qualidade Yin, você encontrará uma oposta e complementar Yang. Tanto Yin quanto Yang são necessários.

Para os chineses, entre a água (Yin) e o fogo (Yang) existe a madeira, a terra e o metal. Assim Yin e Yang que são dois se tornam cinco. Na natureza cinco elementos (madeira, fogo, terra, metal e água), relacionados a cinco direções (leste, norte, centro, oeste e sul), relacionados a cinco estações do ano: primavera, verão, canícula (os últimos 18 dias de cada estação), outono e inverno. Cada estação apresenta um dos cinco fatores climáticos: vento, calor, umidade, secura e frio. E na natureza prevalecem cinco cores: verde, vermelho, amarelo, branco e preto. Também são cinco as fases da vida: nascimento, desenvolvimento e crescimento, vida adulta, velhice e morte.

São cinco os órgãos internos do ser humano (fígado, coração, baço, pulmão e rim), cinco as vísceras complementares (vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso e bexiga), cinco os órgãos dos sentidos (olhos, língua, boca, nariz e ouvidos), cinco os tipos de tecidos (tendões, vasos, músculos, pele e ossos), cinco os sabores (ácido, amargo, doce, picante e salgado) e cinco as emoções relativas ao desequilíbrio de cada órgãos (raiva, euforia, preocupação, tristeza e medo).

O homem, “por meio dos sentidos, suspeita o mundo” (como diz o poeta Bartolomeu Campos de Queirós, Os cinco sentidos), simboliza, se expressa, diz para si mesmo e para o outro. Nossos sentidos não apenas percebem e enviam sinais nervosos para o cérebro, mas dão significados ao que nos cerca, criam, transformam, estabelecem relações, revelam, mostram e se comunicam. Com os olhos, olhamos a vida, imaginamos, acordamos sentimentos, criamos imagens. O olfato e o sabor despertam a memória, fazem o pensamento ir longe entre cheiros e sabores da história individual e coletiva. Com os ouvidos escutamos os sons e os silêncios dos nossos interlocutores e do mundo, nos encantamos e inventamos novos ritmos e melodias.

A pele envolvendo o corpo inteiro, estremece, se arrepia, toca e é tocada, dança, chora, ri, registra e se deixa registrar. Assim, “por meio dos sentidos suspeitamos o mundo”, o recriamos e o damos à compreensão do outro. Todos os sentidos participam de cada linguagem, inclusive o sexto sentido, o que nos faz suspeitar, pois, como revela o filósofo e crítico da modernidade Walter Benjamin, a clarividência, o extra-sensorial estão presentes na linguagem.

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