28 julho 2021

Manuel Querino: 170 anos de nascimento

 

Escritor, jornalista, historiador e artista plástico. O primeiro historiador da arte baiana. Manuel Raimundo Querino nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação em 28 de julho de 1851. Quando ele tinha quatro anos de idade seus pais faleceram, vitimas de uma epidemia de cólera. Amigos de seus pais o trouxeram para Salvador. Mais tarde o Juizado de Órfãos nomeou como seu tutor o bacharel Manuel Correia Garcia. De tenra idade então, pode o professor Garcia ensinar o pequeno órfão, que veio a ser um dos homens de reputação firmada na Bahia, como artista, professor, folclorista, e rebuscador incansável do passado de nossa terra. Homem de cor, impôs-se pela seriedade com que desempenhou cargos públicos, difundiu cultura através do ensino e do que escreveu, deixando apreciável bagagem literária.

 

Aos 17 anos foi para Pernambuco, seguindo para o Piauí, onde foi recrutado para o serviço militar e daí para a Guerra do Paraguai como Voluntário da Pátria. Serviu à pátria, incorporando-se a um contingente que daqui partiu para o campo de batalhas travadas no Paraguai. Chegando ao Rio de Janeiro e reconhecidas as suas habilitações, ficou empregado na escrita do quartel do batalhão a que fora mandado engajar. Em 1870 foi promovido a cabo de esquadra e, meses depois, teve baixa do serviço militar. Tinha tão pouca idade e era tão franzino que não permaneceu lá, por magnanimidade de Dom Pedro II.


 

De volta à Bahia, em 1871, começou a exercer de novo a profissão de pintor e decorador, iniciando os estudos de francês e português no Colégio 25 de Março. Fora um dos fundadores do Liceu de Artes e Ofícios. Instalada a Escola de Belas Artes, inscreveu-se no curso de desenhista com o professor Miguel Cañyzares, recebendo o diploma em 1882. Nesse mesmo ano foi nomeado membro do juri da exposição da mesma escola. Em seguida, matriculou-se no curso de arquiteto. Estudou arquitetura, aritmética, álgebra, geometria, desenho industrial e geometria descritiva. Frequentou aulas de anatomia, estética, história das artes e pintura a óleo. Foi premiado com a menção honrosa e duas medalhas de prata pela Escola de Belas Artes. No Liceu de Artes e Ofício recebeu medalhas de bronze, prata e ouro. Em 1885, a diretoria do Liceu de Artes e Ofícios distingue-o com a nomeação de lente de desenho geométrico e depois concedeu-lhe o diploma de sócio benemérito em reconhecimento pelos serviços prestados à instituição. Lecionou desenho industrial no Liceu, Colégio dos Órfãos de São Joaquim, pintou Pano de Boca para teatros, trabalhou auxiliando o professor Manuel Lopes Rodrigues, na Igreja de Nossa Senhora da Graça. Realizou pinturas no Hospital da Santa Casa de Misericórdia.

 

Quando o movimento abolicionista se espalhou por todo o país, Manuel Querino declarou-se francamente partidário da libertação imediata e incondicional. Integrou o Partido Liberal na Bahia. Foi um dos integrantes da Sociedade Libertadora Baiana. Com o advento do novo regime político, fundou a Liga Operária Baiana e os jornais A Província e O Trabalho. Em ambos defendeu os direitos da classe operária. A Província circulou de 1887 a 1888, quando estava no auge a campanha abolicionista. Desenvolveu, então, o máximo de seus esforços em favor dos escravos, ao lado do Dr. Frederico Marinho de Araújo, Eduardo Carigé, entre outros. Querino foi líder operário em defesa dos artifices frente aos empreiteiros. Isso lhe valeu a nomeação de membro do Conselho Municipal, em 1891. Além de jornalista e dono de dois jornais, ele foi vereador e estudioso da cultura afro-brasileira.  

 


Sócio-fundador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia começou a se interessar pelo estudo das nossas antiguidades históricas e da tradição popular, inserindo, na revista do Instituto, valiosos trabalhos de pesquisa histórica e folclórica. Em maio de 1928 um retrato seu foi colocado no Instituto Geográfico. Ele publicou livros sobre a religião afro-brasileira e outros temas ligados a presença do negro no Brasil. Foi um dos primeiros historiadores a publicar um trabalho importante até hoje utilizado por pesquisadores e estudiosos das artes do Brasil. Entre suas obras constam: Costumes Africanos no Brasil (1938), A Bahia de Out’rora - fonte indispensável para os estudiosos dos nossos costumes e de episódios históricos correlatos (1916), Republicando Desenho Linear das Classes Elementares (1903), Elementos de Desenho Geométrico, Artistas Baianos (1904), As Artes na Bahia (1909), Bailes Pastoris (1914), Arte Culinária na Bahia (obra póstuma), entre outros. O que mais concorreu para perpetuar seu nome, sem dúvida, foi a contribuição que nos legou como pesquisador do nosso passado.

 

Entre seus ensaios publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico, destacam-se Os Artistas Baianos (1906), Contribuição para a História das Artes na Bahia (1908), Teatros da Bahia (1909), Contribuição para a História das Artes na Bahia - Os Quadros da Catedral (1911), Episódio da Independência (1913), A Litografia e a Gravura (1914), Primórdios da Independência (1916), Candomblé do Caboclo (1919), O Dois de Julho e a sua comemoração na Bahia (1923), entre outros. Ele exerceu cargos públicos, na diretoria de obras públicas, e, depois na Secretaria da Agricultura.  Depois de uma existência de trabalhos importantes, aposentou-se, em 1916, no cargo de terceiro oficial da Secretaria da Agricultura.

 


Manuel Querino é um exemplo de superação e persistência, que veio da orfandade e venceu por seu talento e esforço. Um negro que não se abateu diante da vicissitude da vida e do preconceito. Ele faleceu no dia 14 de fevereiro de 1923. A cidade do Salvador o homenageou colocando o seu nome em rua do bairro de Pitangueiras. Foi um dos maiores estudiosos dos assuntos africanos entre nós. Pesquisou a raça negra no Brasil e na Bahia, estudando-a nos seus variados aspectos e esmiuçando e ressaltando a sua valiosa contribuição no processo de desenvolvimento cultural da nossa civilização. Sua pequena bibliografia é indispensável quando se trata da contribuição do negro à civilização brasileira. (Texto do meu livro Gente da Bahia 2, Editora P&A, 1998).

 

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