No dia 07 de junho de 1989 a cantora e
compositora Nara Leão (1942 – 1989) morreu por conta de um tumor no cérebro.
Ela deixou um legado que extrapolou o cenário musical na época em que viveu. Ninguém
Pode com Nara Leão (editora Planeta), livro de Tom Cardoso reconstrói a vida da artista que
participou ativamente dos mais importantes movimentos musicais surgidos a
partir da década de 1960 e foi a primeira estrela da MPB a falar abertamente
contra a ditadura militar. Nara Leão certamente foi uma das artistas mais
importantes e influentes da cultura brasileira, não só pela sua obra, mas pelo
que representou para a mulher e a sociedade como um todo.
Na biografia o escritor apresenta
passagens da infância de Nara, marcadas pela angústia e reclusão, detalhes da
inimizade com Elis Regina, dos famosos encontros no apartamento da Av.
Atlântica, onde a bossa nova ganhou corpo, cara e nome, do relacionamento com
Ronaldo Bôscoli, da amizade com figuras como Vinicius de Moraes, Roberto
Menescal e Ferreira Gullar, por quem nutria admiração mutua e teve um affair.
Glauber Rocha amava as diferentes facetas de Nara. Assim como Ruy Guerra, não
se deixava levar pela aparente fragilidade física e o temperamento dócil e
delicado da cantora – sabia com quem estava lidando. Em cartas do exílio na
Europa enviadas a Cacá Diegues, Glauber enaltecia as qualidades da companheira
do amigo, referindo-se a ela como se fossem duas em uma só: “Amo Nara Leão.
Nara e Narinha. Essa mulher sabe tudo do Brasil 1964. Essa mulher é a primeira
mulher brasileira. Essa mulher não tem tempo a perder. Atenção: ninguém pode
com Nara Leão”.
O jornalista apresenta no livro sobre as
importantes parcerias musicais que Nara teve ao longo de sua carreira e como
ela tinha uma aptidão para reconhecer grandes talentos. Chico Buarque foi um
deles. Ela foi uma das grandes artistas da música brasileira, que deixou uma
discografia rica (28 álbuns). O biógrafo conta que o critério que Nara Leão
sempre seguiu para escolher o que iria gravar foi o da qualidade. "Podia
ser um músico de choro, um cantor brega (entre aspas), um sambista,
bossa-novista...Se ela gostasse da letra, da canção, da música, e se se
identificasse, gravava. Por isso transitou da Bossa Nova à Tropicália. Gravou
um disco em homenagem a Roberto e Erasmo Carlos quando nenhum artista da MPB
faria isso, e com músicos do (universo do) choro. Imagina ela cantando
'Cavalgada' com Raphael Rabello (1962-1995) tocando violão em ritmo de choro,
era muito louco. Ela gostava dessas experimentações, que se davam por ela se
posicionar sempre de forma aberta, sem preconceitos, sem amarras diante da
música".
Sua trajetória profissional foi iniciada
em 1964 e encerrada em 1989 com a precoce saída de cena da intérprete por conta
de tumor no cérebro. Atuou como intérprete de diferentes repertórios de canção
popular – da bossa nova à tropicália – e em espetáculos cênico-musicais. Atuou
em diferentes repertórios e estilos musicais na década de 1960, sempre com um
viés político evidente, se contrapondo ao momento protagonizado pela ditadura
militar. A cantora, “formada” musicalmente na bossa nova, trazia uma herança
moderna, uma aura de sofisticação, própria do estilo musical da zona sul do Rio
de Janeiro. Ao mesmo tempo, protagonizou um retorno ao samba de morro. Ela
sentia e expressava essa ambiguidade, tanto que se afastou da canção de
protesto por achar que aquilo estava virando puro consumo. Porém, prosseguiu
com uma atuação política. Ao se desvincular da bossa nova, Nara deu outro
sentido à sua trajetória e se tornou uma das principais lideranças do
engajamento musical, canção de protesto, de 1964 a 1966. Em 1966, no Festival
de MPB da Record, ela interpretou A banda, de Chico Buarque. Era o seu auge
como cantora, em termos de êxito junto ao público. Para ela, foi um sofrimento,
por não tolerar o sucesso e nem as turnês. Quase largou tudo. Contudo, sempre
acabava retornando, por questões financeiras [era muito bem paga] ou pela
possibilidade de participar dos debates do período.
Foi assim com a bossa nova, samba do moro,
Opinião, tropicalismo. Fez apenas o que quis, cantou o que achava que deveria
cantar. Nunca fez uma só concessão. Ela participou do primeiro disco de Fagner
e, praticamente, lançou Chico Buarque. Lançou Bethânia no o show Opinião.
Conseguiu conquistar o público com o jeito intimista e com seu repertório. Vale
conferir a obra!
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