Hoje, dia 26 de junho o cantor e
compositor Gilberto Passos Gil Moreira comemora 79 anos de vida. Sua arte
meditativa e esfuziante, brasileira e internacional, negra e multirracional,
pura e comprometida, é hoje, sem intenções, sem cálculo, tão política quanto
metafísica, e, portanto, arte no mais alto sentido. “Gil é o receptivo. Luz
onde as sombras se assentam, e que lhes dá contorno. Clareza que abraça o
mistério sem temor. O maleável. `Transcorrendo, transformando, tempo e espaço
navegando todos os sentidos´. A natureza, o princípio feminino (´a porção
melhor que trago em mim agora´), o que recebe. É assim que as palavras se
articulam nos encadeamentos rítmicos, melódicos, semânticos de suas canções”,
disse o cantor e compositor Arnaldo Antunes.
Gilberto Gil é uma das singulares estrelas
da música popular brasileira que transcende a rótulos. Compositor, cantor,
músico, intelectual, polêmico, político, místico, enfim, uma figura complexa e,
por vezes, paradoxal. Esse nordestino negro, nascido na Bahia, teve papel
fundamental em um dos movimentos mais marcantes da música brasileira, a
Tropicália.
Gilberto Gil tem um papel fundamental no
processo constante de modernização da Musica Popular Brasileira. Na cena há 50
anos, ele tem desenvolvido uma das mais relevantes e reconhecidas carreiras
como cantor, compositor e guitarrista. Seus álbuns lançados mundo a fora, desde
1978, o ano do sucesso de sua performance no “Montreux Jazz Festival”, na Suíça
, gravado ao vivo, até o mais recente servem de guia para muitos artistas.
Ritmos do nordeste do Brasil como o baião,
samba e bossa-nova foram fundamentais na sua formação. Usando essas influências
como um ponto inicial, Gil formulou sua própria música, incorporando rock,
reggae, funk e ritmos da Bahia, como o afoxé. A obra musical de Gilberto Gil
abrange uma ampla dimensão e variedade de ritmos e questões em suas
composições, pertinentes a realidade e a modernidade; da desigualdade social às
questões raciais, da cultura Africana à Oriental, da ciência à religião, entre
muitos outros temas. A abrangência e profundidade nos diferentes temas de sua
obra musical, são qualidades específicas deste artista, fazendo de Gilberto
Gil, um dos melhores e mais importantes compositores musicais brasileiros.
A importância de Gilberto Gil na cultura
do Brasil vem desde os anos 60, quando ele e Caetano Veloso criaram o
Tropicalismo. Radicalmente inovativo no cenário musical, o movimento assimilou
a cultura pop aos gêneros nacionais; profundamente crítica nos níveis políticos
e morais, o tropicalismo finalizou sendo reprimido pelo regime autoritário
militar. Ele e Caetano foram exilados de seu país, indo para Londres.
Quando ele retornou ao Brasil, ele começou
a series de discos antológicos nos anos setenta: "Expresso 2222",
"Gil e Jorge"(com Jorge Ben Jor), " Os Doces Bárbaros" (com
os baianos Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia) e a trilogia conceitual:
"Refazenda" (sobre a extração de campo), "Refavela" (com
ritmos da Jamaica, Nigeria, Rio de Janeiro e Bahia), e "Realce" –
este último gravado em Los Angeles, firmando sua opção pela música pop, que
direcionaria o desenvolvimento de sua trajetória nos anos 80. Nos anos 90,
vieram: "Parabolicamará", "Tropicalia2" ( com Caetano
Veloso, celebrando os 25 anos do movimento Tropicalista) e
"Unplugged" ( a coletânea de sucessos gravado ao vivo pelo canal
MTV). In 1997, Ele lançou o album duplo "Quanta" e em 1998, lançou
"Quanta gente veio ver", em album duplo ao vivo, comemorando o enorme
sucesso de uma tounee mundial e que ganhou o "Grammy Award" de melhor
musica mundial. Em 2000, lançou o CD "Eu, Tu, Eles" e o CD "Gil
& Milton" (com Milton Nascimento). Em 2001, lança o CD "São João
Vivo".
Em 2002, lança o CD e DVD "Kaya n´Gan
Daya", que depois de uma tournée mundial, tornou-se em CD ao vivo. Em
2004, lançou ao vivo o CD e DVD "Eletracústico". Eletracustico foi o
resultado do concerto que realizou na ONU em N.Y. "Eletracústico"
veio para atender a imensa demanda do público, depois do intervalo de três anos
sem gravar, desde que assumiu o cargo de Ministro da Cultura do Brasil. Alguns
dos seus sucessos estão mais intensivamente marcados pelo diálogo entre a
percussão acústica e eletrônica, cantando um repertório histórico de sucessos
dos anos 60 até os dias de hoje, com a alegria e entusiasmo marcantes da sua
voz.
Em 2006, a gravadora Biscoito Fino relança
o disco com o título de “Gil Luminoso – voz e violão”, cd que foi gravado em
1999 para ser encartado no Livro “Giluminoso – A Po.Ética do Ser”, de Bené
Fonteles. O livro foi uma homenagem a Gil com mais de 50 letras do compositor,
fotos e um longo depoimento de Gilberto Gil. A tournée Gil Luminoso, uma das
mais belas de sua carreira, passou pela Europa e Estados Unidos.
Nesses anos de estrada, Gil tornou-se não
apenas um músico brilhante, mas um compositor capaz de inspirar-se em
praticamente todos os estilos de música brasileira, muitas vezes estabelecendo
cruzamentos originais entre esses estilos e os ritmos africanos ou o rock. Sua
música é sempre moderna e, embora sintonizada com os ritmos internacionais,
jamais perde um agudo senso de brasilidade que é uma de suas características
mais marcantes. As diferentes fases da carreia de Gil expressam as experiências
mais típicas de sua geração. A pluralidade, a diversidade, a receptividade, a
flexibilidade e o colorido de cada momento caracterizam essa trajetória
artística. Sua arte meditativa e esfuziante, brasileira e internacional, negra
e multirracional., pura e comprometida, é hoje, sem intenções, sem cálculo, tão
política quanto metafísica, e, portanto, arte, no mais alto sentido.
Em 2008, Gilberto Gil
lançou "Banda Larga Cordel". Ainda no ano de 2009, em dezembro, foi
lançado o CD/DVD BandaDois, registro do show gravado ao vivo em setembro no
Teatro Bradesco em SP, sob direção de Andrucha Waddington. Em abril de 2010
excursionou pelos Estados Unidos, com o projeto Concerto de Cordas, e logo após
seu retorno ao Brasil, inicia a gravação de seu novo disco, “Fé na Festa”, todo
dedicado ao gênero do forró, o álbum inclui parcerias com Vanessa da Mata e
Nando Cordel. Em junho de 2010 Gil excursionou o nordeste com a turnê “Fé na
Festa”, durante o mês de julho, leva a Europa o mesmo show, intitulado em
terras estrangeiras como: “For All”.
Com 57 álbuns lançados,
Gilberto Gil ganhou 8 Grammys. Por seu engajamento sempre criativo em levar
para o mundo o coração e a alma da música brasileira, Gilberto Gil tem sido contemplado
por diversas entidades e personalidades e tem recebido muitos prêmios no Brasil
e no exterior. Seu talento, sua curiosidade, a firmeza de sua convicção
cultural como músico e embaixador, o torna único.
Gil lançou em 1996 na
rede uma música, Pela Internet, uma alusão na letra e no título ao samba Pelo
Telefone (Donga), de 1917. Em dezembro de 1996 ele fez um show na sede da
Embratel para transmissão em tempo real pela internet. Foi o primeiro show de
um artista brasileiro transmitido ao vivo pela rede. Em janeiro de 2008 Gil foi
o primeiro artista brasileiro ater um canal exclusivo de vídeos no YouTube.
Os anos 20000 Gil
conciliou suas habilidades cibernéticas com uma volta às origens musicais.
Começou com sua abordagem do cancioneiro seminal de Luiz Gonzaga (feita para a
trilha sonora do filme Eu Tu Eles – 2000). Teve uma passagem pela política como
primeiro Ministro da Cultura do Governo Lula, e fechou a década com o
lançamento de Fé na Festa (2010), álbum de inéditas compostas com inspiração nas
tradições das festas juninas.
“Gil é um mensageiro do
sempre sintonizado com o agora. Ele nos ensina não só os meandros do fazer
artístico como os meandros da alma, da fé, da busca do equilíbrio e da
aceitação dos limites humanos”, escreveu a pesquisadora Ana de Oliveira na
apresentação do livro Gilberto Gil. Encontros (Azougue, 2008).
“Gil é um grande inventor
que não registra patente. Sua imensa vaidade exercida em demasiada modéstia e
seu desprezo inocente pela própria grandeza são as duas faces dessa lua meio
negra e meio escondida que é a música da sua pessoa (…) Suponho que Gil
inventou o samba-jazz-fusion e a toada moderna – coisa que não lhe interessam.
Ele também criou o neo-rock-n´-roll brasileiro e a nova cultura musical
afro-baiana – que lhe interessam muito, mas cuja paternidade ele não reivindica
e cuja responsabilidade não aparece no que ele se permitiu fazer depois. Ele
não olha para trás” (Sem Patente. In: Caetano Veloso. O mundo não é chato. Organização
de Eucanaã Ferraz. Pag. 96. São Paulo: Companhia das Letras, 2005)
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