A década de 1970 foi de explosão da música
de grupos de mascarados. Tinha Alice Cooper, David Bowie, Secos & Molhados,
Kisss... Mas bem antes desses existia Os Mamíferos na cena musical de Vitória,
Espírito Santo, a partir de 1966. O trio era composto de Afonso Abreu, Mário
Ruy e Marco Antônio Grijó. Eles assanhavam as plateias com uma performance
psicodélicas, os rostos pintado, maquiagem pesada e a atuação insana e
performática de um cantor andrógino (Aprígio Lírio).
A banda tornou-se uma espécie de célula
vanguardista no decorrer dos anos e foi amealhando intelectuais e músicos pelo
caminho. Torquato Neto, por exemplo, menciona a banda no livro póstumo Os
Últimos Dias de Pompeia. Depois disso ninguém mais nunca ouviu falar do grupo,
entrou no limbo junto com o movimento beat americano que eles eram tão fans.
Em 1969, Vincent Furnier trouxe um circo
de excessos para o rock na virada dos anos 1960 para os 70. Alice Cooper
chegou. Ele inventou o rock teatral, afrontou costumes, criou tendência,
incitou uma verdadeira revolução sexual e acima de tudo, escreveu em forma de
música uma verdadeira biblioteca de rock clássico. Vincent Furnier começou
usando o nome Alice Cooper para o personagem andrógino que encanava durante
seus shows. As apresentações eram regadas de violência performática como um
verdadeiro circo repleto por psicodelia e rock progressivo.
Alice Cooper no palco era um espetáculo à
parte. Um maluco numa camisa de força que escapa e estrangula a enfermeira,
Alice sempre usou uma série de elementos de teatro para representar suas
músicas e em todos os shows ele era executado como uma tentativa de redimir a
plateia que o acompanhava ensandecida. No início ele era executado numa cadeira
elétrica, mas conforme suas transgressões aumentavam, sua morte também foi
sendo cada vez mais fantástica. Ele foi enforcado e chegou a ser guilhotinado
em seus shows. Mas outro assunto com o qual Alice sempre gostou de mexer é a
ressurreição. Alice sempre voltava dos mortos a tempo de fazer o último bis!
O ano de 1970 o Major Tom chegou na música
inglesa, e em 1972 a androgenia definitiva de David Bowie com a explosão do
glam rock trazendo Ziggy Stardust e o disco The Rise and Fall of Ziggy Stardust
and the Spiders from Mars. É a história de um alienígena, encarnado pelo cantor
inglês, que vem à Terra com o intuito de passar uma mensagem de esperança nos
últimos cinco anos de existência do planeta, que iria acabar devido à falta de
recursos naturais
Bowie utilizou toda a sua apurada
imaginação e senso estético para criar o personagem do rock star alienígena que
vinha do espaço para salvar a Terra. O disco reúne algumas das composições mais
famosas de Bowie como “Starman”, Sufragette City” e a homônima “Ziggy Stardust”,
e se tornou um verdadeiro marco do chamado glam rock. Pouco tempo depois, Bowie
assassinaria seu personagem em pleno palco. Era o fim de uma verdadeira febre
que tomou de assalto a Inglaterra e, posteriormente, o mundo. Mas errou quem
profetizou que o fim de Ziggy Stardust era o fim de Bowie. O camaleão ainda
tinha planos muito ambiciosos para o futuro. Depois viriam o andrógino Aladdin
Sane, o sombrio Thin White e o isolado artista kraut dos discos gravados
durante o autoexílio na então murada cidade alemã de Berlim. Até que vieram os
anos 80 e a confirmação de Bowie como um megastar do rock´n´roll, agora
desprovido de personas e alter-egos.
Na época, aqui no Brasil, Os Brazões,
criado pelo baiano Miguel de Deus (o mesmo mentor de Assim Assado),
inspirava-se principalmente na umbanda. Miguel nasceu em Ilhéus, na Bahia. Já
morando no Rio de Janeiro em meados de 1969, formou a banda Os Brazões que
explorava as influências africanas na música e na maneira de vestir e dançar. A
banda fazia uma mistura de rock e psicodelia com elementos da música brasileira
e africana e chegou a acompanhar Gal Costa em uma de suas turnês no final dos
anos 60. Em 1974, Miguel de Deus criou a banda “Assim Assado”, muito bem
“inspirado” no grupo Secos e Molhados. A banda fez sucesso como Gotham City, em
1969, música de Jards Macalé que o grupo defendia no IV Festival Internacional
da Canção. Em 1974 o progressivo Assim Assado surgiu como uma continuidade de
Os Brazões e fez um só disco. Depois disso, Miguel de Deus enveredaria pelo
funk.
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