24 janeiro 2017

Verdadeiro escândalo visual: Saga de Xam



Há 50 anos surgia Saga de Xam, a graphic novel francesa, escrita por Jean Rollin e desenhada por Nicolas Devil, publicado pelo lendário editor Eric Losfeld. Considerado pelo crítico Jacques Marny como um verdadeiro “escândalo visual”, definição que traduz bem o impacto que o livro teve nos leitores da época, Saga de Xam conta a viagem de Saga, a bela jovem de pele azul vinda do Planeta Xam para salvar um planeta Terra.

Xam é um planeta habitado exclusivamente por mulheres. Para salvar a raça xamiana, a Grande Senhora designa Saga em missão à distante Terra, cujos segredos poderiam conter a chave da vitória. Em sua espaçonave de luz, Saga atinge a Terra em plena época das cruzadas. A partir daí começam as aventuras de Saga através de um verdadeiro redemoinho espaço-temporal-visual, entre o surrealismo, a arte nouveau e o naturalismo desenvolve-se o desenho de Devil, explodindo nos poemas visuais do fim.

É um dos mais raros e autênticos exemplares de graphic novel psicodélica, sendo um símbolo artístico da segunda metade do século 20. As detalhadas páginas de Saga de Xam foram desenhadas em grandes quadros e, ao serem reduzidas ao tamanho de um livro, resultou-se na diminuição das letras e é necessário uma lupa para lê-las. Verdadeira viagem pela História de Arte Universal, do antigo Egito à Pop Art, passando pela pintura flamenga, Saga de Xam é um belo e luxuoso livro-objeto, encadernado a pano e impresso em papel de 300 gr, feito mais para ser visto do que para ser lido.

O livro, impresso em papel de 300 gramas, é extremamente raro e muito valorizado ao longo dos anos por colecionadores de todo o planeta, mesmo por nunca ter sido reimpresso. Esta obra é relacionada à emancipação sexual feminina dos anos 60.

O enredo em geral trata de problemas raciais e da violência. Esta obra é relacionada à emancipação sexual feminina dos anos 60. Herdeira direta de Barbarella, de Jean-Claude Forest, Saga de Xam foi revolucionária porque ousou perverter todas as regras dos quadrinhos, tanto no conteúdo quanto nas técnicas. Tratou do liberalismo feminino com ousadia, colocando em foco uma linda humanóide alienígena de exuberante corpo azul, inspirado na modelo Handa Humbert, que aparece desnuda por quase toda a narrativa.

A personagem é independente, toma suas próprias decisões e sustenta uma relação homossexual durante boa parte da história. Os desenhos são psicodélicos, complexos e detalhistas, e os balões enormes, com textos longos em letras bizarras.

Saga vem do planeta-mar de Xam, enviada por sua soberana para estudar a Terra e desenvolver uma proteção psíquica contra os invasores que ameaçam o seu planeta. Ela chega em meio a um grupo de cavaleiros medievais que acabaram de devastar uma aldeia. Capturada, é levada a um castelo onde as mulheres sofrem todo tipo de violência. Entregue ao feiticeiro Abdul Alhazred, Saga escapa, mas é recapturada e amarrada a um poste de pedra onde será queimada viva. Mas ela descobre um botão oculto que, ao ser pressionado, transforma o poste de pedra em um veículo futurista com o qual Saga foge para o mar.

Enquanto manobra pelas ondas, Saga encontra um barco de guerreiros vikings com uma carga de mulheres sequestradas. Uma delas, chamada Zo, está sendo torturada amarrada a quilha do barco. Saga a liberta e ambas atacam os vikings, matando-os e assumindo o controle da embarcação. Saga decide partir, mas Zo se revela apaixonada por ela e ambas embarcam no veículo de Saga, deixando o barco viking entregue às mulheres. Nos saltos seguintes, Saga e sua amante passam por várias épocas e ficam algum tempo no antigo Egito. Mais tarde, Saga retornará para sua dimensão, onde irá confrontar seus inimigos.

Saga de Xam foi o divisor de águas entre o quadrinhos clássico e a moderna escola narrativa, abrindo o caminho para obras como Paulette, de Wolinski e Pichard, Valentina, de Guido Crepax, 5 x Infinitus, de Steban Maroto, Delirius, Philip Druillet, e toda a escola ligada a revista Métal Hurlant. 

A obra teve uma única tiragem de 5 mil exemplares e nunca foi republicada; elevada a categoria de obra de arte, seus exemplares são raros e valiosos.

Para além do editor, Eric Losfeld, outro nome foi determinante para a concretização de Saga de Xam. O de Jean Rollin, cineasta de culto com uma grande atração pelo fantástico e pelo erotismo, que escreveu o argumento de Saga de Xam e apresentou Devil a Losfeld.

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