15 março 2010

Narcisismo baiano impede desenvolvimento cultural (5)

O cacau foi o primeiro ciclo econômico na história contemporânea da Bahia. Vigorou por mais de 40 anos (1930-1970), dando à economia baiana um caráter tipicamente de monocultura exportadora. O auge desse ciclo foi na década de 60, quando o setor agropecuário detinha 40% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. A Bahia entrou no ciclo industrial a partir da segunda metade da década de 70, com a instalação do segundo pólo petroquímico do Brasil. A introdução do complexo petroquímico promoveu modificações na estrutura industrial do Estado. Esse ciclo se consolidou no final da década de 80. A partir da década de 90 a Bahia adotou um programa de incentivos fiscais voltado para o desenvolvimento industrial do Estado, atraindo empresas encadeadoras e adensadoras da malha industrial. Era o processo de reestruturação produtiva que a economia brasileira passava devido à globalização e ao acentuado grau de abertura comercial.

Mas apenas três territórios (Metropolitano de Salvador, Recôncavo e Litoral Norte) detém mais de 57% do PIB do Estado, devido à concentração da atividade industrial nesses territórios. O novo ciclo de desenvolvimento deve adaptar agora uma maior integração dos territórios do Estado, voltado para inclusão da grande maioria da população baiana que ficou alijada desses ciclos de crescimento.

PÉROLA & GROSSERIA


O ex-governador Octávio Mangabeira (1886-1960) mais conhecido como uma espécie de “filósofo da baianidade”, é autor da pérola: “Mostre-me um absurdo: na Bahia há precedentes”. Sempre lembrado pela firmeza de caráter, clareza de pensamento e confiança inabalável nas instituições democráticas, Mangabeira tem tiradas espirituosas como a que ele disse ao deparar com o atraso em que viviam os baianos em 1947 (ano que assumiu o governo estadual): “A Bahia está tão atrasada que, quando o mundo se acabar, os baianos só vão saber cinco anos depois”.


O escritor Antonio Risério em um artigo no jornal A Tarde, escreveu sobre a “grosseria baiana”, uma cidade “onde a vulgaridade e a grosseria predominam”. Segundo ele, “nossa cidade do Salvador, por exemplo, possui um grau razoável de urbanização, um baixíssimo grau de urbanidade – e parece já não tem a mínima noção do que é ou do que foi urbanidade”. E explicou essa falta de educação do povo baiano no que diz respeito a urbanicidade (o lado cultural humano da urbanização), diz respeito aos padrões sociais e comportamentais associados ao viver em cidade.


Os 22 quilômetros da costa soteropolitana, entre o Farol da Barra e o Farol de Itapuã tem diversos problemas estruturais como ausência de ciclovias e pistas para caminhadas, faltam banheiros públicos, calçadas danificadas, além de praias consideradas impróprias para banho devido ao alto índice de coliformes fecais (Penha, Pedra Furada, Roma, Boca do Rio etc).



LEGALIZAÇÃO DA MACONHA


Graduado em psicologia, mestre em sociologia e doutor em antropologia, Edward MacRae defende a legalização do uso e comércio de drogas, por acreditar que muito mais gente morre por causa do tráfico do que pelo mau uso. “Desde o Neolítico, o ser humano usa as mais variadas substâncias, e somente na Idade Média e agora é que há essa preocupação de as drogas ameaçarem a sociedade, de serem o flagelo da juventude, esse tipo de coisa”, disse na entrevista a revista Muito n.87 do jornal A Tarde (29/11/2009).


“Precisamos pensar a questão das drogas de maneira mais racional (…) Hoje nós temos a mesma ideia, de que a droga nos ameaça, nos enfeitiça, de que ela pega você e o transforma em dependente. Quando, na verdade, nós temos formas de lidar com isso. Veja, com as alterações na lei do tabaco, muita gente está deixando de fumar. Mas o que mais funciona são os controles sociais. Hoje é feio você fumar numa sala onde estejam outras pessoas. Você não vai ser preso por isso, talvez elas nem falem nada, mas quem fuma sabe que não é legal. Foi uma mudança cultural. Nossa vida é regrada pelo olhar d vizinho. É o controle social que determina o tom de voz que a gente usa, a roupa que a gente veste, e o uso que faremos das substâncias. A cultura da droga deve ser incentivada. A cultura da droga é o desenvolvimento e troca de ideias sobre como conviver com essas substâncias. As pessoas, em geral, não são suicidas. Essa cultura vai se desenvolver visando, basicamente, ao bem-estar. No momento, devido à criminalização, ela se elabora em condições de clandestinidade. E daí, em vez de visar ao bem-estar, ela visa ao uso sem ser percebido. Entre jovens, por causa dessa coisa do fruto proibido, tem a coisa da valentia. Então vamos ver quanto você pode fumar, quão doidão você pode ficar...Numa situação de lagalização, e com a interferência intergeracional, você vai ter um outro cenário”.


Ele diz mais: “Os militantes daqui devem atentar para o fato de que o uso da maconha é uma tradição negra no Brasil comparável à capoeira. Quando, no início do século 20, se começou uma preocupação com o uso de drogas, a elite brasileira era muito influenciada por ideias de eugenia. E eles mantinham seus vícios elegantes, de usar ópio, heroína, morfina, haxixe. Não se falava em maconha, que era considerada o ópio do pobre. Só na década de 1930 é que, a partir de uma campanha contra a maconha, unificou-se no Brasil a campanha contra as drogas, que começou a visar especificamente a população negra, que era vista como uma classe perigosa. Quando você criminaliza a maconha, você torna todo negro suscetível a ser parado na rua, levado para a delegacia. Ele vira automaticamente um sujeito. Outra coisa que ninguém leva muito a sério é a questão dos rastafaris. Para muitos deles, o uso da cannabis é visto como algo sacramental, que levaria à meditação. Então a criminalização serviu como ferramenta poderosa para controlar a população negra e posteriormente, na década de 70, para controlar a juventude estudantil”.



O que é ser baiano


Encantamento, magia, sedução

terra da felicidade

onde o tempo não é implacável

e os corpos são talhados para o prazer

e a hospitalidade bem pertinho de você.


Lugar de tranquilidade, baianidade, diversidade

é um modo de ser, de fazer e dizer

E tudo o que tem, já dizia Caymmi, faz a gente querer bem

a Bahia tem um jeito que nenhuma terra tem

Você já foi a Bahia meu bem, hein? Hein?



Território de imaginação, fantasia, devaneio

quero essa terra inteira e não pelo meio

esse povo festeiro, relaxado, receptivo

Tudo passa pela gente, bem tranquilo

E você o que fez nessa vida sem destino:


Ser baiano, antes, era ser gentil

nada dessa violência toda febril

Ser baiano, por natureza, era ser tranquilo

nada apressado com muitos gritos

E agora o que restou:


O sagrado e o profano, o hedonismo e a fé,

o despojamento e o rigor, o dengo e a grosseria,

o atraso e a sabedoria, o antigo e o moderno

Tudo isso na Bahia a gente vê de longe e perto

Uma cidade onde os opostos convivem muito bem


Mas o que é ser baiano:

Acima de tudo, ser herói

acordar cedo para pegar um buzu lotado

esperar um tempão no ponto para descolar salário mínimo suado

suportar o barulho do carro do vizinho mal educado.


E tudo nessa terra é meio surreal

rico e pobre, lado a lado, é muito desigual

e o visível de um invisível

é que o povo procura alegria onde não tem

e canta sua terra como ninguém.

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