09 março 2010

Narcisismo baiano impede desenvolvimento cultural (1)

A Bahia tem um universo cultural extremamente complexo e variado. Assim, a Bahia é, por definição antropológica, exótica, sensual. A Bahia tem uma dimensão fetichista sobre o mundo, de sedução. Salvador foi a primeira capital da Colônia e deu à cidade, por extensão, a toda a capitania, características peculiares: fluxo de comerciantes e viajantes das mais diversas origens, escravos de diversas nações tribais. Essa constante interferência dos diversos grupos étnicos culturais como portugueses, espanhóis, holandeses, bantos, jejes, haussés, etc, contribuíram para a formação de diversas manifestações híbridas. Salvador é uma cidade de contraste. Arcaico e moderno, nobreza de valores e pessoas desprovidas de qualquer relação, é cheia de contraste. Salvador é moderna e mestiça. Pensar arte pública é uma forma de democratizar a gestão pública.

A Bahia poderia ter todos os radares voltados para o mundo. Mas o narcisismo baiano impede que se veja as duas faces da moeda. Não temos um foco de prioridades. Falta investimento. Priorizar mais os trabalhos de qualidade. Empresários e especialistas em recrutamento afirmam que ainda faltam ao baiano que lida com atendimento ao cliente características como cordialidade, conhecimento sobre o produto, profissionalismo e agilidade. (A Tarde. Caderno Empregos & Negócios, 03/01/2010, p.3). “Prova disso são os estabelecimentos que buscam mão de obra no Sul e no Sudeste para compor seu quadro de funcionários em plena Bahia. Basta reparar no sotaque dos melhores atendentes para perceber que poucos são nativos”, informa a reportagem “Atendimento: o que é que o baiano não tem?”. “Na opinião do especialista em atendimento e gestão de recursos humanos, Otávio Santana, a profissionalização dos atendentes baianos ainda está defasada em relação a outros estados. `Por ter cobrado qualificação dos funcionários mais cedo que na Bahia, o Sudeste tem um nível mais alto de atendimento`, explica. A exigência da qualificação, portanto, deve partir dos empresários”.


As políticas culturais (em todos os níveis, seja federal, estadual e municipal) decorrem ainda da visão que considera a cultura coadjuvante e não protagonista da gestão pública. Os recursos continuam insuficientes para atender às demandas e provocar impactos transformadores. È preciso definir a função básica da política cultural do estado. O Brasil e a Bahia precisam formar leitores, platéias de teatro, frequentadores de museus, etc.

Afinal, não há Bossa Nova sem João Gilberto. Não há Cinema Novo sem Glauber Rocha. Não há Tropicalismo sem Caetano, Gal e Gil. Não há pensamento contemporâneo brasileiro sem Milton Santos. Não há marcas capazes de produzir o mais vigoroso turismo cultural do país sem Olodum, Ilê Aiê e Timbalada.

Temos o teatro da Bahia como a terceira produção teatral brasileira. A música está sempre em evidência, apesar da filtragem só em um gênero musical. E com toda sua efervescência cultural, não dispõe de uma editora comercial de ponta, que produza, distribua e venda livros para o Estado e o país. A última foi a Progresso nos anos 50 e fechou em 1960. O cinema baiano é criativo, mas lento, talento, não tem apoio assim como a literatura. História em quadrinhos é outra vertente desprezada. A Bahia também precisa de um calendário de eventos diversificados, que não se restrinja ao verão, ao Carnaval. Precisamos investir mais em serviços. O serviço aqui é muito ruim e restrito.


Falta na capital baiana, casas planejadas para grandes espetáculos. Grandes atrações não passam pela cidade justamente por falta de espaço adequado para atender à população. Nos meses de junho, julho e agosto, nada acontece por não termos uma grande casa fechada. Temos apenas o Parque de Exposição, o Wet´n Wild e o Bahia Marina, lugares abertos. Os produtores falam que Salvador é uma das praças que dá uma ótima resposta de bilheteria, mas o custo operacional é o mais alto por falta de estrutura. Há uma carência de casas de shows.

A desigualdade é cada vez mais latente em Salvador. A cidade vai excluindo, gradativamente, uma camada da população dos direitos de circular, de ter uma habitação digna, de ter áreas públicas e de poder decidir os destinos da cidade. Habitação não é só casa. Habitar na cidade, no espaço, é um conjunto de fatores: mobilidade, espaços públicos, transporte, moradia.

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