16 setembro 2009

Invenção da baianidade (3)

A cultura baiana não é homogênea. Basta observar a cultura do litoral extremo sul, da região cacaueira, bem diferente da região do rio São Francisco. Ou mesmo do sertão e do oeste. E a culinária com sabores diversos em cada região, o sotaque difere tanto de um lugar a outro. São várias particularidades que diferem uma região da outra, até mesmo nas músicas escutadas nas ruas (em alto volume como se fosse trio elétrico) tem ritmos variáveis. Portanto, falar sobre uma cultura baiana merece um estudo mais aprofundado. Mas, para a maioria dos brasileiros, a Bahia está intimamente ligada à cidade de Salvador que muitas vezes é chamada a Cidade da Bahia.

O conceito de baianidade também conhecido como identidade baiana, idéia de Bahia ou o que faz ser baiano, tornou-se tão frequente que mereceu um verbete no Aurélio, dicionário da língua portuguesa no Brasil: “1. Maneiras, atitudes, sentimento, próprios de baiano. 2. Amor intenso à Bahia, à sua gente, aos seus costumes”. O sociólogo baiano Milton Moura definiu a baianidade como um ethos baseado em três pilares: a familiaridade, a sensualidade e a religiosidade. Assim os conceitos da baianidade (alegria, familiaridade, cordialidade, hospitalidade, sensualidade, religiosidade, primazia) são atributos a todos baianos e passam a ser a marca registrada da Bahia. Mas o baiano também é depreciado – o de ser burro, e do mito de preguiçoso.
Existe a idéia de Bahia como o discurso construído em torno da articulação específica entre povo, tradição e cultura, ideologicamente definidos. A idéia de nação emerge, segundo o pensador Homi Bhabha (A questão do ´outro´: diferença, discriminação e o discurso do colonialismo, 1992), através de narrativas e de discursos, como uma entidade ambígua. O nacionalismo é, por natureza, ambivalente. Um domínio onde interesses privados assumem sentidos públicos. Assim a `cultura baiana´ é um aparelho de interpretação e definição de uma realidade social cruel que foi transformada em festiva. Objeto discursivo construído como argamassa ideológica para a construção do consenso político. As contradições e desigualdades raciais, alto índice de analfabetos permanecem sem resposta no plano das relações sociais concretas.
DISCURSO - “O samba nasceu lá na Bahia”, diz uma canção famosa. A Bahia é considerada como o Estado principal da musicalidade brasileira. A importância creditada à música e aos músicos na construção do discurso de baianidade de baianidade é notável porque são estes a quem é atribuído o papel de representantes oficiais, em,baixadores, porta-vozes da Bahia.

Quando Salvador foi fundada, em 1549, a idéia principal do projeto era torná-la não apenas uma cidade fortaleza, mas o mais importante símbolo do império português nas Américas. Por conta da sua história sócio-política, as Bahia se transformou num território multifacetado.
Do século 16 ao século 18, Salvador e o Recôncavo baiano tiveram uma hegemonia sobre todas as outras regiões. Na capital e no seu entorno, estava o cultivo na cana de açúcar, a rede de engenhos para produzir o açúcar e as vias de transporte e, consequentemente, comunicação com o resto do mundo.
A partir do século 19 a Chapada Diamantina ganha notoriedade com a sua exploração de minério. Depois chega o sul cacaueiro e, por fim ganha proeminência nesta geografia estadual o extremo sul, tendo o turismo como principal atividade econômica e o oeste. A chegada das rodovias, que passaram a ser o ponto de ligação entre as diversas regiões do Estado, ao mesmo tempo que aproximou algumas de Salvador, caso do norte, afastou outras – o oeste e o extremo sul.
O oeste está mais próximo de Brasília e Goiania. O extremo sul a proximidade é maior com o Espírito Santo e com Minas Gerais. Isso fez com que o desenho econômico, cultural e social da Bahia tenha se modificado. A combinação entre a extensão do seu território e uma ênfase na capital as outras regiões baianas se aproximaram culturalmente de estados com os quais faz fronteiras.
TERCIÁRIO - A Bahia que pensávamos conhecer (como lembrou bem o economista Armando Avena) e cuja liderança econômica estava solidamente centrada o setor industrial (gerava 48% do PIB, tendo a indústria de transformação 35% desse percentual) era uma ficção. A verdadeira Bahia é um Estado terciário, fortemente vinculado ao setor de serviços, que gera 60% do Produto Interno Bruto, enquanto a indústria de transformação detém apenas 16% do produto. Essa é a Bahia que está a merecer uma ampla discussão sobre suas prioridades, planos e projetos sobre seu futuro.
CORONELISMO - A Bahia é o terceiro Estado brasileiro com o maior número de parlamentares donos de emissoras de rádio e televisão. O que se convencionou chamar de “coronelismo eletrônico”, ou seja, utilização pelo político de uma concessão estatal para usar veículo de comunicação para influenciar a opinião pública. Apenas Minas Gerais (16) e São Paulo (11) estão à frente da Bahia. Paraná e Piauí, como nove, vão na sequência. Na Bahia, 65 emissoras (radio e TV) estão nas mãos de políticos no exercício de cargo elegível
Perguntas que não ofendem:
Por que os intelectuais silenciam sobre:
O traçado da Ferrovia Oeste Leste?
A localização mais conveniente do Porto Sul?
As perspectivas da agricultura familiar?
A ampliação do Porto de Salvador?
As políticas para reduzir o desemprego, o combate à miséria?

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