15 setembro 2009

Invenção da baianidade (2)

No terceiro capítulo do livro A Invenção da Baianidade (Agnes Mariano. Ed. Annablume) é analisado o que há de comum, de semelhante, o que se mantém como marca da retórica da baianidade, independente do período histórico. Assim o discurso da baianidade constrói uma explicação do mundo e define um código de conduta. O discurso indica valores, princípios, crenças, normas de conduta, habilidades, aponta problemas, arrisca justificativas, soluções, alimenta esperanças.

A evolução do pioneirismo, o lugar onde as coisas aconteceram e acontecem primeiro, retoma a história do Brasil: “Mamãezinha que morreu/Muita vez me ensinou/Que na Bahia/De iaiá/E ioió/Foi que o Brasil nasceu (Barroso, 1931) ou “O Brasil foi descoberto na Bahia e o resto é interior (Gordurinha e Diniz, 1959)”. E assim os compositores passam a várias derivações: terra tradicional, berço do Brasil, a Bahia é Brasil....
E a autora segue com outros argumentos como ser oriundo da Bahia seria um predicativo marcante e não um dado qualquer, o dever de obedecer aos costumes e repetir a tradição é tão vigoroso que quase não é percebido como um dever. Tem ainda a originalidade, superioridade e primazia. A proteção, o prazer, bem estar físico, equilíbrio mental, sensualidade.
Ao longo das canções analisadas a autora segue pistas de sociólogos, antropólogos e historiadores, além de incluir ao longo do texto elemento da história e cultura local. O isolamento de Salvador em relação ao resto do país, provocado por sua estagnação econômica, a estruturação da indústria do turismo do Estado que estimulou e produziu um discurso da baianidade inspirado numa antiga tradição de crônica de costumes sobre as práticas locais, a ascensão social da população negro-mestiça.
E nas canções dos compositores sobre pioneirismo, proveniência, hereditariedade, primazia, proteção relacionados à tradição e bem estar físico e mental desponta a idéia de conciliação, que pode ser entendida como habilidade para o convívio, para a integração. “O espírito de conciliação pode se expressar na defesa da cordialidade, permitindo a convivência entre opostos, da comunhão, isto é, o compartilhamento entre iguais e diferentes, dos direitos, deveres e experiências e da fusão de elementos distintos gerando algo novo, uma opção transformadora – o sincretismo, a miscigenação, a antropofagia. Trata-se, portanto, de uma vigorosa defesa da adaptabilidade”.
“A discussão sobre identidade cultural – definir a si próprio partindo de uma inserção cultural, coletiva, grupal – é um tema importante e polêmico no momento atual. Primeiro, porque pode conduzir a divergências, desencontros e até a guerras, mas também pode introduzir um elemento significativo, com um poderoso potencial de transformação: a união, a habilidade ou capacidade de convívio (…) Se, no plano das identidades regionais, possivelmente são – Bahia – no campo das relações sociais – e Minas Gerais – no âmbito da política – os dois locais emblemáticos desta capacidade de conciliação, quando o olhar externo se debruça sobre o Brasil, busca muitas vezes este aspecto como uma marca nacional. O que talvez seja um sinal de que esta pode ser uma das mais urgentes e fundamentais contribuições brasileiras a um mundo que já pode e precisa ser um, mas que não consegue superar um velho hábito: o de enxergar em diferenças sutis entre nações, tributos ou etnias, barreiras intransponíveis”.
A Invenção da Baianidade é um livro que deve ser lido como se deliciasse uma fruta tipo graviola, caqui ou cajá, saboreando cada parte com prazer. Tem conteúdo, é agradável de ler com diversas referências musicais e literárias, contextualiza a época em que é analisada a questão. Para presentear os amigos. Vale conferir. Boa leitura!
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