Homenageado nos anos 60, em plena revolução sexual, como um de nossos grandes transgressores, o ex-seminarista, alimentado pelo cristianismo e pelo que ele mesmo chama de “a fé de sua juventude”, George Bataille (1897/1962) foi tomado pela idéia de que a existência do proibido e sua transgressão fundamentam o próprio desejo. Apologista da transgressão e do prazer, Bataille viu com acuidade a perturbadora ligação entre desejo e violência. Ele está convencido de que o desejo comporta uma dimensão trágica. Ele expressa o verdadeiro pavor que lhe inspira o total desaparecimento das proibições, e que, simultaneamente, promove a transgressão. E ele próprio cultiva a provocação, além de seguidas homenagens a Sade ou a Nietzsche, encontremos em seus escritos temas diretamente herdados do cristianismo com o qual ele crê estar rompendo. Para Bataille, o prazer tem parte com esta animalidade odiosa que ele desperta em nós.
“É o que mais violentamente nos revolta em nós”. Em sua obra A História do Erotismo, evoca reflexo que, no momento mesmo do prazer, nos leva a pronunciar palavras “obscenas” como que para “gritar o segredo descoberto”. Para ele, o interdito sexual expressa uma recusa do homem, a recusa de ceder ao imenso e prolífico desperdício da natureza, que recicla incansavelmente a morte para dele extrair vida.
Fundou o Colégio de Sociologia e desenvolveu uma filosofia baseada numa crença na destruição sagrada e no excesso – um niilismo místico próximo ao culto de Dionísio, de Nietzche. O pensamento e a obra de Bataille o conduziram à violência erótica e ao sacrifício humano, e o aproximaram da desordem e destruição que via em Hitler e Stalin. Hoje em dia, Bataille poderá ser mais conhecido nos círculos intelectuais por haver proposto uma teoria elaborada da transgressão.
Em seu livro “O Erotismo” definiu o erotismo como a presença da vida dentro da morte e a presença da morte dentro da vida. Para Bataille, existem na natureza duas forças. Uma que tende ao individualismo, e o indivíduo quer sobreviver. A outra que tende à fusão e, dessa maneira, à decomposição do indivíduo, à sua morte. Esta segunda força é a violência. No erotismo as duas operam. O indivíduo quer permanecer ele mesmo e, todavia, fundir-se com outro. Mas no mais profundo do ser a fusão permanece como destruição, violência, morte. Sade não fez outra coisa – na opinião de Bataille – que exasperar este pólo dialético do erotismo. O erotismo é sempre, portanto, transgressão, violência, profanação, vontade de anular-se e de anular.
Estudioso de religiões orientais, experiências místicas e práticas estáticas e sacrificiais, Bataille nos leva a descobrir que “entre todos os problemas, o erotismo é o mais geral, o mais a distância”. Mostrando os efeitos de transgredir as interdições impostas milenariamente por estes elementos desordenadores, ele dá ao erotismo e a violência uma dimensão religiosa, onde explora os meios para se atingir uma experiência mística “sem Deus”: “um homem que ignora o erotismo é tão estranho quanto um homem sem experiência interior”.
A linguagem crua e, literalmente, nua, de livros como Historia do Olho, Madame Eduarda, O Azul do Céu – é preciso reconhecer – era forte e intensa o suficiente para que muitos achassem que ele só escrevia sobre aquilo. Porém, sua biografia está recheada de crises religiosas, que chegaram a levá-lo a morar entre os monges beneditinos da ilha de Wright, após ter sonhado em virar padre. Ao lançar a revista acéfala, cujo nome expressava um de seus temas favoritos – o perder a cabeça e, com ela, todos os freios que podiam separá-lo de uma vida e obra dedicadas, de forma absoluta, ao desregramento, no seu sentido real, sem moralismos, da falta total de regras.
Ao isolar-se da razão, Bataille não apenas caiu na gandaia (o que fazia, sem dúvida, pois a experiência era fundamental), mas, nesse movimento de negação radical do racional, aproximava-se de algo próximo ao estado místico. Era o êxtase “pouco católico” de figuras como Teresa de Ávila, unindo erotismo, morte, poesia e um sagrado que ele traduzia como tudo aquilo que era intocável e proibido, seja na eleva;ao espiritual, seja no qual o ser tinha de mais baixo. Afinal, como aprendera com Nietzsche, se Deus estava ausente, sem Ele, os limites desapareciam por completo.
Isso convidava ao excesso e à busca de transgressão constante, em todos os campos literários (que ele, aliás, experimentou). Hoje, passados mais de cem anos de seu nascimento, sua presença pode ser encontrada em vários meios, sob as suas diferentes formas. Seu pensamento alimenta Michel Aglietta, André Orléan e Jacques Ataillé, importantes referências em questões monetárias na Europa Contemporânea. Jean Baudrillard impera-se diretamente no texto batailliano assim como Deleuze – Guattari, entre outros. Ao reconhecer o excesso encarnado no desejo de transgredir o mito no campo simbólico, Bataille contribuiu para uma geração de intelectuais projetarem da economia à psicanálise uma tonalidade impregnada de culturalismo que não cessa de mostrar-se como alternativa original e criativa de compreender nosso mundo.
“É o que mais violentamente nos revolta em nós”. Em sua obra A História do Erotismo, evoca reflexo que, no momento mesmo do prazer, nos leva a pronunciar palavras “obscenas” como que para “gritar o segredo descoberto”. Para ele, o interdito sexual expressa uma recusa do homem, a recusa de ceder ao imenso e prolífico desperdício da natureza, que recicla incansavelmente a morte para dele extrair vida.
Fundou o Colégio de Sociologia e desenvolveu uma filosofia baseada numa crença na destruição sagrada e no excesso – um niilismo místico próximo ao culto de Dionísio, de Nietzche. O pensamento e a obra de Bataille o conduziram à violência erótica e ao sacrifício humano, e o aproximaram da desordem e destruição que via em Hitler e Stalin. Hoje em dia, Bataille poderá ser mais conhecido nos círculos intelectuais por haver proposto uma teoria elaborada da transgressão.
Em seu livro “O Erotismo” definiu o erotismo como a presença da vida dentro da morte e a presença da morte dentro da vida. Para Bataille, existem na natureza duas forças. Uma que tende ao individualismo, e o indivíduo quer sobreviver. A outra que tende à fusão e, dessa maneira, à decomposição do indivíduo, à sua morte. Esta segunda força é a violência. No erotismo as duas operam. O indivíduo quer permanecer ele mesmo e, todavia, fundir-se com outro. Mas no mais profundo do ser a fusão permanece como destruição, violência, morte. Sade não fez outra coisa – na opinião de Bataille – que exasperar este pólo dialético do erotismo. O erotismo é sempre, portanto, transgressão, violência, profanação, vontade de anular-se e de anular.
Estudioso de religiões orientais, experiências místicas e práticas estáticas e sacrificiais, Bataille nos leva a descobrir que “entre todos os problemas, o erotismo é o mais geral, o mais a distância”. Mostrando os efeitos de transgredir as interdições impostas milenariamente por estes elementos desordenadores, ele dá ao erotismo e a violência uma dimensão religiosa, onde explora os meios para se atingir uma experiência mística “sem Deus”: “um homem que ignora o erotismo é tão estranho quanto um homem sem experiência interior”.
A linguagem crua e, literalmente, nua, de livros como Historia do Olho, Madame Eduarda, O Azul do Céu – é preciso reconhecer – era forte e intensa o suficiente para que muitos achassem que ele só escrevia sobre aquilo. Porém, sua biografia está recheada de crises religiosas, que chegaram a levá-lo a morar entre os monges beneditinos da ilha de Wright, após ter sonhado em virar padre. Ao lançar a revista acéfala, cujo nome expressava um de seus temas favoritos – o perder a cabeça e, com ela, todos os freios que podiam separá-lo de uma vida e obra dedicadas, de forma absoluta, ao desregramento, no seu sentido real, sem moralismos, da falta total de regras.
Ao isolar-se da razão, Bataille não apenas caiu na gandaia (o que fazia, sem dúvida, pois a experiência era fundamental), mas, nesse movimento de negação radical do racional, aproximava-se de algo próximo ao estado místico. Era o êxtase “pouco católico” de figuras como Teresa de Ávila, unindo erotismo, morte, poesia e um sagrado que ele traduzia como tudo aquilo que era intocável e proibido, seja na eleva;ao espiritual, seja no qual o ser tinha de mais baixo. Afinal, como aprendera com Nietzsche, se Deus estava ausente, sem Ele, os limites desapareciam por completo.
Isso convidava ao excesso e à busca de transgressão constante, em todos os campos literários (que ele, aliás, experimentou). Hoje, passados mais de cem anos de seu nascimento, sua presença pode ser encontrada em vários meios, sob as suas diferentes formas. Seu pensamento alimenta Michel Aglietta, André Orléan e Jacques Ataillé, importantes referências em questões monetárias na Europa Contemporânea. Jean Baudrillard impera-se diretamente no texto batailliano assim como Deleuze – Guattari, entre outros. Ao reconhecer o excesso encarnado no desejo de transgredir o mito no campo simbólico, Bataille contribuiu para uma geração de intelectuais projetarem da economia à psicanálise uma tonalidade impregnada de culturalismo que não cessa de mostrar-se como alternativa original e criativa de compreender nosso mundo.
Um comentário:
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