O verão estava
chegando com toda a sua luz, seu brilho. E foi assim que eu o conheci. O local
não era uito de meu agrado. As pessoas dançavam frenéticas, luzes e som no ar.
A coragem não me veio logo. Com um pouco de bebida a situação foi logo
resolvida. E no salão juntei-me aos outros. Mesmo assim sentia-me só. E embora
meu coração ansiasse por amizade, não sabia abrir-me, inibido como sou. Num
rápido momento o vi passar. Alto, moreno....uma figura que me impressionou. Ele
também notou algo em mim. A partir daí não consegui me controlar, e ficávamos
distante, olhos nos olhos até que ele,
mais decidido se aproximou e, bem natural, abraçou-me na dança. Horas depois,
cansados, subimos para conversar. Conhecer um pouco mais um do outro.
Estava um pouco
trêmulo. Sua mão decansava docemente na minha. E ele enlaçou-me levemente.
Senti os seus lábios aproximando-se dos meus. Inclinou-se para mim e apertou-me
estreitamente nos braços. O contato daquela pele macia incenduou-me. Sentaados
ficamos. A cabeça encostada no meu ombro, os dedos alisando os cabelos do
peito. Meu coração batia aceleradamente. Em seguida convidei-o para dormir em
casa.
No caminho, a
palavra não era necessária, bastavam os gestos. Em casa ele não largava a minha
boca. Seus lábios mordiam os meus lábios, seus dentes batiam nos meus dentes e
os nossos hálitos se confundiam inteiramente. No instante seguinte, perdemo-nos
um no outro, tornamo-nos um único ser, entrelaçamo-nos em uma unidade amorosa
que mergulhava cada vez mais fundo na insondável fonte do amor. Passamos quase toda a noite aplacando-nos.
Exaustos, afinal, adormeceno em estreito abraço. Creio que ao mesmo tempo.
Entretanto, não acordamos ao mesmo tempo. Acordei em primeiro lugar, com uma
sensação de felicidade, que a princípio não soube explicar. Vi-o deitado ao meu
lado, nu, o rosto expressivo, bonito.
Corpo anguloso,
pele torneada do sol, uma boca bem delineada e o pescoço grossso, mas erguio.
Aquilo excitava-me. Ele acordou e murmurou baixinho palavras doces. Beijou-me
nos olhos, na boca, no pescoço. Suas mãos tornaram-se ágeis e firmes,
deslizando-as por entre minhas pernas. Percorri com meus lábios aqueles
contornos tão arredondados, de carnes acetinadas, fina e tão polida. Depois
tudo seguiu um ritmo quente e novo, nascido naquele instante. Eu ansiava por
que essa operação não terminasse nunca. Houve a agonia dos corpos, a união, o
pazer inconcebível
No dia seguinte
ele apareceu. Usava uma camisa esporte
de cor azul e calça jeans. Parecia mais jovem, barba aparada, com seus cabelos pretos, seus gestos animados
e desinibidos, seu soriso tão franco e inocente quanto o de uma criança. Era simpático, não conseguia deixar de fita-lo
constantemente. Era diverso de todas as pessoas que conhecia. Possuia uma
marca pessoal que fascinava. Estava de férias e, com um convite meu,
resolveu ficar por mais tempo naa cidade.
Ele não era daqui. Apaixonado
pelo mar, frequentava-o todos os dias. Queimadão da praia, ficava com aquele
suave e delicado olhar meio vaago,
ligeiramente torturado, despertando incontida carga emotiva. Era seus dias depressivos. Sentia seus olhos
pousar em mim. Aproximava-me dele e ficávamos juntinhos horas a fio....
E assim foram
os dias, meses. O Natal passou, o Carnaval também. E tudo era alegria ate
o dia em que partiu. Já sabia que um dia
ele teria que partir, mas na hora não
aceitava aquilo, estava perdendo aquela felicidade, toda aquela alegria.
E ele partiu. Fiquei a escutar os discos e lembrar os momentos que passamos
juntos. Impossível libertarmos do que
nos deixaram como marcas, por mais que nos esforcemos, por mais que escandamos,
por mais que as disfarçamos, que as mergulhamos no álcool ou enganemos com
alegres ou tristes canções, elas estão presentes. Impossível esquecer as noites
de conforto, de calor, os dias de sol, de mar, nas festas, nas feiras, em tudo
o que fazia....Impossível riscá-los, inútil negá-los, ingênuo tentar esquecer.
Alguma coisa parecia ter morrido em mim.
Olho as fotos, das poucas que tirei, e vejo através da janela as estrelas que
me parecem incrivelmente distantes. E de repente me dou conta de que estou só.
Sentei-me novamente e tive vontade de ficar assim, parado.... Como é difícil
ter que aceitar alguém que ama ficar assim distante....Sim, eu o
amo e essa é a verdade. Não poso
esconder. Não sei mais o que
fazer. Os dias parecem longos e as noites mais tristes. Os meses ficam tropeçar uns nos outros. O tempo até paarece que parou...mas na verdade
quem está parado sou eu, triste e só.
E quanto mais
penso que seu mundo está lá, sua família
e seus amigos, e não aqui, perto de mim,
fico mais triste. As
circunstâncias unem e separam as pesssoas. Não sei explicar bem isso, mas não
queria que fosse assim. Tudo estava tão belo....Ah! estou lembrando o dia em
que passamos na ilha, era seu aniversáario, chovia muito, e nós dentro da
barraca, fazia um frio, mas nossos corpos juntos esquentaram um ao outro. E ele
era puro sorriso, brilho nos olhos, no corpo. Brilho de sol, pombas no ar.
Agora, não posso mais escrever, maeus olhos estão nublados...são lágrimas
Odemar, por você, por mim, por nós. Obrigado. (Guto, 30 de março de 1981).
Nenhum comentário:
Postar um comentário