02 outubro 2020

70 anos sem o traço de J.Carlos

Há 70 anos morria um dos mais originais caricaturistas brasileiros da primeira metade do século XX, J. Carlos. Ele foi o caricaturista mais importante de seu tempo. O humor, a rapidez e clareza de seu traço registram as mudanças de costumes e comportamento ocorridas no Rio de Janeiro, na virada do século XIX.

 

Caricaturista, chargista, ilustrador, publicitário e humorista, José Carlos de Brito e Cunha (Rio de Janeiro, 18 de junho de 1884 — Rio de Janeiro, 2 de outubro de 1950), o J. Carlos, nasceu e viveu no Rio de Janeiro. Foi um dos maiores cronistas visuais de seu tempo, retratou com beleza e elegância o cotidiano da cidade e seus habitantes. Com seu traço art déco, criou edifícios, paisagens e personagens, como as melindrosas, com seu figurino sofisticado e penteados modernos, que ilustraram as principais publicações que circularam na primeira metade do século XX.

 


Foi um dos primeiríssimos representantes do modernismo no Brasil, com a leitura – direta ou indireta – que fez do art nouveau e do art déco a partir da década de 1910. Isso está evidente nos desenhos que fez de arranha-céus, em seus interiores, móveis, luminárias, estamparia, nas roupas e nos corpos de suas melindrosas e afrodites. Base sobre a qual rapidamente desenvolveu um estilo completamente seu, inconfundível e inimitável.

 


Ao longo de sua carreira J. Carlos, com suas charges, faz a crônica do processo de urbanização da capital carioca e dos seus efeitos sociais. A vertente política é explorada pelo artista desde o início de sua carreira, sendo ele o responsável pela execução de uma série de charges antibelicistas executadas no período abrangido pelas duas grandes guerras e principalmente durante os dois governos de Getúlio Vargas. Seus desenhos testemunham o surgimento do telefone, da fotografia, do chope, do samba, do bonde elétrico, do automóvel, do cinema, do rádio, do avião, da cultura do futebol, da praia e do carnaval, e no campo político, a República Velha, a Revolução de 30, o Estado Novo e as duas Guerras Mundiais.

 


José Lins do Rego escreveu que J.Carlos está para a caricatura brasileira como Villa Lobos para a Música e Machado de Assis para a Literatura. Sua carreira na imprensa durou quase 50 anos e concentrou-se em torno de sua colaboração com duas grandes empresas editoriais: a Careta e O Malho.

 


Entre 1902, quando viu seu nome impresso pela primeira vez, e 1950, ano em que morreu, José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950) publicou mais de 50 mil desenhos. Foram caricaturas, charges, cartuns, ilustrações, letras – capitulares, títulos, cabeçalhos –, vinhetas, adornos, peças de publicidade, enfim, tudo o que é possível fazer a lápis, caneta e pincel para ser impresso. Com meia dúzia de exceções inexpressivas, tudo o que desenhou em 48 anos de trabalho foi para ser publicado em revistas, jornais e livros.

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