A trama do desenhista Marcelo
Quitanilha, TUNGSTÊNIO (2014) tem Cidade
Baixa como cenário de um conflito que envolve policiais, X9 e traficantes.
“Tungstênio”, que foi publicado no Brasil pela editora Veneta, e depois traduzido
e republicado na França. A história, uma comédia de erros, se passa em Salvador
e envolve dois policiais, um X9, traficantes e pescadores da Cidade Baixa. Além
de prejuízos à fauna e flora marinha, a pesca com bombas na Baía de
Todos-os-Santos já deu muita confusão. Nenhuma, porém, tão ensandecida quanto a
mostrada na graphic novel de Marcello Quintanilha. Em 2004, Quintanilha esteve
na capital baiana para produzir o álbum Cidades Ilustradas: Salvador (Casa 21,
2005). A estadia o marcou profundamente, rendendo ainda um par de HQs no álbum Almas
Públicas (Conrad, 2011) e, agora, uma graphic novel inteira: Tungstênio. O
livro foi premiado no 43º Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, o
mais importante da Europa, na categoria policial. E também foi adaptado para os
cinemas pelo diretor Heitor Dhalia, conhecido pelo filme “O Cheiro do Ralo“. O
quadrinista é conhecido pelo rigoroso domínio narrativo sequencial, além de um
especial interesse em histórias protagonizadas por tipos bem populares:
motoristas de ônibus, jogadores de futebol, camelôs.
Batizado como o movimento da capoeira, AÚ (2008) conquistou o público leitor
carente de personagem baiano. Com desenhos cheios de movimento (traço limpo e
dinâmico), diagramação elaborada, trama cativante, Aú o capoeirista agrada
baianos, romanos, gregos e americanos, mas o espírito baiano está alí, centrado
nos personagens, no ambiente. Flávio canta sua aldeia e mostra ao mundo. A
história, ambientada em Salvador, é repleta de aventura, humor, consciência
ecológica e mostra o cotidiano do capoeirista mirim Aú e seu inseparável amigo,
o macaquinho Licuri. O adolescente investiga o desaparecimento de uma garota
francesa sequestrada no Pelourinho ao presenciar o início de um incêndio. A
investigação do capoeirista Au o leva à ilha particular do misterioso Armando
Confuzionni. A partir daí o leitor vai encontrar muita ação pelas ladeiras do
Pelô e outros pontos da cidade, além de uma eletrizante perseguição de jetskis
nas águas da Baía de Todos os Santos.
As descobertas sexuais, os tabus e a
sexualidade são temas pouco trabalhado nas histórias em quadrinhos brasileiras.
O QUARTO AO LADO (2013) é um álbum
que mostra as curiosidades, experimentações e diversidades sexuais de jovens e
de adolescentes. São três histórias em quadrinhos, e um conto, passadas em
cidades da Bahia sobre os relacionamentos afetivos e sexuais entre personagens
de diferentes sexualidades. Idealizado pelo roteirista Marcelo Lima, o álbum
tem como desenhista principal o ilustrador André Leal, com participações de
Daiane Oliveira e Bruno Marcello, além de arte para a capa feita por João
Oliveira. Foi patrocinado pelo Fundo de Cultura da Bahia (Secretaria de Cultura
do Estado da Bahia e Fundação Pedro Calmon), e selecionado no Edital de Culturas
LGBT.
O trânsito de Salvador é um dos mais
congestionado do mundo. Buracos, engarrafamento, falta de fiscalização e
estresse. São alguns dos problemas da cidade. Os congestionamentos na cidade
são cada vez mais longos. O aumento do número de automóveis não foi seguido por
melhorias nas redes viárias e, tampouco, no incentivo a um transporte público
de melhor qualidade. Diante desse quadro no presente, os autores Camilo Fróes,
Moreno Pacheco e Bruno Marcello mostram Salvador do futuro. Em CIDADE-MOTOR (2016), a primeira
incursão dos autores pelo mundo dos quadrinhos, uma Salvador distópica se torna
pano de fundo para uma narrativa policial onde os carros viraram casa, o
trânsito virou a vida, e a cidade se transformou em via para automóveis. Nesse
ambiente, o destino do policial Celso se cruza com o de Moema, jovem da classe
média empobrecida. Moema é uma jovem motogirl que se vê emaranhada em um
perigoso jogo de interesses depois de sofrer um acidente de trânsito envolvendo
dois policiais: um corrupto, do controle de trânsito, e outro, civil e honesto,
chamado Celso. E o desfecho desse encontro passará pelas mãos de um grupo
radical clandestino que busca medir forças com o poder público de um futuro
nem-tão-distante.
BILLY
JACKSON
(2013) é a primeira investida do escritor Victor Mascarenhas e do desenhista
Cau Gomez pelo mundo dos quadrinhos. Originalmente um conto de autoria do
próprio Mascarenhas, intitulado Superstar e publicado em 2011 no livro A
insuportável família feliz (Editora P55), a trama da HQ se passa nos dias
subsequentes à morte de Michael Jackson, quando encontramos Agnaldo, o Billy
Jackson, um cover baiano do artista norte-americano, se apresentando no palco
do Blue Moon. Deprimido, frustrado e devastado com a perda da sua referência de
vida, Agnaldo/Billy tem que enfrentar o palco, o público e uma crise de
identidade que o coloca diante de um grande dilema: seguir adiante com sua vida
ou imitar seu ídolo num desesperado gesto final?. De leitura ágil, a
HQ segue a trajetória do sósia em paralelo à do ídolo. E vai mostrando como o
processo de transformações bizarras, decadência e morte precoce se reflete em
Agnaldo / Billy. O ousado projeto é publicado pelo selo editorial da RV Cultura
e Arte, que aposta arrojadamente no talento de autores baianos e na força de
histórias locais, acreditando estar aí um importante ingrediente para a
interlocução entre obra e leitor.
A Cidade da Bahia é mágica, povoada por
gente de fé, que desde criança escolhe ou é escolhido por um santo e um orixá
protetor. Mas neste mesmo cenário de tanto misticismo, e quem vive no bairro da
Mata Escura sabe disso, é preciso não só ter fé, mas coragem para seguir a
vida. Patrocinado pelo Fundo de Cultura da Secretária de Cultura do Estado da
Bahia, SÃO JORGE DA MATA ESCURA (2011)
é uma história em quadrinhos de 52 páginas, que conta, através de arquétipos do
misticismo religioso baiano, a história de três personagens que habitam a
região da Mata Escura (periferia de Salvador): o negro, pobre e virtuoso Jorge,
o traficante albino ambicioso Jarcisley e a tempestuosa e bela Bárbara. A trama
tem roteiro de Marcello Fontana e desenhos de André Leal, mas também conta com
as participações gráficas de Antônio Cedraz (Turma do Xaxado) e Naara
Nascimento. No panteão do candomblé, fruto do sincretismo religioso brasileiro
e africano, São Jorge é o orixá Oxóssi, o bravo caçador.
Da simplicidade do traço
à criatividade da narrativa, Xaxado retrata a vida rural com todas as suas
lendas e mistérios. São aventuras de um garoto, neto de um famoso cangaceiro
que vivia com o bando de Lampião, às voltas com problemas do dia a dia, junto
com seus pais e amigos. A Turma do Xaxado reúne personagens tipicamente
brasileiros e já recebeu diversos prêmios. PELOURINHO
EM QUADRINHOS (2005), a Turma do Xaxado conta a história deste que é um dos
mais conhecidos e bonitos pontos do Centro Histórico de Salvador, capital da
Bahia. O livro Pelourinho Patrimônio da Humanidade traz muita informação sobre
um dos pontos mais conhecidos de Salvador. Além de contar a história do lugar, traz
referências sobre outros pontos turísticos da capital. O álbum ganhou o Troféu
HQMix, o Oscar dos quadrinhos nacionais, como o melhor álbum infanto-juvenil em
2006.
Romance gráfico ambientado na Salvador de
2049, que perdeu seu nome e é conhecida pelas suas coordenadas geográficas
(-13, -38 ). A história toda se desenrola em um dia da vida de Clarissa Huang,
uma sino-baiana que trabalha com a poesia de Gregório de Mattos. Uma
curiosidade é que o sobrenome da protagonista é uma referência a uma pastelaria
de uma família chinesa do centro de Salvador. Com roteiro de Igor de
Albuquerque e ilustrações de Amine Barbuda, -13, -38: AMANHÃ DE NOVO (2019) foi contemplada pelo edital
Gregórios, da Fundação Gregório de
Mattos, Prefeitura de Salvador. Nas 24 horas em que a narrativa se passa, o
leitor acompanha um dia comum da vida dessa personagem que lida com temas como
o impacto das tecnologias no futuro da humanidade, o impasse filosófico das
realidades virtuais e as reconfigurações da história e das artes. A dupla
criativa responsável pela criação da HQ (Igor e Amine) se inspirou em universos
da ficção científica em diversas linguagens, como o cinema, a literatura e as
artes plásticas, além de discussões acerca dos processos urbanísticos de
Salvador e suas possíveis consequências no futuro.
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