13 fevereiro 2020

Oito HQs ambientadas em Salvador


A trama do desenhista Marcelo Quitanilha,  TUNGSTÊNIO  (2014) tem Cidade Baixa como cenário de um conflito que envolve policiais, X9 e traficantes. “Tungstênio”, que foi publicado no Brasil pela editora Veneta, e depois traduzido e republicado na França. A história, uma comédia de erros, se passa em Salvador e envolve dois policiais, um X9, traficantes e pescadores da Cidade Baixa. Além de prejuízos à fauna e flora marinha, a pesca com bombas na Baía de Todos-os-Santos já deu muita confusão. Nenhuma, porém, tão ensandecida quanto a mostrada na graphic novel de Marcello Quintanilha. Em 2004, Quintanilha esteve na capital baiana para produzir o álbum Cidades Ilustradas: Salvador (Casa 21, 2005). A estadia o marcou profundamente, rendendo ainda um par de HQs no álbum Almas Públicas (Conrad, 2011) e, agora, uma graphic novel inteira: Tungstênio. O livro foi premiado no 43º Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, o mais importante da Europa, na categoria policial. E também foi adaptado para os cinemas pelo diretor Heitor Dhalia, conhecido pelo filme “O Cheiro do Ralo“. O quadrinista é conhecido pelo rigoroso domínio narrativo sequencial, além de um especial interesse em histórias protagonizadas por tipos bem populares: motoristas de ônibus, jogadores de futebol, camelôs.




Batizado como o movimento da capoeira, (2008) conquistou o público leitor carente de personagem baiano. Com desenhos cheios de movimento (traço limpo e dinâmico), diagramação elaborada, trama cativante, Aú o capoeirista agrada baianos, romanos, gregos e americanos, mas o espírito baiano está alí, centrado nos personagens, no ambiente. Flávio canta sua aldeia e mostra ao mundo. A história, ambientada em Salvador, é repleta de aventura, humor, consciência ecológica e mostra o cotidiano do capoeirista mirim Aú e seu inseparável amigo, o macaquinho Licuri. O adolescente investiga o desaparecimento de uma garota francesa sequestrada no Pelourinho ao presenciar o início de um incêndio. A investigação do capoeirista Au o leva à ilha particular do misterioso Armando Confuzionni. A partir daí o leitor vai encontrar muita ação pelas ladeiras do Pelô e outros pontos da cidade, além de uma eletrizante perseguição de jetskis nas águas da Baía de Todos os Santos.




As descobertas sexuais, os tabus e a sexualidade são temas pouco trabalhado nas histórias em quadrinhos brasileiras. O QUARTO AO LADO (2013) é um álbum que mostra as curiosidades, experimentações e diversidades sexuais de jovens e de adolescentes. São três histórias em quadrinhos, e um conto, passadas em cidades da Bahia sobre os relacionamentos afetivos e sexuais entre personagens de diferentes sexualidades. Idealizado pelo roteirista Marcelo Lima, o álbum tem como desenhista principal o ilustrador André Leal, com participações de Daiane Oliveira e Bruno Marcello, além de arte para a capa feita por João Oliveira. Foi patrocinado pelo Fundo de Cultura da Bahia (Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e Fundação Pedro Calmon), e selecionado no Edital de Culturas LGBT.





O trânsito de Salvador é um dos mais congestionado do mundo. Buracos, engarrafamento, falta de fiscalização e estresse. São alguns dos problemas da cidade. Os congestionamentos na cidade são cada vez mais longos. O aumento do número de automóveis não foi seguido por melhorias nas redes viárias e, tampouco, no incentivo a um transporte público de melhor qualidade. Diante desse quadro no presente, os autores Camilo Fróes, Moreno Pacheco e Bruno Marcello mostram Salvador do futuro. Em CIDADE-MOTOR (2016), a primeira incursão dos autores pelo mundo dos quadrinhos, uma Salvador distópica se torna pano de fundo para uma narrativa policial onde os carros viraram casa, o trânsito virou a vida, e a cidade se transformou em via para automóveis. Nesse ambiente, o destino do policial Celso se cruza com o de Moema, jovem da classe média empobrecida. Moema é uma jovem motogirl que se vê emaranhada em um perigoso jogo de interesses depois de sofrer um acidente de trânsito envolvendo dois policiais: um corrupto, do controle de trânsito, e outro, civil e honesto, chamado Celso. E o desfecho desse encontro passará pelas mãos de um grupo radical clandestino que busca medir forças com o poder público de um futuro nem-tão-distante.




BILLY JACKSON (2013) é a primeira investida do escritor Victor Mascarenhas e do desenhista Cau Gomez pelo mundo dos quadrinhos. Originalmente um conto de autoria do próprio Mascarenhas, intitulado Superstar e publicado em 2011 no livro A insuportável família feliz (Editora P55), a trama da HQ se passa nos dias subsequentes à morte de Michael Jackson, quando encontramos Agnaldo, o Billy Jackson, um cover baiano do artista norte-americano, se apresentando no palco do Blue Moon. Deprimido, frustrado e devastado com a perda da sua referência de vida, Agnaldo/Billy tem que enfrentar o palco, o público e uma crise de identidade que o coloca diante de um grande dilema: seguir adiante com sua vida ou imitar seu ídolo num desesperado gesto final?. De leitura ágil, a HQ segue a trajetória do sósia em paralelo à do ídolo. E vai mostrando como o processo de transformações bizarras, decadência e morte precoce se reflete em Agnaldo / Billy. O ousado projeto é publicado pelo selo editorial da RV Cultura e Arte, que aposta arrojadamente no talento de autores baianos e na força de histórias locais, acreditando estar aí um importante ingrediente para a interlocução entre obra e leitor.




A Cidade da Bahia é mágica, povoada por gente de fé, que desde criança escolhe ou é escolhido por um santo e um orixá protetor. Mas neste mesmo cenário de tanto misticismo, e quem vive no bairro da Mata Escura sabe disso, é preciso não só ter fé, mas coragem para seguir a vida. Patrocinado pelo Fundo de Cultura da Secretária de Cultura do Estado da Bahia, SÃO JORGE DA MATA ESCURA (2011) é uma história em quadrinhos de 52 páginas, que conta, através de arquétipos do misticismo religioso baiano, a história de três personagens que habitam a região da Mata Escura (periferia de Salvador): o negro, pobre e virtuoso Jorge, o traficante albino ambicioso Jarcisley e a tempestuosa e bela Bárbara. A trama tem roteiro de Marcello Fontana e desenhos de André Leal, mas também conta com as participações gráficas de Antônio Cedraz (Turma do Xaxado) e Naara Nascimento. No panteão do candomblé, fruto do sincretismo religioso brasileiro e africano, São Jorge é o orixá Oxóssi, o bravo caçador.




Da simplicidade do traço à criatividade da narrativa, Xaxado retrata a vida rural com todas as suas lendas e mistérios. São aventuras de um garoto, neto de um famoso cangaceiro que vivia com o bando de Lampião, às voltas com problemas do dia a dia, junto com seus pais e amigos. A Turma do Xaxado reúne personagens tipicamente brasileiros e já recebeu diversos prêmios. PELOURINHO EM QUADRINHOS (2005), a Turma do Xaxado conta a história deste que é um dos mais conhecidos e bonitos pontos do Centro Histórico de Salvador, capital da Bahia. O livro Pelourinho Patrimônio da Humanidade traz muita informação sobre um dos pontos mais conhecidos de Salvador. Além de contar a história do lugar, traz referências sobre outros pontos turísticos da capital. O álbum ganhou o Troféu HQMix, o Oscar dos quadrinhos nacionais, como o melhor álbum infanto-juvenil em 2006.  


Romance gráfico ambientado na Salvador de 2049, que perdeu seu nome e é conhecida pelas suas coordenadas geográficas (-13, -38 ). A história toda se desenrola em um dia da vida de Clarissa Huang, uma sino-baiana que trabalha com a poesia de Gregório de Mattos. Uma curiosidade é que o sobrenome da protagonista é uma referência a uma pastelaria de uma família chinesa do centro de Salvador. Com roteiro de Igor de Albuquerque e ilustrações de Amine Barbuda, -13, -38: AMANHÃ DE NOVO (2019) foi contemplada pelo edital Gregórios, da  Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura de Salvador. Nas 24 horas em que a narrativa se passa, o leitor acompanha um dia comum da vida dessa personagem que lida com temas como o impacto das tecnologias no futuro da humanidade, o impasse filosófico das realidades virtuais e as reconfigurações da história e das artes. A dupla criativa responsável pela criação da HQ (Igor e Amine) se inspirou em universos da ficção científica em diversas linguagens, como o cinema, a literatura e as artes plásticas, além de discussões acerca dos processos urbanísticos de Salvador e suas possíveis consequências no futuro.



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