05 março 2018

O que há por tras das palavras (01)


Atrás das palavras mais “inocentes” há uma origem bastante “pornográfica” e vice-versa. Há uma quantidade de esforços, interditos, elaborações teológicas, jurídicas, medicinais a que se dedicaram as sociedades humanas para traçar uma linha divisória entre o lícito e o obsceno, entre o pornográfico e o publicável.

A língua é depositária de experiências remotas, tão banalizadas pelo uso cotidiano que perdemos suas motivações originais pelo caminho. Conhecer a história de uma palavra é desvendar um pedaço de uma cultura, da chacota aos insights geniais, dos traços patriarcais à ênfase no papel de homens e mulheres na sociedade.


APARITIVO – Originalmente sinônimo de purgante. Por semelhança fonética com “apetite”, passou a significar tudo aquilo que abre o apetite.


BUNDA – Vem do quimbundo “mbunda”, região glútea.

ENFEZADO – Em princípio, impedir o crescimento de algo, congestionar seu avanço. Tem raiz de “falcas”, dejetos não só de animais. Hoje é aquele que se enche de fezes, se caga, enfada, impacienta ou se irrita.

MERDA – Sinônimo de excremento, a ela a França agregou sentidos à história bélica e teatral. Numa estréia teatral, deseja-se muita merda no camarim para vencer o desejo de encantara platéia.


NÁDEGAS – Era usado pela aristocracia portuguesa, vem si latim “nadica” (*).

ORGASMO – Derivado do grego “órgão” (“eu desejo ardentemente”), Orgasmo é parte da época grega de ver o mundo. “Orgê” significa tanto agitação como irritação, e virou matriz de Orgaon (desejo ardente); por sua vez antepassado de “orgasmo”, essa explosão de prazer.


ORQUÍDEA – Órchis em grego era nome padrão dado aos testículos. E viraram matriz e motriz da frondosa Orquídea. Como as regras dessa planta têm dois tubérculos, dois são os pomos do homem que saem da virilha como se raízes tivessem.

PROSTITUTA – Na Antiguidade tinha os sentidos de “colocar diante”, “expor à venda”, “mercadejar”.

QUENGA – Sinônimo de vasilha, tigela feita com metade da casca de um côco. Depois nomeou a prostituta do Nordeste brasileiro.

SACANA – Originalmente, masturbação feminina nos tempos coloniais brasileiro. Depois o termo passou a ser pessoa dada a libidinagem, masturbadora sim, mas mau caráter também.


TESTEMUNHO – Vem do latim: jurar sobre os testículos. As juras eram empenhadas com a mão sobre o que se tinha de mais precioso, os “testes”, os testículos. Testemunhos da virilidade ganhavam aval jurídico até no Velho Testamento.

VAGINA – Significa literalmente “bainha” em latim vulgar. Os soldados usavam a tiracolo, para guardar suas espadas. Hoje é a versão do hábito de associar a genitália feminina a recipientes para o membro masculino.

(*) Nadegas e bunda ocuparam níveis sociais afastados. O elitizado “nádegas” era usado pela aristocracia portuguesa enquanto que “bunda”  amargou a marginalização dos nomes de origem africana. Mas hoje a bunda derrotou as nádegas.


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