11 novembro 2010

Cordel de Bule Bule

Ele é considerado um legítimo defensor de gêneros musicais nordestinos como das chulas do sertão, cocos, martelos, agalopados, xote, marche de pé-de-serra e repentes. Consegue unir o lado negro e mouro da cultura do sertão com alguns elementos da cultura do Recôncavo. Escritor de cordéis, Bule-Bule é sinônimo de celebração nordestina em alta voltagem, mas desplugado da tomada.


“Cordelista de primeira geração, escritor, poeta, repentista, compositor, Antônio Ribeiro da Conceição, o Mestre Bule Bule, parece ser muitos em um, tantos são os significados do seu trabalho. Talvez porque a essência de tudo o que faz seja mesmo a cultura tradicional do Brasil nordestino, com suas múltiplas faces, mil vezes redesenhadas com as tintas das necessidades e do senso de sobrevivência”, escreveu a gestora cultural Rosiane Oliveira na apresentação do livro Bule Bule Literatura de Cordel.


A obra traz uma coletânea do trabalho literário do artista, com a riqueza dos seus cordéis, aliada as contribuições de alguns outros amigos escritores, estes conquistados ao longo dos seus 40 anos de carreira e de fortalecimento à cultura nordestina e brasileira. A arte de Bule-Bule passa pelo lirismo, mas não abandona a crítica construtiva às injustiças sociais e ao sistema deste Brasil tão bonito e cheio de contraste. Tem a “Saudação a Bule Bule”, versos do poeta Klévisson Vieira por ocasião da posse do mestre na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, e seus cordéis: A Tragedia de Três Amante, O Encontro Sangrento de José Caso Sério com Manoel Qualquer Hora, Irmã Dulce da Bahia – Santa Mãe de todos nós, O Encontro da Aranha com o Reumatismo, O Tremendo Duelo de Quirino Beiçola com Tomaz Tribuzana, Peço pra não Acabar o Raso da Catarina, Judith mulher divina que salvou o marginal, Bimba espalhou capoeira nas praças do mundo inteiro, Chora o Nordeste com a morte de Rodolfo Cavalcante, Beleza de Bule Bule com Zé Maria de Fortaleza e Tancredo foi prestar contas no Tribunal de Jesus.


SAMBA RURAL - Bule-Bule cresceu sob a influência do samba rural do sertão e do Recôncavo, além dos repentes sertanejos. Ele não esconde a paixão pela figura do pai, o tiraneiro Manoel Muniz, que faleceu em 1996, aos 81 anos de idade. Por ele, que era sambador, lhe ensinou as artes e traqueijos da essência sertaneja que ele somou à vivência com os repentistas e seus versos de cordel. Criado numa região que fica na entrada do sertão e próximo ao Recôncavo, Bule-Bule mergulhou no samba rural derivado da região sertaneja, mas com ligeira influência da chula do Recôncavo. Muitos dos camponeses da região de Bule-Bule vão cortar cana-de-açucar quando retornam com a influência da chula típica do Recôncavo, mais sincopada e menos “gritada” do que a chula rural sertaneja.

Escreveu diversos cordéis de tom contemplativo existencial e, também, de cunho político. Fez cordel clamando por liberdade de justiça social durante o regime militar. Cordel de fundo ecológico ele também produziu: “A alma de Lampião resolveu dar um passeio/ Mas achou o Raso feio, não quis nem pisar no chão/ Rezou uma oração sobrevoando a campina/ Apontou a carabina, somente pra ameaçar/ Peço pra não acabar o Raso da Catarina”.


DIVERSOS TRABALHOS - Antônio Ribeiro da Conceição, nome artístico Bule Bule, nasceu no dia 22 de outubro de 1947 no município de Antonio Cardoso. Músico, escritor, compositor, poeta, cordelista, repentista, ator e cantador, ao longo de sua carreira gravou diversos CDs (Cantadores da Terra do Sol, Série Grandes Repentistas do Nordeste, A Fome e a Vontade de Comer, Só Não Deixei de Sambar, Repente não tem Fronteiras e Licutixo), quatro livros editados (Bule Bule em Quatro Estações, Gotas de Sentimento, Um Punhado de Cultura Popular, Só Não Deixei de Sambar), mais de 80 cordéis escritos, participação em vários seminários como palestrante, várias peças teatrais e publicitárias, agraciado pelo Prêmio Colunista, além de milhares de apresentações durante a sua carreira. Atualmente ele é diretor da Associação Baiana de Sambadores e Sambadeiras do Estado da Bahia e da Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel. Recentemente foi premiado com o Prêmio Hangar de Música no Rio Grande do Norte junto com Margareth Menezes e Ivete Sangalo.


Ele fez sua carreira de cantador e sambador circulando pelo interior da Bahia e diversos estados do Nordeste e do Brasil como artista popular e regional. Mesmo com toda essa globalização e tecnologia a arte dessa gente simples não foi totalmente esquecida. Existe a voz dos cantadores e sambadores da zona rural, esquecidos e pouco valorizados, mas prontos para contar e cantar seus casos e causos. Taí Bule Bule, uma lição de vida, de poesia e melodia. Ele semeia sabedoria, uma voz do povo que continua firme.


Quem estiver interessado em adquirir essa coletânea Bule Bule Literatura de Cordel pode encontrar na Biboca Cultural de Bule Bule (Camaçari. Tel: 71-3621-5480 ou 9914-3287) ou mesmo aqui em Salvador na loja Pérola Negra (Canela. Tel: 3336-6997)

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